sexta-feira, 31 de outubro de 2008

Hoje é Dia de Ricardo Coração de Menino, um Leãozinho

Escrever hoje neste espaço, me dá uma alegria redobrada, não só por exercer o meu oficio de blogueiro e de livreiro, como o de registrar o aniversário de meu neto Ricardo; que para os pais é Ricardinho, para os avós paternos, é Ricardão. O que me interessa mesmo é que ele seja gauche na vida, como escreveu Carlos Drummond de Andrade em Alguma Poesia (1930), especialmente em Poema de Sete Faces.
Curto de montão os meus netos, muitos dizem que chego a babar por estar junto com estes dois garotos, incrívelmente levados. Uma ligeira vantagem de ser mais levado, certamente, é conferida para Ramom, mas Ricardo busca também esta identificação por ser também muito levado.
Não deixo de registrar que os dois em nível de comportamento, são bem diferentes, as semelhanças aparecem quando um imita o outro, nesta simbiose, há sem dúvida, atritos na ordem de tapas, socos e mordidas, é um salve-se quem puder. Percebe-se a idéia de posse de qualquer objeto que esteja ao alcance dos olhos e das mãos, de modo que , já é entendida na mais tenra infância através da aplicação no uso do pronome que identifica posse... é Meu para lá e pra cá, passa a ser o diferencial no cotidiano infantil, estabelecendo demarcações do espaço lúdico, de quem tem o objeto sob seu controle, exerce de alguma forma o poder de vetar ou não a participação do outro, no partilhar a brincadeira.
Escrevi pouco para Ricardo, Ramom por ser o primeiro foi contemplado com mais textos, para ele criei várias histórias e o inseri de alguma forma como um dos meus personagens, foi também por reinar durante dois anos de modo absoluto, no entanto,. a presença do irmão abalou os alicerces do reinado de Ramom.
Hoje é festa, e o dono da festa é Ricardo por demonstrar contentamento pelo simpático personagem Shrek, o tema foi presenteado por sua madrinha e tia, decorando a festa. Vai ser a primeira festa em que Ramom não será o protagonista, a do primeiro ano de Ricardo, me parece que não ficou muito claro para Ramom, agora mais velho, vou observar como se comporta.
Ano passado choveu bastante, poucas pessoas puderam comparecer. No momento em que escrevo, o tempo está nublado. Minha madrinha acabou de avisar que não vem, passou há poucos meses por uma delicada cirurgia, é natural e compreensivo que não pudesse comparecer. Tenho sentido muito o que aconteceu com minha madrinha, tenho uma ligação muito estreita com ela, sustentada por carinho, amizade e amor. Das irmãs de minha mãe, é a ultima guerreira, as outras duas mais novas partiram uma atrás da outra num curto espaço de tempo. Minha avó teve 5 filhas e dois homens. Tenho de levantar deste trono e ir à luta, ajudar a montar a festa.
Para Ricardo o vô e vó desejam felicidades eternas, saúde e muito dinheiro no bolso em um futuro que seja radiante e pleno de realizações.





















Jorge Gumbe - Nasceu no ano de 1959, em Dembos, Angola. Vive em Portugal

segunda-feira, 15 de setembro de 2008

Voltei a ser livreiro, virtual e real


Estava sentindo saudades desse meu cantinho, de entrar em contato comigo mesmo, de me olhar no espelho. Fiquem tranqüilos, não é esta à hora de retocar a maquiagem, ou verificar, se a minha barriga, está mais saliente. Já não tenho muita surpresa com que vejo diante de mim. A imagem que tenho me convence de que sou eu mesmo, sob os efeitos do tempo em seus registros de mudança. Sou o que está ali, com os efeitos colaterais da idade.

Sou, vamos dizer o primeiro leitor do que escrevo, no mais, acrescento, os desavisados leitores que aparecem nesse espaço, que com o recurso de uma máquina de calcular, consigo, estimar em mais dois leitores. Aqui, algumas vezes toma as feições de um espelho. Do outro lado do espelho – aliás, título de um romance de Sidney Sheldon, autor bem procurado pelo público feminino - fico rascunhando, escrevendo o que der na telha. Passo algumas horas diante do espelho, mas confesso, não se tratar de nenhum sintoma de narcisismo. Fico apenas o tempo necessário para escrever, reescrever o que pretendo narrar para você, meu caro leitor.

Ausente por estar vivenciando uma nova fase profissional, e para quem não sabe voltei a trabalhar com livros, desta vez, com livros usados. Custei a tomar esta decisão, assim que tomei, foi para ficar. Agora trabalho na rua, “daqui não saio, daqui ninguém me tira “, e na internet., ou seja, casa e rua.

