sexta-feira, 31 de outubro de 2008

Hoje é Dia de Ricardo Coração de Menino, um Leãozinho

Escrever hoje neste espaço, me dá uma alegria redobrada, não só por exercer o meu oficio de blogueiro e de livreiro, como o de registrar o aniversário de meu neto Ricardo; que para os pais é Ricardinho, para os avós paternos, é Ricardão. O que me interessa mesmo é que ele seja gauche na vida, como escreveu Carlos Drummond de Andrade em Alguma Poesia (1930), especialmente em Poema de Sete Faces.
Curto de montão os meus netos, muitos dizem que chego a babar por estar junto com estes dois garotos, incrívelmente levados. Uma ligeira vantagem de ser mais levado, certamente, é conferida para Ramom, mas Ricardo busca também esta identificação por ser também muito levado.
Não deixo de registrar que os dois em nível de comportamento, são bem diferentes, as semelhanças aparecem quando um imita o outro, nesta simbiose, há sem dúvida, atritos na ordem de tapas, socos e mordidas, é um salve-se quem puder. Percebe-se a idéia de posse de qualquer objeto que esteja ao alcance dos olhos e das mãos, de modo que , já é entendida na mais tenra infância através da aplicação no uso do pronome que identifica posse... é Meu para lá e pra cá, passa a ser o diferencial no cotidiano infantil, estabelecendo demarcações do espaço lúdico, de quem tem o objeto sob seu controle, exerce de alguma forma o poder de vetar ou não a participação do outro, no partilhar a brincadeira.
Escrevi pouco para Ricardo, Ramom por ser o primeiro foi contemplado com mais textos, para ele criei várias histórias e o inseri de alguma forma como um dos meus personagens, foi também por reinar durante dois anos de modo absoluto, no entanto,. a presença do irmão abalou os alicerces do reinado de Ramom.
Hoje é festa, e o dono da festa é Ricardo por demonstrar contentamento pelo simpático personagem Shrek, o tema foi presenteado por sua madrinha e tia, decorando a festa. Vai ser a primeira festa em que Ramom não será o protagonista, a do primeiro ano de Ricardo, me parece que não ficou muito claro para Ramom, agora mais velho, vou observar como se comporta.
Ano passado choveu bastante, poucas pessoas puderam comparecer. No momento em que escrevo, o tempo está nublado. Minha madrinha acabou de avisar que não vem, passou há poucos meses por uma delicada cirurgia, é natural e compreensivo que não pudesse comparecer. Tenho sentido muito o que aconteceu com minha madrinha, tenho uma ligação muito estreita com ela, sustentada por carinho, amizade e amor. Das irmãs de minha mãe, é a ultima guerreira, as outras duas mais novas partiram uma atrás da outra num curto espaço de tempo. Minha avó teve 5 filhas e dois homens. Tenho de levantar deste trono e ir à luta, ajudar a montar a festa.
Para Ricardo o vô e vó desejam felicidades eternas, saúde e muito dinheiro no bolso em um futuro que seja radiante e pleno de realizações.





















Jorge Gumbe - Nasceu no ano de 1959, em Dembos, Angola. Vive em Portugal

segunda-feira, 15 de setembro de 2008

Voltei a ser livreiro, virtual e real


Estava sentindo saudades desse meu cantinho, de entrar em contato comigo mesmo, de me olhar no espelho. Fiquem tranqüilos, não é esta à hora de retocar a maquiagem, ou verificar, se a minha barriga, está mais saliente. Já não tenho muita surpresa com que vejo diante de mim. A imagem que tenho me convence de que sou eu mesmo, sob os efeitos do tempo em seus registros de mudança. Sou o que está ali, com os efeitos colaterais da idade.

Sou, vamos dizer o primeiro leitor do que escrevo, no mais, acrescento, os desavisados leitores que aparecem nesse espaço, que com o recurso de uma máquina de calcular, consigo, estimar em mais dois leitores. Aqui, algumas vezes toma as feições de um espelho. Do outro lado do espelho – aliás, título de um romance de Sidney Sheldon, autor bem procurado pelo público feminino - fico rascunhando, escrevendo o que der na telha. Passo algumas horas diante do espelho, mas confesso, não se tratar de nenhum sintoma de narcisismo. Fico apenas o tempo necessário para escrever, reescrever o que pretendo narrar para você, meu caro leitor.

Ausente por estar vivenciando uma nova fase profissional, e para quem não sabe voltei a trabalhar com livros, desta vez, com livros usados. Custei a tomar esta decisão, assim que tomei, foi para ficar. Agora trabalho na rua, “daqui não saio, daqui ninguém me tira “, e na internet., ou seja, casa e rua.

