quinta-feira, 6 de dezembro de 2007

Durma com um barulho destes.









O barulho que sinto aqui em casa parece ser infernal, muito irritante dada propagação de sons das mais variadas emissões e distâncias. Tenho impressão que vivo cercado de sons por todos os lados em qualquer hora e dia da semana. Latidos e buzinas são alguns dos participantes ativos desta louca orquestração. No meio deste caos, o canto de um pássaro se faz presente. Um sabiá, um Bem-Te-Vi ou mesmo o chiado de um pardal, é um alivio temporário para os nossos ouvidos.

Os sons invasivos, ruídos que ficam incorporados ao meu dia a dia, elevando minha irritação. Vivemos no gozo de uma alta poluição sonora. Há um permanente barulho de obras nos condomínios e como fazem obras. O agradável som das britadeiras está presente em meu cotidiano. Alguém pode gritar para mim e dizer que isto é o som do progresso das cidades, dos bairros, das ruas. Com desordem e barulho vamos progredindo e modificando a paisagem urbana. A cidade está em movimento e o barulho é a prova contundente de que há transformação do cenário urbano. Aos poucos não sei se vamos habituando com os barulhos que são incorporados nos espaços da cidade.

Uma das que colabora seriamente para este estado de coisas é o barulho que faz a vizinha do andar superior, ao andar, ao descer as escadas, arrastar móveis em qualquer horário do dia, latidos de seu cachorro, portas batendo, tudo que faça barulho de modo estridente, como a limpeza de louças e talheres ou mesmo as batidas dadas nas carnes no preparo de sua comida, ela sabe fazer e faz bem alto. Para atender ao telefone sempre corre de um lugar a outro, mas outro dia, gerou uma dúvida em mim, se ela trotava ou corria como ela não pertence ao mundo dos animais, fiquei convencido de que ela realmente corria.

Copacabana é um bairro por excelência muito barulhento, seja na rua, nos bares ou nas residências. Na parte da noite, durante a coleta de lixo, é o momento de se configurar a impaciência, a intolerância com a obstrução temporária da rua pelo caminhão quando é abastecido dos lixos residenciais. Há dias em que as buzinas e os xingamentos são as armas preferidas para serem lançadas contra os trabalhadores da limpeza urbana. É bom registrar que o barulho produzido pelo caminhão ao processar o lixo, é de endoidecer, parece que a manutenção é precária, daí os ruídos. Estes motoristas só pensam neles, não se importam se há moradores em suas casas ou pessoas transitando pelas ruas, querem é buzinar de modo insistente para demonstrar o quanto são importantes e estão sendo incomodados pelo caminhão da limpeza. Não suportam a presença grupo de trabalhadores, ainda mais estão em seus ofícios hierarquizados socialmente de modo depreciativo. Não reconhecem a importância da coleta de lixo. Muitos motoristas impacientes exteriorizam verbalmente este distanciamento social.

São tão boçais estes motoristas em seus carros que demonstram verdadeiramente uma violência contra o que está atrapalhando a passagem destes educados motoristas. São incapazes de perceber a necessidade da coleta de lixo e o melhor horário teria de ser noturno; quando havia recolhimento do lixo na parte da manhã ou tarde era o mesmo tipo de resposta, buzinas e xingamentos. Alguns mais exaltados partem para cima dos trabalhadores, desafiando-os.

Em alguns lugares do bairro podemos escutar barulhos de intensos tiroteios nos morros da cidade, ou melhor, como preferem atualmente chamar de modo eufônico de comunidades. Trocas de tiros regem um dos sons da cidade. Pior que atinge uma platéia que não está disposta a participar destes eventos belicosos. Somos alvos preferenciais das balas perdidas.

Tudo contribui para o nosso ensurdecimento, o barulho do transito caótico, as eternas obras destas concessionárias, o apito do guarda, nem sei quantos decibéis são produzidos e permitidos. Mesmo se eu soubesse de nada adiantaria o barulho não ia deixar de existir pelo simples fato de ter ciência dele. Um dos sérios contribuintes para perturbar o sono, é o zumbido dos pernilongos e outros insetos. Sinais de garagem são incomodativos. Já tive cachorro e sei que incomoda.

Um dos sons que ouço com prazer quer dizer o barulho é da alegria contagiante que fazem meus netos, é nitroglicerina pura de felicidade. Ricardo tem se mostrado mais vibrante, grita com mais estardalhaço do que o irmão, quando aparecem em nossa casa.

Na minha rua aparecem estranhas figuras transitando pelas calçadas, um deles é um que está convencido de que é um cantor e abre o bico bem alto, cantando música de cantores populares. Seu maior hit é a música de Leonardo “Pense em mim”. Esta exibição acontece pelas manhãs.

Enfim, durma-se com um barulho destes.

* Imagem: Mário Cesariny - Pintor e Poeta, considerado por muitos como o maior representante do surrealismo português. Nasceu em Lisboa em 9 de agosto de 1923 e faleceu em Lisboa em 26 de novembro de 2006.

Um comentário:

Lia Noronha disse...

Wilton: o ramm e o Ricardo devem estar curtindo várias dessa histórias,nao é mesmo?
Bjins d ebom fim de semana pr avc e sua maravlilhosa família.