Tenho produzido melhor pela internet, minha oferta de livros é bem maior e alcanço mais gente, atinjo o nosso país de ponta a ponta. A clientela da rua, é mais dispersa são passantes em sua maioria em direção a casa e ao trabalho, sempre com pressa, poucos, são os que param para apreciar os livros expostos. Quando leitores, o consumo de romance, é o de maior incidência. Pretendo aos poucos dar um novo desenho ao espaço e na parte que me cabe neste minifúndio, dar um perfil na área de ciências humanas, fazendo diversificações para atender o público passante. Procuro sempre diversificar o máximo com oferta de livros na faixa de preços de 5 reais; tenho na verdade um mínimo espaço cedido pelo livreiro Alberto Pereira, o Filósofo, em troca tomo conta, ou seja vendo os livros dele e os meus, de modo que, Alberto esteja liberado para fazer as coisas que necessita. Assim vou me virando como posso, no momento “pago” para trabalhar, resultado das despesas que são concretizadas ao ir trabalhar na rua.. A compensação, está nos contatos, na captação de livros, no encontro com pessoas amigas, colegas e professores do IFCS e novos amigos. Na última 5ª feira, recebi um convite para ser colunista do site Supervasco., embora seja um colaborador, contribuindo com comentários e ter sido publicado algumas vezes, agora virou convite oficial Como a maioria sabe, sou vascaíno, aliás, declaração anunciada em meu perfil de blogueiro, não é novidade, novidade é para mim, é encarar uma coluna semanal, ainda não enviei nada, espero produzir algum texto nos próximos dias. Não deixei de avisar que estava envolvido com a venda pela internet e o trabalho de rua, no momento em que tivesse liberado, iria dar o pontapé inicial e começar a produzir textos, crônicas sobre o Vasco.

Tentei, digo tentei, por não me posicionar de modo definitivo como livreiro virtual de um novo site de venda de livros, vinil e cd. Para isto, estou em fase de experiência, se os resultados forem positivos, abrirei um novo canal de vendas, desta vez, nomeei de Esquinas do Tempo .O espaço é para realizar vendas de outros produtos culturais, no caso, iniciamos, eu e Marilene inserindo cds. Interrompemos por ficarmos rondando com a dúvida, se realizarmos vendas, não seríamos surpreendidos com supostos “arranhões” alegados pelos possíveis compradores, o produto dá margem a estas suposições. Preferimos no momento, suspender , não colocando cds,.lps ou mesmo livros, estes são menos afetados, pois, detectaríamos de imediato, qualquer sinal de modificação de seus aspectos formais, assinalando manchas, oxidação, manuseio e os desgastes naturais produzidos pelo tempo. Bom, fico por aqui, o texto, foi se alongando e tornando cansativo, volto o mais rápido possível. Até breve!

quarta-feira, 2 de julho de 2008

Dinamite: A bola está sob os seus pés. Exploda! Mudança já!