Tenho produzido melhor pela internet, minha oferta de livros é bem maior e alcanço mais gente, atinjo o nosso país de ponta a ponta. A clientela da rua, é mais dispersa são passantes em sua maioria em direção a casa e ao trabalho, sempre com pressa, poucos, são os que param para apreciar os livros expostos. Quando leitores, o consumo de romance, é o de maior incidência. Pretendo aos poucos dar um novo desenho ao espaço e na parte que me cabe neste minifúndio, dar um perfil na área de ciências humanas, fazendo diversificações para atender o público passante. Procuro sempre diversificar o máximo com oferta de livros na faixa de preços de 5 reais; tenho na verdade um mínimo espaço cedido pelo livreiro Alberto Pereira, o Filósofo, em troca tomo conta, ou seja vendo os livros dele e os meus, de modo que, Alberto esteja liberado para fazer as coisas que necessita. Assim vou me virando como posso, no momento “pago” para trabalhar, resultado das despesas que são concretizadas ao ir trabalhar na rua.. A compensação, está nos contatos, na captação de livros, no encontro com pessoas amigas, colegas e professores do IFCS e novos amigos. Na última 5ª feira, recebi um convite para ser colunista do site Supervasco., embora seja um colaborador, contribuindo com comentários e ter sido publicado algumas vezes, agora virou convite oficial Como a maioria sabe, sou vascaíno, aliás, declaração anunciada em meu perfil de blogueiro, não é novidade, novidade é para mim, é encarar uma coluna semanal, ainda não enviei nada, espero produzir algum texto nos próximos dias. Não deixei de avisar que estava envolvido com a venda pela internet e o trabalho de rua, no momento em que tivesse liberado, iria dar o pontapé inicial e começar a produzir textos, crônicas sobre o Vasco.

Tentei, digo tentei, por não me posicionar de modo definitivo como livreiro virtual de um novo site de venda de livros, vinil e cd. Para isto, estou em fase de experiência, se os resultados forem positivos, abrirei um novo canal de vendas, desta vez, nomeei de Esquinas do Tempo .O espaço é para realizar vendas de outros produtos culturais, no caso, iniciamos, eu e Marilene inserindo cds. Interrompemos por ficarmos rondando com a dúvida, se realizarmos vendas, não seríamos surpreendidos com supostos “arranhões” alegados pelos possíveis compradores, o produto dá margem a estas suposições. Preferimos no momento, suspender , não colocando cds,.lps ou mesmo livros, estes são menos afetados, pois, detectaríamos de imediato, qualquer sinal de modificação de seus aspectos formais, assinalando manchas, oxidação, manuseio e os desgastes naturais produzidos pelo tempo. Bom, fico por aqui, o texto, foi se alongando e tornando cansativo, volto o mais rápido possível. Até breve!

quarta-feira, 2 de julho de 2008

Dinamite: A bola está sob os seus pés. Exploda! Mudança já!












