sexta-feira, 25 de abril de 2008

O Louco da Colina - Parte 4









- Você é doido demais! Louco varrido. Preciso ir, estão me esperando lá fora. Vai rolar muita festa.

- Não vá embora, dou tudo isto aqui para você. Prometo fincar aquele tronco para sempre. Olha como está bonito. “Ai que vontade de te ver, te abraçar e te beijar, te amassar e te beijar.” Você é a minha razão de viver.

- Este lugar não é a sua propriedade, você tem muitas outras propriedades, esta não é sua. Você veio a fim de conversar com o diretor e passar um período neste aprazível lugar. Me solta, me deixa. Estou livre. Encerrei, não dá mais. Minha vida agora é em outro planeta e você sabe muito bem onde que é, somos de lá.

- Tá doido diabo, fala baixo, quer estragar tudo. Você está redondamente enganado, isto aqui é meu. É meu! É meu! É meu! Quem manda aqui sou eu e ninguém mais. Esbravejava cada vez mais alto. Parou de gritar por uns instantes para cheirar o sovaco. Cada louco com a sua mania e a minha é gostar de você, de cheirar e lamber sovaco, chutar cachorro morto e fazer previsões furadas.

- Professor escuta. Chega mais perto, daqui dá para ver e escutar. É o Louco da Colina, está perto daquele homem nú, acocorado, que lê a bíblia, ao lado de Tião Medonho. - Professor, ainda não viu? Olhando mais a direita, vê a Matilde Peito de Melão namorando embaixo da escada, passa daquele maluco metido a besta falando para as paredes, um que está em pé no pátio com as mãos na cintura, passou a imitar a Carmem Miranda, não é o que está atrás dele, este o Dedé Rola Pequena que está sempre com uma gravata de garçom no pescoço, com uma cigarrilha apagada no canto da boca, é o mesmo que namorava a pouco, embaixo da escada. Assim que ele vê a Tilde, vão para embaixo da escada. Fazem amor até de madrugada, depois cada vai para um canto dormir.

- Já vi, é um homem fantasiado com uma roupa verde, muito gordo, com uma cartola na cabeça.

- Sim, é este mesmo.

- Quando passei por ele, xingava muito, bufava, soltando fumaça pelas ventas, está muito agitado, grita e baba muito, alguém o contrariou. Vi que ele conversava com um homem baixinho e careca, trajando camisa preta e vermelha. Só vi o cara dando uma corrida parecia com um foguete à impressão é de que estava atrasado, mas saiu tão rápido, achei que ia partir para outro planeta.

Dois dias depois. Era noite, alguns dormiam ao relento, outros em camas beliches. Pinduca era um dos loucos mais respeitados no manicômio, fora recolhido na rua, andava perambulando. Foi músico, perdeu família, emprego, viciado em drogas. Andava todo rasgado, como se fosse um hippie. Depois que veio para cá, passa o dia tocando violão, fica tomando sol, a tarde gostar de pregar no meio da praça sobre a reforma psiquiátrica e a noite fica em cima do telhado, uivando para a lua.

Era bem tarde da noite, com poucas luzes acesas, dali percebeu uma movimentação estranha, era um homem vestido de verde fazendo o maior qüiproquó no salão, dava tapas e cascudos, mordia a orelha de quem o perturbasse. Expulsou todos que estavam ali. Eu sou o dono do mundo, deste lugar, tudo que está aqui é meu, empurrou violentamente contra a parede e desfechando seguidos pontapés nas canelas do Dmitrievitch, mais conhecido como Dmitri ou Gringo da ala E, tudo porque havia acabado de contrariar o homem vestido de sapo. Dmitri ficava sempre vestido com roupa de guerrilheiro, embaixo do braço, um album de fotografias dos amigos desaparecidos,foi um militante político muito combativo do Movimento Revolucionário, muito querido no hospício, era um revolucionário com a mania de ser Che Guevara. Lutava pela libertação dos povos latinos.

Pela manhã, Doutor Simão mal chegou à Casa Verde, foi interrompido no corredor para uma conversa com Dona Neide, narrando o que aconteceu na noite anterior com o paciente da ala E do Pavilhão Nove, o tumulto que fez, quis bater em todo mundo, gritava que isto aqui é dele e de mais ninguém. É um louco furioso, disse examinando o prontuário com um ar de preocupação, precisa de um neuroléptico sedativo. Doutor Simão o remédio está em falta, chega no ultimo dia útil do mês que vem. Vamos colocar na cela de castigo. – Dona Neide, por favor, chame o enfermeiro Leandrão. - Não posso doutor, faltou ao trabalho. Deixou recado dizendo que ganha muito pouco e vai para outro hospital particular ganhar muito mais.

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