Não li a mensagem do dirigente, a mim fosse remetida, o destino, seria sem dúvida a lata de lixo da história. Sua conduta para com os vascaínos sempre foi de desprezo, os que atuavam no campo da oposição eram tratados por chibatadas verbais, aplicava penalidades sem dó. Não se deve portanto, neste momento, encaminhar nenhuma proposta de entendimento, com os vencidos, colaboração ou qualquer outra forma. Dinamite você como político profissional deve por obrigação consultar a base, não é assim que vocês dizem, seria bom saber se ainda são receptivos a sua esdrúxula idéia de preservar a título, quem sabe no futuro, um culto a imagem. do jogador ou do dirigente. Posso adiantar, os vascaínos repeliriam, se com inseticida, não sei. O dirigente causou muitos estragos para a imagem do Vasco, criou uma áurea negativa, uma urucubaca, um estigma ao torcedor vascaíno e ao clube, tanto que o aumento de novos torcedores, mirins ou não, deve ser ínfimo. Acho mesmo, se você veio como imaginamos e desejamos, para encarnar os novos tempos, ou se quiser fazer, faça, se muito, fotos para serem estampadas no Museu. O momento é de dinamitar o que representa esta estátua, não faça nenhum arranjo de composição a pretexto de enaltecer a figura do jogador que simbolizou quer queira ou não um ciclo, que foi rejeitado pelos vascaínos, os tantos que o aprovaram nas urnas, você como o candidato desta mudança, implica de imediato afastar a possibilidade de decepção. Caso contrário pelo que li hoje pela manhã no jornal O Dia, em matéria "Reforço, agora, está difícil", vocês sabiam se não totalmente, pelo menos em parte da penúria financeira do clube.
Neste primeiro momento estou contaminado como vascaíno pela vitória da oposição, que aproveito para parabenizar pela conquista. Há tempos que fiz uma opção pelo não engajamento ao movimento de oposição, participei em tempos passados de algumas reuniões em clubes portugueses na Tijuca, para mim bastou; ultimamente preferi correr em faixa própria, escrever neste espaço, o que me permitiria com mais liberdade me posicionar com maior autonomia, de modo critico, ora, fazendo restrições ao encaminhamento conciliador, e submisso da conduta de Dinamite ao dirigente, que me parecia de endeusamento e de gratidão eterna. Projetava uma imagem distante e cerimoniosa, o tratamento dispensado me parecia com o intuito de não causar nenhum transtorno ao dirigente.
No meu entendimento, Dinamite assume em todos os aspectos uma postura conservadora, de mudar para continuar tudo igual.Cuidado! seu adversário é extremamente agressivo, até o último instante, fez demonstrações sem nenhum pudor; atos que nem gostaria de pensar podem surgir Um novo conceito de mudança tem de fazer parte de seu projeto de administração. Não se deve pensar em conciliação com quem em nenhum momento pensou em conciliação, nem reviu sua postura, pois seu delírio pelo poder, não permitiria tal façanha. Tudo era feito pelo dirigente e por sua camarilha era para ampliar os podres poderes de sua forma de administrar e se perpetuar no clube. O que o homem lutou de modo aguerrido para não largar o osso, não foi brincadeira, tentou e tentou até as últimas conseqüências e atrelado em todas as esferas jurídicas, permanecer, tentou mas não levou.
Dizem que a justiça dos homens tarda, mas não falha, no entanto, se falhasse a divina com certeza, daria um jeito, claro que a nosso favor, daqueles que por diversas formas clamaram por melhores dias e que a esperança fosse o caminho e que a qualquer hora chegaria ao fim esta administração, que estava além da conta, extremamente saturada, nem ele conseguiu levar até o fim. Liberdade, ainda que tardia, chegou para ficar, para abalar e destruir os ranços de uma administração obscura e viciada na mesmice. Não posso deixar de falar sobre o meu clube sem mencionar a gestão do dirigente, ou a sua "simpática" figura.
Um dos grandes equívocos do dirigente foi "aposentar" a camisa 11, em homenagem "eterna" com vínculos de gratidão ao homenageado, esta postura me levou por várias vezes desaprovar tal intento; para piorar concretizou o seu sonho maior de bajulação ao erigir uma estátua a um jogador que por não ter sangue cruzmaltino, não mereceria homenagem desta grandeza. Recebeu uma bela resposta, que acredito que até hoje, aguarda um comunicado do jogador para a despedida. Convenhamos àquela situação em que vivenciou passou para a imprensa a imagem patética do dirigente que muito decepcionado, frustrado apelava para o retorno do "amigo" para a última homenagem, que nem bola passava para o dirigente que sabia mais de qualuqer um sobre o Vasco, sabe tanto que nem percebeu o que o jogador aprontou com ele, ou ele aprontou com o jogador, quem vai saber? O resultado final, deu no que deu. Para mim foi hilária e que foi reforçada pelas previsões ridículas apontadas.