Não li a mensagem do dirigente, a mim fosse remetida, o destino, seria sem dúvida a lata de lixo da história. Sua conduta para com os vascaínos sempre foi de desprezo, os que atuavam no campo da oposição eram tratados por chibatadas verbais, aplicava penalidades sem dó. Não se deve portanto, neste momento, encaminhar nenhuma proposta de entendimento, com os vencidos, colaboração ou qualquer outra forma. Dinamite você como político profissional deve por obrigação consultar a base, não é assim que vocês dizem, seria bom saber se ainda são receptivos a sua esdrúxula idéia de preservar a título, quem sabe no futuro, um culto a imagem. do jogador ou do dirigente. Posso adiantar, os vascaínos repeliriam, se com inseticida, não sei. O dirigente causou muitos estragos para a imagem do Vasco, criou uma áurea negativa, uma urucubaca, um estigma ao torcedor vascaíno e ao clube, tanto que o aumento de novos torcedores, mirins ou não, deve ser ínfimo. Acho mesmo, se você veio como imaginamos e desejamos, para encarnar os novos tempos, ou se quiser fazer, faça, se muito, fotos para serem estampadas no Museu. O momento é de dinamitar o que representa esta estátua, não faça nenhum arranjo de composição a pretexto de enaltecer a figura do jogador que simbolizou quer queira ou não um ciclo, que foi rejeitado pelos vascaínos, os tantos que o aprovaram nas urnas, você como o candidato desta mudança, implica de imediato afastar a possibilidade de decepção. Caso contrário pelo que li hoje pela manhã no jornal O Dia, em matéria "Reforço, agora, está difícil", vocês sabiam se não totalmente, pelo menos em parte da penúria financeira do clube.
Neste primeiro momento estou contaminado como vascaíno pela vitória da oposição, que aproveito para parabenizar pela conquista. Há tempos que fiz uma opção pelo não engajamento ao movimento de oposição, participei em tempos passados de algumas reuniões em clubes portugueses na Tijuca, para mim bastou; ultimamente preferi correr em faixa própria, escrever neste espaço, o que me permitiria com mais liberdade me posicionar com maior autonomia, de modo critico, ora, fazendo restrições ao encaminhamento conciliador, e submisso da conduta de Dinamite ao dirigente, que me parecia de endeusamento e de gratidão eterna. Projetava uma imagem distante e cerimoniosa, o tratamento dispensado me parecia com o intuito de não causar nenhum transtorno ao dirigente.
No meu entendimento, Dinamite assume em todos os aspectos uma postura conservadora, de mudar para continuar tudo igual.Cuidado! seu adversário é extremamente agressivo, até o último instante, fez demonstrações sem nenhum pudor; atos que nem gostaria de pensar podem surgir Um novo conceito de mudança tem de fazer parte de seu projeto de administração. Não se deve pensar em conciliação com quem em nenhum momento pensou em conciliação, nem reviu sua postura, pois seu delírio pelo poder, não permitiria tal façanha. Tudo era feito pelo dirigente e por sua camarilha era para ampliar os podres poderes de sua forma de administrar e se perpetuar no clube. O que o homem lutou de modo aguerrido para não largar o osso, não foi brincadeira, tentou e tentou até as últimas conseqüências e atrelado em todas as esferas jurídicas, permanecer, tentou mas não levou.
Dizem que a justiça dos homens tarda, mas não falha, no entanto, se falhasse a divina com certeza, daria um jeito, claro que a nosso favor, daqueles que por diversas formas clamaram por melhores dias e que a esperança fosse o caminho e que a qualquer hora chegaria ao fim esta administração, que estava além da conta, extremamente saturada, nem ele conseguiu levar até o fim. Liberdade, ainda que tardia, chegou para ficar, para abalar e destruir os ranços de uma administração obscura e viciada na mesmice. Não posso deixar de falar sobre o meu clube sem mencionar a gestão do dirigente, ou a sua "simpática" figura.
Um dos grandes equívocos do dirigente foi "aposentar" a camisa 11, em homenagem "eterna" com vínculos de gratidão ao homenageado, esta postura me levou por várias vezes desaprovar tal intento; para piorar concretizou o seu sonho maior de bajulação ao erigir uma estátua a um jogador que por não ter sangue cruzmaltino, não mereceria homenagem desta grandeza. Recebeu uma bela resposta, que acredito que até hoje, aguarda um comunicado do jogador para a despedida. Convenhamos àquela situação em que vivenciou passou para a imprensa a imagem patética do dirigente que muito decepcionado, frustrado apelava para o retorno do "amigo" para a última homenagem, que nem bola passava para o dirigente que sabia mais de qualuqer um sobre o Vasco, sabe tanto que nem percebeu o que o jogador aprontou com ele, ou ele aprontou com o jogador, quem vai saber? O resultado final, deu no que deu. Para mim foi hilária e que foi reforçada pelas previsões ridículas apontadas.