O dirigente no alto de sua sabedoria , nem consultou a torcida, fazia e desfazia com bem entendia, tudo em prol dos "interesses" do Vasco.. O dirigente apenas ouvia a si próprio, quando muito, sua família e os conselheiros que sustentavam esta política, que pelo visto ultimamente em nada beneficiou o Vasco.
Como deputado, ainda bem que não foi reeleito, nunca, pelo menos eu, não consegui traduzir quais e que benefícios, e melhorias trouxe para o clube na tão propalada defesa dos interesses do Vasco, que até outro dia parecia lutar com unhas e dentes para preservar o modelo aplicado ao Vasco, retrógrado, diga-se de passagem. Bastava olhar para os lados, que poderia conclamar os vascaínos que estariam, acredito dispostos a cooperar com o dirigente, em prol da grandeza, da imagem de um clube vitorioso, ligado historicamente a vários segmentos sociais, aliás, o seu olhar, a sua cegueira, apenas enxergava o próprio umbigo.
Gente deste tipo, Caro Roberto Dinamite, nosso honrado presidente, deve se manter à distância, quanto mais longe melhor. Não tem de conciliar com este passado de quem trouxe tanto dissabores. Aquele passado do dirigente, com o apoio de Calçada, teve momentos de glória, mesmo que eu seja critico em relação ao dirigente, reconheço sua contribuição; hoje, encerra apenas uma referência histórica, objeto de pesquisadores dispostos a entenderem o que se passou no Vasco, que muitos vascaínos, parecem nem querer lembrar. Não importa, ele faz parte da história do clube, com acertos e desacertos. Você verá mais adiante com quem e com quantos contará para ajudar nesta tarefa, que deve ser árdua, mas que deve tomar o rumo de desvendar algo se obscuro houver, mostrar a face de São Januário, devemos como vascaínos ter ciência, qual é a verdadeira situação do clube. A transparência deve ser escancarada, mostrar claramente , os interesses defendidos pelo dirigente em nome do Vasco.
Quero lembrar ao meu ídolo, que a sua luta foi pelo poder, por mudança de uma gestão autoritária, retrógrada, extremamente conservadora e controlada a mão de ferro, por uma em que circula novos ares, modernidade, com base na comunhão de vascaínos, estruturada na concepção democrática de poder. Deve se contar, claro, com os vascaínos remanescentes da gestão do dirigente, mas requer cuidados especiais para perceber se alguns foram contaminados pelo vírus. Você como político e o grupo que o sustenta não são ingênuos, não sou favorável uma caça às bruxas, mas se elas existem todo cuidado é pouco. Aproveita use as vassouras para fazer uma assepsia, uma faxina geral. Embora, faça parte de seu discurso conciliador, ser presidente de um clube, não implica em ser bajulador eterno do dirigente, enaltecendo os feitos do passado, sua gratidão que parece ser eterna, o que lhe permitiria mais adiante um convite para o seu "dirigente", assim como quem não quer nada, contar com a prestimosa ajuda, continuando assim, penso, se assim me permite, que a mudança, tão anunciada mudança será abortada em nome da "união" dos vascínos de todas as matizes. Não quero ensinar padre a rezar missa, lembre-se de que alguns vascaínos foram os seus adversários, de modo que, tem muito pouco a acrescentar em sua gestão.
Há pedras no meio do caminho, o técnico atual, representa pelas características sempre anunciadas e enaltecidas como um fraterno e leal amigo do dirigente. Segundo a imprensa, embora, esteja no seu direitos de reivindicar o que lhe cabe neste latifúndio, o técnico, como das outras vezes, anunciadas, trabalharia de graça para o dirigente, não deixou transparecer nenhuma reivindicação trabalhista e agora segundo a imprensa, se dispensado, aliás, acho que deve ser, pois representa a face da antiga direção.
Gosto de Antonio Lopes, no entanto tenho restrições, sei que é um técnico vitorioso, mas infelizmente o vínculo com a administração retrógrada, seria sem dúvida a encarnação do dirigente. Se for o caso, Lopes seja contemplado com o que reivindica, para não gerar no futuro uma reclamação trabalhista, basta as que ocorrem em várias instâncias
Como exercício da democracia, a opinião é livre, como forma de expressar, penso que os entulhos autoritários incrustados no interior de São Januário devem ser retirados, nem devem ser protelados. Enfim, a vitória final chegou, que São Januário receba novos ares, se contar com ajuda de Moraes para saber e identificar qual será a dose de oxigênio administrada, acho que vale a pena. Reclamou que precisa respirar novos ares, e o de São Januário, estava poluído, viciado, contaminando o ambiente. As pessoas tinham uma imagem carrancuda, reproduziam inconscientemente o poderoso da Colina que gostava de anunciar esta singularidade.
O certo é que o Vasco respira e o que o vento que chega até aqui, assopra no sentido de que, agora poderemos ser campeões. A primeira vitória foi conquistada, a próxima, será a faixa de algum campeonato, a bola está sob os seus pés. Aliás, de um artilheiro, Dinamite conhece tudo dentro das quatros linhas, o cheiro de vitória nos campeonatos vai começar... Hoje a festa é nossa, da imensa torcida, e da oposição.