O dirigente no alto de sua sabedoria , nem consultou a torcida, fazia e desfazia com bem entendia, tudo em prol dos "interesses" do Vasco.. O dirigente apenas ouvia a si próprio, quando muito, sua família e os conselheiros que sustentavam esta política, que pelo visto ultimamente em nada beneficiou o Vasco.
Como deputado, ainda bem que não foi reeleito, nunca, pelo menos eu, não consegui traduzir quais e que benefícios, e melhorias trouxe para o clube na tão propalada defesa dos interesses do Vasco, que até outro dia parecia lutar com unhas e dentes para preservar o modelo aplicado ao Vasco, retrógrado, diga-se de passagem. Bastava olhar para os lados, que poderia conclamar os vascaínos que estariam, acredito dispostos a cooperar com o dirigente, em prol da grandeza, da imagem de um clube vitorioso, ligado historicamente a vários segmentos sociais, aliás, o seu olhar, a sua cegueira, apenas enxergava o próprio umbigo.
Gente deste tipo, Caro Roberto Dinamite, nosso honrado presidente, deve se manter à distância, quanto mais longe melhor. Não tem de conciliar com este passado de quem trouxe tanto dissabores. Aquele passado do dirigente, com o apoio de Calçada, teve momentos de glória, mesmo que eu seja critico em relação ao dirigente, reconheço sua contribuição; hoje, encerra apenas uma referência histórica, objeto de pesquisadores dispostos a entenderem o que se passou no Vasco, que muitos vascaínos, parecem nem querer lembrar. Não importa, ele faz parte da história do clube, com acertos e desacertos. Você verá mais adiante com quem e com quantos contará para ajudar nesta tarefa, que deve ser árdua, mas que deve tomar o rumo de desvendar algo se obscuro houver, mostrar a face de São Januário, devemos como vascaínos ter ciência, qual é a verdadeira situação do clube. A transparência deve ser escancarada, mostrar claramente , os interesses defendidos pelo dirigente em nome do Vasco.
Quero lembrar ao meu ídolo, que a sua luta foi pelo poder, por mudança de uma gestão autoritária, retrógrada, extremamente conservadora e controlada a mão de ferro, por uma em que circula novos ares, modernidade, com base na comunhão de vascaínos, estruturada na concepção democrática de poder. Deve se contar, claro, com os vascaínos remanescentes da gestão do dirigente, mas requer cuidados especiais para perceber se alguns foram contaminados pelo vírus. Você como político e o grupo que o sustenta não são ingênuos, não sou favorável uma caça às bruxas, mas se elas existem todo cuidado é pouco. Aproveita use as vassouras para fazer uma assepsia, uma faxina geral. Embora, faça parte de seu discurso conciliador, ser presidente de um clube, não implica em ser bajulador eterno do dirigente, enaltecendo os feitos do passado, sua gratidão que parece ser eterna, o que lhe permitiria mais adiante um convite para o seu "dirigente", assim como quem não quer nada, contar com a prestimosa ajuda, continuando assim, penso, se assim me permite, que a mudança, tão anunciada mudança será abortada em nome da "união" dos vascínos de todas as matizes. Não quero ensinar padre a rezar missa, lembre-se de que alguns vascaínos foram os seus adversários, de modo que, tem muito pouco a acrescentar em sua gestão.
Há pedras no meio do caminho, o técnico atual, representa pelas características sempre anunciadas e enaltecidas como um fraterno e leal amigo do dirigente. Segundo a imprensa, embora, esteja no seu direitos de reivindicar o que lhe cabe neste latifúndio, o técnico, como das outras vezes, anunciadas, trabalharia de graça para o dirigente, não deixou transparecer nenhuma reivindicação trabalhista e agora segundo a imprensa, se dispensado, aliás, acho que deve ser, pois representa a face da antiga direção.
Gosto de Antonio Lopes, no entanto tenho restrições, sei que é um técnico vitorioso, mas infelizmente o vínculo com a administração retrógrada, seria sem dúvida a encarnação do dirigente. Se for o caso, Lopes seja contemplado com o que reivindica, para não gerar no futuro uma reclamação trabalhista, basta as que ocorrem em várias instâncias
Como exercício da democracia, a opinião é livre, como forma de expressar, penso que os entulhos autoritários incrustados no interior de São Januário devem ser retirados, nem devem ser protelados. Enfim, a vitória final chegou, que São Januário receba novos ares, se contar com ajuda de Moraes para saber e identificar qual será a dose de oxigênio administrada, acho que vale a pena. Reclamou que precisa respirar novos ares, e o de São Januário, estava poluído, viciado, contaminando o ambiente. As pessoas tinham uma imagem carrancuda, reproduziam inconscientemente o poderoso da Colina que gostava de anunciar esta singularidade.
O certo é que o Vasco respira e o que o vento que chega até aqui, assopra no sentido de que, agora poderemos ser campeões. A primeira vitória foi conquistada, a próxima, será a faixa de algum campeonato, a bola está sob os seus pés. Aliás, de um artilheiro, Dinamite conhece tudo dentro das quatros linhas, o cheiro de vitória nos campeonatos vai começar... Hoje a festa é nossa, da imensa torcida, e da oposição.