domingo, 4 de maio de 2008

Um lixinho aqui, outro ali e a cidade vai ficando um lixo.
















O Bicho

Vi ontem um bicho
.
Na imundicie do pátio

Catando comida entre os detritos
Quando achava alguma coisa,
Não examinava nem cheirava
Engolia com voracidade.

O bicho não era um cão,

Não era um gato

Não era um rato

O bicho, meu Deus, era um homem.


*Manuel Bandeira(1886-1968), escrito em 27 de dezembro de 1947, incluído em Estrela da vida inteira.

Agora quando começo a escrever escuto alguém varrendo a calçada, aqui em Copacabana, escuto ou presencio alguém varrendo a rua, seja um porteiro ou um varredor da Comlurb. Por mais que estes trabalhadores, conhecidos como garis, façam a sua parte, a população que transita pelo bairro, sejam moradores ou não, muitos deles colaboram firmemente sujando as ruas. Por mais que a calçada ou a rua esteja um “brinco”, em poucos minutos, ficará suja novamente. O ato limpar e sujar são verbos ou ações que são conjugados diuturnamente. Além das ruas que a população gosta de deixar o lixo, há outros espaços que são contemplados pela população deixando todos os tipos de lixo, são: os terrenos baldios, os rios, lagos, lagoas, praças, praias e mar.

Há ainda folhas, galhos, entulhos e terra. Convivemos com muita sujeira em qualquer lugar em que se vá, são detritos espalhados por todos os cantos. Reconheço que hoje houve uma melhora na coleta do lixo, há mais gente envolvida na coleta seletiva, com a forte presença de catadores em um trabalho de reciclagem, há um grande aproveitamento do lixo com separação em orgânico e inorgânico. Sem duvida que a cidade foi transformada em uma grande lixeira, há porcalhões oriundos de diversas condições sociais. Contêineres nas praias são solenemente ignorados pelos banhistas.

Tenho visto pessoas de diversas idades jogando, espalhando o seu lixo pela rua, fingem que nem é com eles, são capazes de ignorar a lixeira e o gari, creio que muitos acham mesmo de enorme inutilidade as lixeiras, que enfeiam tanto as ruas que jogam o lixo muitas vezes do lado de fora dos cestos. Quando presencio cenas desta natureza, fico irritado, perplexo, mas fico calado, não quero gerar nenhum conflito, hoje em dia com tanta violência rondando o nosso cotidiano que é melhor preservar a sua vida, por qualquer coisa um sujeito mata o outro sem pestanejar.

Muitas vezes vi alguém jogando latinhas pela janela de algum veiculo, percebo que o sujeito quer se livrar deste incomodo e atira o lixo mirando na rua. Acho que ficam orgulhosos deste gesto. Lembro que quando viajava pelo metrô nos anos 90, o comportamento dos usuários deste tipo de transporte considerado como o mais limpo do mundo, era uma verdade, com a ampliação das estações, com o transito maior de passageiros nos vagões, a sujeira tomou maior volume, tanto que recolhem toneladas de lixo no final do mês, mesmo assim, é bem limpo.

Acredito que a diminuição do lixo jogado na rua, um espaço publico por excelência, estaria ligada a mudança de hábitos, cuja participação da sociedade, motivada por uma conscientização coletiva, seria o caminho, que pode ser alcançado através de divulgação maciça na mídia. Nos registros de minhas lembranças, recordo do personagem Sugismundo de cunho educativo que circulava pela tv na década de 70, que sustentava a idéia de “povo desenvolvido é povo limpo” produziu algum efeito, mas de curta duração, no entanto, vejo dificuldades para qualquer perspectiva de mudança, pois é um habito arraigado nas pessoas de difícil remoção.

Convém lembrar que o comércio informal com suas bancadas espalhadas, os ambulantes, geram muito lixo, poucos conseguem recolher os lixos produzidos por suas atividades, lembro que os trabalhadores informais privatizam o espaço público de modo desordenado e autoritário, dificultando e estreitando em cada vez mais o espaço destinado a pedestres.

Em minha rua durante a noite, noto a intolerância de motoristas em seus carros buzinando loucamente, irritados, gritam e xingam o pessoal que trabalha no caminhão de limpeza que para fazer a coleta domiciliar inevitavelmente impedem a passagem de outros veículos. Motoristas alucinados fazem questão de não reconhecer o trabalho dos outros, buzinam insistentemente para pedir passagem, não avaliam que ao fazer este barulho, perturbam os demais moradores em suas residências, acham que podem importunar os outros, mas que não aceitam sob hipótese alguma serem atrapalhados, ainda mais por um caminhão da limpeza urbana.

A sujeira deixada pelo cachorro, não me foge a idéia que flagro neste momento de que parte desta população que joga lixo no chão, que suja a cidade, expõe uma questão importante que é a ausência da educação, embutido muitas vezes em preconceito social, da consciência do espaço público. De nada adianta colocar avisos, isto não provoca vergonha para quem suja, pelo contrario faz com que ele reclame da atitude do outro, da sujeira da cidade, do entupimento, das ruas alagadas.

O bairro de Copacabana as ruas continuam sujas, com a prestimosa colaboração dos panfleteiros que mesmo proibidos, continuam a distribuir seus panfletos, alias no sábado vi na esquina da Rua Santa Clara, um grupo de moças e rapazes distribuindo panfletos, todos identificados com as lojas próximas; vi um senhor amassar um papel e jogar no chão ao receber de uma das moças, no entanto, para a minha admiração a moça abaixou-se e recolheu o papel. A cada dia a população que transita pelo bairro, sem esquecer os moradores de rua, produz mais lixo, que por sua vez, pode entupir bueiros, provocar enchentes. O lixo é um problema que gera agressão ambiental, se olharmos para as praias, rios e lagoas. Acho que a prefeitura através da Comlurb tem feito um bom trabalho, mas que fica tremendamente prejudicado por vários fatores que basicamente norteiam o comportamento das pessoas que ainda se mostram refratarias a colaborar na limpeza dos espaços públicos, uma delas é a preguiça de procurar uma lixeira.

Para mim está claro, além do hábito, está à noção, de que alguém vai limpar, é produzido muitas vezes no interior da casa ao deixar para os pais limparem ou a empregada. Se na escola suja, tem a faxineira que faz; se na rua suja, o lixeiro está aí para isso. Vai haver sempre alguém em condição social inferior para fazer a limpeza.

Um estudo do psicólogo social Fernando Braga da Costa, que defendeu o mestrado na USP em 2002: Gari – Um estudo de psicologia sobre invisibilidade pública, publicado em livro pela Globo com o título: Homens Invisíveis – Relatos de uma humilhação social. A experiência e os relatos de Fernando, no papel de gari, trabalhando no campus da USP, é muito interessante, tive conhecimento de parte de sua tese, há muito tempo e circulava pela internet, veio à tona, no final dos anos 90. Ao começar a escrever este post, lembrei também da poesia O Bicho publicada em dezembro de 1947, incluída na obra poética completa de Manuel Bandeira, A Estrela da Vida Inteira, editado pela Nova Fronteira.




Antonio Berni - Nasceu em Rosário, Argentina, em 1905 e faleceu em outubro de 1981

domingo, 27 de abril de 2008

O Louco da Colina - Final





Depois de muito tempo, passado anos e anos, o paciente Sapão como também ficou conhecido no hospício o Louco da Colina, ganhou contra a sua vontade através de numerosos abaixo-assinados de pacientes de todos os pavilhões pedidos à direção do hospício para que o mandasse de volta para casa.Que nunca mais para ali voltasse. Conseguiram após muita luta, pois resistia com unhas e dentes, em muito qualquer tentativa de transferência. Ninguém mais suportava a presença dele no hospício, era muito danosa ao ambiente hospitalar. A leitura de um manifesto contra a sua permanência no local, desencadeou protestos em tudo que era lugar, incendiando os ânimos. Havia cerca de 1950 internos protestando contra o Louco da Colina. Formou-se uma imensa torcida contra o Sapão. Hei Sapão, a tua hora vai chegar! Foi uma loucura geral no sanatório. Não havia mais clima para a sua permanência, devido aos mandos e desmandos, achando que tudo que estava a sua volta, era dele. Ninguém poderia contrariar que partia para cima, passar perto da árvore que ele ficava agachado e alisando por horas, era um problema cada vez maior. Sua primeira reação era lançar um olhar de fúria e com a boca espumando agredia com tapas e socos os internos. Ficava muito irado. Resistia a qualquer ordem superior, ignorava solenemente.

No final da tarde Dr. Simão pressionado pelos internos, foi procurar a ficha do paciente e não encontrou no arquivo, havia sumido. Procuraram por todos os lugares, sobrou apenas um papel encontrado na lixeira da enfermaria do segundo andar, que lhe possibilitou garantir a alta do paciente. O interno do Pavilhão Nove ao ganhar liberdade, foi um alivio para todos no hospício Uma comissão de internos de imediato preparou uma noitada de samba. Tilde Peito de Melão pulou de alegria e a cerca, com mais oito internas. Vovó Sinhá uma das mais antigas da Ala das Mulheres, não estava disposta a ir, não gostava de samba, curtia muito funk. Todos a partir daquele dia viveram uma vida normal no hospício.

sábado, 26 de abril de 2008

Silêncio, os cachorros estão latindo.