domingo, 4 de maio de 2008

Um lixinho aqui, outro ali e a cidade vai ficando um lixo.
















O Bicho

Vi ontem um bicho
.
Na imundicie do pátio

Catando comida entre os detritos
Quando achava alguma coisa,
Não examinava nem cheirava
Engolia com voracidade.

O bicho não era um cão,

Não era um gato

Não era um rato

O bicho, meu Deus, era um homem.


*Manuel Bandeira(1886-1968), escrito em 27 de dezembro de 1947, incluído em Estrela da vida inteira.

Agora quando começo a escrever escuto alguém varrendo a calçada, aqui em Copacabana, escuto ou presencio alguém varrendo a rua, seja um porteiro ou um varredor da Comlurb. Por mais que estes trabalhadores, conhecidos como garis, façam a sua parte, a população que transita pelo bairro, sejam moradores ou não, muitos deles colaboram firmemente sujando as ruas. Por mais que a calçada ou a rua esteja um “brinco”, em poucos minutos, ficará suja novamente. O ato limpar e sujar são verbos ou ações que são conjugados diuturnamente. Além das ruas que a população gosta de deixar o lixo, há outros espaços que são contemplados pela população deixando todos os tipos de lixo, são: os terrenos baldios, os rios, lagos, lagoas, praças, praias e mar.

Há ainda folhas, galhos, entulhos e terra. Convivemos com muita sujeira em qualquer lugar em que se vá, são detritos espalhados por todos os cantos. Reconheço que hoje houve uma melhora na coleta do lixo, há mais gente envolvida na coleta seletiva, com a forte presença de catadores em um trabalho de reciclagem, há um grande aproveitamento do lixo com separação em orgânico e inorgânico. Sem duvida que a cidade foi transformada em uma grande lixeira, há porcalhões oriundos de diversas condições sociais. Contêineres nas praias são solenemente ignorados pelos banhistas.

Tenho visto pessoas de diversas idades jogando, espalhando o seu lixo pela rua, fingem que nem é com eles, são capazes de ignorar a lixeira e o gari, creio que muitos acham mesmo de enorme inutilidade as lixeiras, que enfeiam tanto as ruas que jogam o lixo muitas vezes do lado de fora dos cestos. Quando presencio cenas desta natureza, fico irritado, perplexo, mas fico calado, não quero gerar nenhum conflito, hoje em dia com tanta violência rondando o nosso cotidiano que é melhor preservar a sua vida, por qualquer coisa um sujeito mata o outro sem pestanejar.

Muitas vezes vi alguém jogando latinhas pela janela de algum veiculo, percebo que o sujeito quer se livrar deste incomodo e atira o lixo mirando na rua. Acho que ficam orgulhosos deste gesto. Lembro que quando viajava pelo metrô nos anos 90, o comportamento dos usuários deste tipo de transporte considerado como o mais limpo do mundo, era uma verdade, com a ampliação das estações, com o transito maior de passageiros nos vagões, a sujeira tomou maior volume, tanto que recolhem toneladas de lixo no final do mês, mesmo assim, é bem limpo.

Acredito que a diminuição do lixo jogado na rua, um espaço publico por excelência, estaria ligada a mudança de hábitos, cuja participação da sociedade, motivada por uma conscientização coletiva, seria o caminho, que pode ser alcançado através de divulgação maciça na mídia. Nos registros de minhas lembranças, recordo do personagem Sugismundo de cunho educativo que circulava pela tv na década de 70, que sustentava a idéia de “povo desenvolvido é povo limpo” produziu algum efeito, mas de curta duração, no entanto, vejo dificuldades para qualquer perspectiva de mudança, pois é um habito arraigado nas pessoas de difícil remoção.

Convém lembrar que o comércio informal com suas bancadas espalhadas, os ambulantes, geram muito lixo, poucos conseguem recolher os lixos produzidos por suas atividades, lembro que os trabalhadores informais privatizam o espaço público de modo desordenado e autoritário, dificultando e estreitando em cada vez mais o espaço destinado a pedestres.

Em minha rua durante a noite, noto a intolerância de motoristas em seus carros buzinando loucamente, irritados, gritam e xingam o pessoal que trabalha no caminhão de limpeza que para fazer a coleta domiciliar inevitavelmente impedem a passagem de outros veículos. Motoristas alucinados fazem questão de não reconhecer o trabalho dos outros, buzinam insistentemente para pedir passagem, não avaliam que ao fazer este barulho, perturbam os demais moradores em suas residências, acham que podem importunar os outros, mas que não aceitam sob hipótese alguma serem atrapalhados, ainda mais por um caminhão da limpeza urbana.

A sujeira deixada pelo cachorro, não me foge a idéia que flagro neste momento de que parte desta população que joga lixo no chão, que suja a cidade, expõe uma questão importante que é a ausência da educação, embutido muitas vezes em preconceito social, da consciência do espaço público. De nada adianta colocar avisos, isto não provoca vergonha para quem suja, pelo contrario faz com que ele reclame da atitude do outro, da sujeira da cidade, do entupimento, das ruas alagadas.