Não estamos no mês de agosto, mas com toda a certeza, o cachorrinho da vizinha é louco, late o tempo todo e a qualquer hora do dia. Como tenho escrito ultimamente durante a madrugada para fugir um pouco do barulho de Copacabana, sou testemunha nestas horas da presença dos neuróticos cachorros da vizinhança, que latem sem parar. Há latidos e uivos diversos produzidos por diferentes raças de cachorros, mas com certeza é um animal de pequeno porte. Não tenho conseguido identificar pelos latidos, qual seria a raça do cachorro que acabam com um momento silencioso da noite. Claro que os animais não são os únicos que fazem barulho, há outros sons urbanos, que são irritantes. Aliás, os latidos estão incorporados ao cotidiano da vida urbana, como é o caso do bairro onde moro.

Fomos donos (eu, a companheira e o filho) de um cachorro vira-latas que viveu por dezessete anos, durante toda a sua existência procuramos minimizar bastante os seus latidos, claro que alguns fogem do controle, é instinto do animal se comunicar de algum jeito, daí os latidos que podem significar várias coisas. Cabe ao dono educar o animal. É possível com o passar dos anos o meu grau de neurose tenha aumentado em muito, entendo, que não seria capaz de conviver com um animal latindo o tempo todo ao meu lado, sem passar por uma reação, afinal não estou isolado, vivo em prédio e em uma área urbana.

Gosto de animais, depois que Kim morreu; decidimos, eu e a companheira, não teríamos mais nenhum cachorro, digo cachorro, por ser esta a nossa preferência, em vez de gatos, ou passarinhos.

Fico espantado e muito irritado com a capacidade das pessoas de não se tocarem que o animal que tem sobre os seus cuidados perturba, senão a vizinhança, pelo menos um dos seus vizinhos. Muitas pessoas não entendem que o direito delas termina onde começa o do outro. Acho que estão cegamente convencidos de que os latidos do totó, senão incomoda a elas, aos outros muito menos. Admito que as vizinhas dentro de um modelo individualista de pensar as relações sociais poderiam me recomendar que os incomodados que se mudem.

Entendo que a população canina de Copacabana é numerosa, outro dia, de bobeira na janela, observei que é constante o movimento de cachorros com os seus donos pelas calçadas de ambos os lados. Quando caminho pelo calçadão observo, a presença de caninos. Não há um grande intervalo sem passar algum cachorro, sem ouvir latidos e brigas entre eles. A orla de Copacabana é uma festa para os bichos e seus donos. Em períodos momesco há o surgimento do Blocão, um bloco de carnaval animado para os donos e seus respectivos animais. Há sempre atividades no bairro envolvendo a turma de quatro patas.

Quando tivemos o Kim sempre quando o levávamos para passear, pegávamos o jornal para ser utilizado no momento necessário. Em Botafogo foi o bairro que moramos quando Kim era um filhote, o uso do jornal pelas ruas do bairro gerava elogios dos passantes. Ouvi algumas vezes elogios de pessoas de dentro dos carros. Isto era no final dos anos 70 e começo dos 80. Respeitamos sempre o espaço alheio, principalmente a calçada, pois, conduzíamos um animal; depois vieram campanhas educativas, que contaminou um pouco os donos de animais, passaram a usar sacos e jornais. Vejo que há muitas pessoas que deixam os seus animais fazerem suas necessidades pelas calçadas, nem ligam para o próximo, acham que sempre terá alguém para limpar o que sujou e que a condição social de quem limpará é inferior à deles. Já vi olhares de censura para este tipo de pessoa que estão acima de qualquer mortal, mas que continuam desrespeitando o próximo, não se tocam, são refratários. Nem falo dos que andam sem coleiras e guias, como o caso de pit-bull, rottweiler e fila. Os jovens senhores donos destes cachorros ignoram qualquer regra, qualquer lei, alguns são tão ferozes quanto os seus animais. Sou um dos que desde pequeno não tinha medo de cachorro, mas de uns tempos para cá, fico apreensivo em esbarrar com estes agressivos animais, o noticiário a respeito reforça em mim, uma preocupação que, aliás, ninguém deve perder de vista.

Interrompi a publicação da finalização de um dos meus contos para abordar um dos assuntos que chama a minha atenção enquanto morador de um bairro com grande contingente de moradores produzindo os mais variados ruídos. Fica difícil proclamar qualquer garantia de sossego, fica inviável, usufruir momentos de silêncio.





Domingos Alvarez - Pintor Galego

sexta-feira, 25 de abril de 2008

O Louco da Colina - Parte 4









- Você é doido demais! Louco varrido. Preciso ir, estão me esperando lá fora. Vai rolar muita festa.

- Não vá embora, dou tudo isto aqui para você. Prometo fincar aquele tronco para sempre. Olha como está bonito. “Ai que vontade de te ver, te abraçar e te beijar, te amassar e te beijar.” Você é a minha razão de viver.