O bairro de Copacabana as ruas continuam sujas, com a prestimosa colaboração dos panfleteiros que mesmo proibidos, continuam a distribuir seus panfletos, alias no sábado vi na esquina da Rua Santa Clara, um grupo de moças e rapazes distribuindo panfletos, todos identificados com as lojas próximas; vi um senhor amassar um papel e jogar no chão ao receber de uma das moças, no entanto, para a minha admiração a moça abaixou-se e recolheu o papel. A cada dia a população que transita pelo bairro, sem esquecer os moradores de rua, produz mais lixo, que por sua vez, pode entupir bueiros, provocar enchentes. O lixo é um problema que gera agressão ambiental, se olharmos para as praias, rios e lagoas. Acho que a prefeitura através da Comlurb tem feito um bom trabalho, mas que fica tremendamente prejudicado por vários fatores que basicamente norteiam o comportamento das pessoas que ainda se mostram refratarias a colaborar na limpeza dos espaços públicos, uma delas é a preguiça de procurar uma lixeira.

Para mim está claro, além do hábito, está à noção, de que alguém vai limpar, é produzido muitas vezes no interior da casa ao deixar para os pais limparem ou a empregada. Se na escola suja, tem a faxineira que faz; se na rua suja, o lixeiro está aí para isso. Vai haver sempre alguém em condição social inferior para fazer a limpeza.

Um estudo do psicólogo social Fernando Braga da Costa, que defendeu o mestrado na USP em 2002: Gari – Um estudo de psicologia sobre invisibilidade pública, publicado em livro pela Globo com o título: Homens Invisíveis – Relatos de uma humilhação social. A experiência e os relatos de Fernando, no papel de gari, trabalhando no campus da USP, é muito interessante, tive conhecimento de parte de sua tese, há muito tempo e circulava pela internet, veio à tona, no final dos anos 90. Ao começar a escrever este post, lembrei também da poesia O Bicho publicada em dezembro de 1947, incluída na obra poética completa de Manuel Bandeira, A Estrela da Vida Inteira, editado pela Nova Fronteira.




Antonio Berni - Nasceu em Rosário, Argentina, em 1905 e faleceu em outubro de 1981

domingo, 27 de abril de 2008

O Louco da Colina - Final





Depois de muito tempo, passado anos e anos, o paciente Sapão como também ficou conhecido no hospício o Louco da Colina, ganhou contra a sua vontade através de numerosos abaixo-assinados de pacientes de todos os pavilhões pedidos à direção do hospício para que o mandasse de volta para casa.Que nunca mais para ali voltasse. Conseguiram após muita luta, pois resistia com unhas e dentes, em muito qualquer tentativa de transferência. Ninguém mais suportava a presença dele no hospício, era muito danosa ao ambiente hospitalar. A leitura de um manifesto contra a sua permanência no local, desencadeou protestos em tudo que era lugar, incendiando os ânimos. Havia cerca de 1950 internos protestando contra o Louco da Colina. Formou-se uma imensa torcida contra o Sapão. Hei Sapão, a tua hora vai chegar! Foi uma loucura geral no sanatório. Não havia mais clima para a sua permanência, devido aos mandos e desmandos, achando que tudo que estava a sua volta, era dele. Ninguém poderia contrariar que partia para cima, passar perto da árvore que ele ficava agachado e alisando por horas, era um problema cada vez maior. Sua primeira reação era lançar um olhar de fúria e com a boca espumando agredia com tapas e socos os internos. Ficava muito irado. Resistia a qualquer ordem superior, ignorava solenemente.

No final da tarde Dr. Simão pressionado pelos internos, foi procurar a ficha do paciente e não encontrou no arquivo, havia sumido. Procuraram por todos os lugares, sobrou apenas um papel encontrado na lixeira da enfermaria do segundo andar, que lhe possibilitou garantir a alta do paciente. O interno do Pavilhão Nove ao ganhar liberdade, foi um alivio para todos no hospício Uma comissão de internos de imediato preparou uma noitada de samba. Tilde Peito de Melão pulou de alegria e a cerca, com mais oito internas. Vovó Sinhá uma das mais antigas da Ala das Mulheres, não estava disposta a ir, não gostava de samba, curtia muito funk. Todos a partir daquele dia viveram uma vida normal no hospício.

sábado, 26 de abril de 2008

Silêncio, os cachorros estão latindo.











Não estamos no mês de agosto, mas com toda a certeza, o cachorrinho da vizinha é louco, late o tempo todo e a qualquer hora do dia. Como tenho escrito ultimamente durante a madrugada para fugir um pouco do barulho de Copacabana, sou testemunha nestas horas da presença dos neuróticos cachorros da vizinhança, que latem sem parar. Há latidos e uivos diversos produzidos por diferentes raças de cachorros, mas com certeza é um animal de pequeno porte. Não tenho conseguido identificar pelos latidos, qual seria a raça do cachorro que acabam com um momento silencioso da noite. Claro que os animais não são os únicos que fazem barulho, há outros sons urbanos, que são irritantes. Aliás, os latidos estão incorporados ao cotidiano da vida urbana, como é o caso do bairro onde moro.

Fomos donos (eu, a companheira e o filho) de um cachorro vira-latas que viveu por dezessete anos, durante toda a sua existência procuramos minimizar bastante os seus latidos, claro que alguns fogem do controle, é instinto do animal se comunicar de algum jeito, daí os latidos que podem significar várias coisas. Cabe ao dono educar o animal. É possível com o passar dos anos o meu grau de neurose tenha aumentado em muito, entendo, que não seria capaz de conviver com um animal latindo o tempo todo ao meu lado, sem passar por uma reação, afinal não estou isolado, vivo em prédio e em uma área urbana.

Gosto de animais, depois que Kim morreu; decidimos, eu e a companheira, não teríamos mais nenhum cachorro, digo cachorro, por ser esta a nossa preferência, em vez de gatos, ou passarinhos.

Fico espantado e muito irritado com a capacidade das pessoas de não se tocarem que o animal que tem sobre os seus cuidados perturba, senão a vizinhança, pelo menos um dos seus vizinhos. Muitas pessoas não entendem que o direito delas termina onde começa o do outro. Acho que estão cegamente convencidos de que os latidos do totó, senão incomoda a elas, aos outros muito menos. Admito que as vizinhas dentro de um modelo individualista de pensar as relações sociais poderiam me recomendar que os incomodados que se mudem.

Entendo que a população canina de Copacabana é numerosa, outro dia, de bobeira na janela, observei que é constante o movimento de cachorros com os seus donos pelas calçadas de ambos os lados. Quando caminho pelo calçadão observo, a presença de caninos. Não há um grande intervalo sem passar algum cachorro, sem ouvir latidos e brigas entre eles. A orla de Copacabana é uma festa para os bichos e seus donos. Em períodos momesco há o surgimento do Blocão, um bloco de carnaval animado para os donos e seus respectivos animais. Há sempre atividades no bairro envolvendo a turma de quatro patas.

Quando tivemos o Kim sempre quando o levávamos para passear, pegávamos o jornal para ser utilizado no momento necessário. Em Botafogo foi o bairro que moramos quando Kim era um filhote, o uso do jornal pelas ruas do bairro gerava elogios dos passantes. Ouvi algumas vezes elogios de pessoas de dentro dos carros. Isto era no final dos anos 70 e começo dos 80. Respeitamos sempre o espaço alheio, principalmente a calçada, pois, conduzíamos um animal; depois vieram campanhas educativas, que contaminou um pouco os donos de animais, passaram a usar sacos e jornais. Vejo que há muitas pessoas que deixam os seus animais fazerem suas necessidades pelas calçadas, nem ligam para o próximo, acham que sempre terá alguém para limpar o que sujou e que a condição social de quem limpará é inferior à deles. Já vi olhares de censura para este tipo de pessoa que estão acima de qualquer mortal, mas que continuam desrespeitando o próximo, não se tocam, são refratários. Nem falo dos que andam sem coleiras e guias, como o caso de pit-bull, rottweiler e fila. Os jovens senhores donos destes cachorros ignoram qualquer regra, qualquer lei, alguns são tão ferozes quanto os seus animais. Sou um dos que desde pequeno não tinha medo de cachorro, mas de uns tempos para cá, fico apreensivo em esbarrar com estes agressivos animais, o noticiário a respeito reforça em mim, uma preocupação que, aliás, ninguém deve perder de vista.

Interrompi a publicação da finalização de um dos meus contos para abordar um dos assuntos que chama a minha atenção enquanto morador de um bairro com grande contingente de moradores produzindo os mais variados ruídos. Fica difícil proclamar qualquer garantia de sossego, fica inviável, usufruir momentos de silêncio.





Domingos Alvarez - Pintor Galego

sexta-feira, 25 de abril de 2008

O Louco da Colina - Parte 4









- Você é doido demais! Louco varrido. Preciso ir, estão me esperando lá fora. Vai rolar muita festa.

- Não vá embora, dou tudo isto aqui para você. Prometo fincar aquele tronco para sempre. Olha como está bonito. “Ai que vontade de te ver, te abraçar e te beijar, te amassar e te beijar.” Você é a minha razão de viver.

- Este lugar não é a sua propriedade, você tem muitas outras propriedades, esta não é sua. Você veio a fim de conversar com o diretor e passar um período neste aprazível lugar. Me solta, me deixa. Estou livre. Encerrei, não dá mais. Minha vida agora é em outro planeta e você sabe muito bem onde que é, somos de lá.

- Tá doido diabo, fala baixo, quer estragar tudo. Você está redondamente enganado, isto aqui é meu. É meu! É meu! É meu! Quem manda aqui sou eu e ninguém mais. Esbravejava cada vez mais alto. Parou de gritar por uns instantes para cheirar o sovaco. Cada louco com a sua mania e a minha é gostar de você, de cheirar e lamber sovaco, chutar cachorro morto e fazer previsões furadas.

- Professor escuta. Chega mais perto, daqui dá para ver e escutar. É o Louco da Colina, está perto daquele homem nú, acocorado, que lê a bíblia, ao lado de Tião Medonho. - Professor, ainda não viu? Olhando mais a direita, vê a Matilde Peito de Melão namorando embaixo da escada, passa daquele maluco metido a besta falando para as paredes, um que está em pé no pátio com as mãos na cintura, passou a imitar a Carmem Miranda, não é o que está atrás dele, este o Dedé Rola Pequena que está sempre com uma gravata de garçom no pescoço, com uma cigarrilha apagada no canto da boca, é o mesmo que namorava a pouco, embaixo da escada. Assim que ele vê a Tilde, vão para embaixo da escada. Fazem amor até de madrugada, depois cada vai para um canto dormir.

- Já vi, é um homem fantasiado com uma roupa verde, muito gordo, com uma cartola na cabeça.

- Sim, é este mesmo.

- Quando passei por ele, xingava muito, bufava, soltando fumaça pelas ventas, está muito agitado, grita e baba muito, alguém o contrariou. Vi que ele conversava com um homem baixinho e careca, trajando camisa preta e vermelha. Só vi o cara dando uma corrida parecia com um foguete à impressão é de que estava atrasado, mas saiu tão rápido, achei que ia partir para outro planeta.

Dois dias depois. Era noite, alguns dormiam ao relento, outros em camas beliches. Pinduca era um dos loucos mais respeitados no manicômio, fora recolhido na rua, andava perambulando. Foi músico, perdeu família, emprego, viciado em drogas. Andava todo rasgado, como se fosse um hippie. Depois que veio para cá, passa o dia tocando violão, fica tomando sol, a tarde gostar de pregar no meio da praça sobre a reforma psiquiátrica e a noite fica em cima do telhado, uivando para a lua.

Era bem tarde da noite, com poucas luzes acesas, dali percebeu uma movimentação estranha, era um homem vestido de verde fazendo o maior qüiproquó no salão, dava tapas e cascudos, mordia a orelha de quem o perturbasse. Expulsou todos que estavam ali. Eu sou o dono do mundo, deste lugar, tudo que está aqui é meu, empurrou violentamente contra a parede e desfechando seguidos pontapés nas canelas do Dmitrievitch, mais conhecido como Dmitri ou Gringo da ala E, tudo porque havia acabado de contrariar o homem vestido de sapo. Dmitri ficava sempre vestido com roupa de guerrilheiro, embaixo do braço, um album de fotografias dos amigos desaparecidos,foi um militante político muito combativo do Movimento Revolucionário, muito querido no hospício, era um revolucionário com a mania de ser Che Guevara. Lutava pela libertação dos povos latinos.

Pela manhã, Doutor Simão mal chegou à Casa Verde, foi interrompido no corredor para uma conversa com Dona Neide, narrando o que aconteceu na noite anterior com o paciente da ala E do Pavilhão Nove, o tumulto que fez, quis bater em todo mundo, gritava que isto aqui é dele e de mais ninguém. É um louco furioso, disse examinando o prontuário com um ar de preocupação, precisa de um neuroléptico sedativo. Doutor Simão o remédio está em falta, chega no ultimo dia útil do mês que vem. Vamos colocar na cela de castigo. – Dona Neide, por favor, chame o enfermeiro Leandrão. - Não posso doutor, faltou ao trabalho. Deixou recado dizendo que ganha muito pouco e vai para outro hospital particular ganhar muito mais.