- Este lugar não é a sua propriedade, você tem muitas outras propriedades, esta não é sua. Você veio a fim de conversar com o diretor e passar um período neste aprazível lugar. Me solta, me deixa. Estou livre. Encerrei, não dá mais. Minha vida agora é em outro planeta e você sabe muito bem onde que é, somos de lá.

- Tá doido diabo, fala baixo, quer estragar tudo. Você está redondamente enganado, isto aqui é meu. É meu! É meu! É meu! Quem manda aqui sou eu e ninguém mais. Esbravejava cada vez mais alto. Parou de gritar por uns instantes para cheirar o sovaco. Cada louco com a sua mania e a minha é gostar de você, de cheirar e lamber sovaco, chutar cachorro morto e fazer previsões furadas.

- Professor escuta. Chega mais perto, daqui dá para ver e escutar. É o Louco da Colina, está perto daquele homem nú, acocorado, que lê a bíblia, ao lado de Tião Medonho. - Professor, ainda não viu? Olhando mais a direita, vê a Matilde Peito de Melão namorando embaixo da escada, passa daquele maluco metido a besta falando para as paredes, um que está em pé no pátio com as mãos na cintura, passou a imitar a Carmem Miranda, não é o que está atrás dele, este o Dedé Rola Pequena que está sempre com uma gravata de garçom no pescoço, com uma cigarrilha apagada no canto da boca, é o mesmo que namorava a pouco, embaixo da escada. Assim que ele vê a Tilde, vão para embaixo da escada. Fazem amor até de madrugada, depois cada vai para um canto dormir.

- Já vi, é um homem fantasiado com uma roupa verde, muito gordo, com uma cartola na cabeça.

- Sim, é este mesmo.

- Quando passei por ele, xingava muito, bufava, soltando fumaça pelas ventas, está muito agitado, grita e baba muito, alguém o contrariou. Vi que ele conversava com um homem baixinho e careca, trajando camisa preta e vermelha. Só vi o cara dando uma corrida parecia com um foguete à impressão é de que estava atrasado, mas saiu tão rápido, achei que ia partir para outro planeta.

Dois dias depois. Era noite, alguns dormiam ao relento, outros em camas beliches. Pinduca era um dos loucos mais respeitados no manicômio, fora recolhido na rua, andava perambulando. Foi músico, perdeu família, emprego, viciado em drogas. Andava todo rasgado, como se fosse um hippie. Depois que veio para cá, passa o dia tocando violão, fica tomando sol, a tarde gostar de pregar no meio da praça sobre a reforma psiquiátrica e a noite fica em cima do telhado, uivando para a lua.

Era bem tarde da noite, com poucas luzes acesas, dali percebeu uma movimentação estranha, era um homem vestido de verde fazendo o maior qüiproquó no salão, dava tapas e cascudos, mordia a orelha de quem o perturbasse. Expulsou todos que estavam ali. Eu sou o dono do mundo, deste lugar, tudo que está aqui é meu, empurrou violentamente contra a parede e desfechando seguidos pontapés nas canelas do Dmitrievitch, mais conhecido como Dmitri ou Gringo da ala E, tudo porque havia acabado de contrariar o homem vestido de sapo. Dmitri ficava sempre vestido com roupa de guerrilheiro, embaixo do braço, um album de fotografias dos amigos desaparecidos,foi um militante político muito combativo do Movimento Revolucionário, muito querido no hospício, era um revolucionário com a mania de ser Che Guevara. Lutava pela libertação dos povos latinos.

Pela manhã, Doutor Simão mal chegou à Casa Verde, foi interrompido no corredor para uma conversa com Dona Neide, narrando o que aconteceu na noite anterior com o paciente da ala E do Pavilhão Nove, o tumulto que fez, quis bater em todo mundo, gritava que isto aqui é dele e de mais ninguém. É um louco furioso, disse examinando o prontuário com um ar de preocupação, precisa de um neuroléptico sedativo. Doutor Simão o remédio está em falta, chega no ultimo dia útil do mês que vem. Vamos colocar na cela de castigo. – Dona Neide, por favor, chame o enfermeiro Leandrão. - Não posso doutor, faltou ao trabalho. Deixou recado dizendo que ganha muito pouco e vai para outro hospital particular ganhar muito mais.

quarta-feira, 23 de abril de 2008

O Louco do Colina - Parte Três








- Que foi maluco?
- Sou louco por você! Sou louco por você. O que você faz aqui? Até que enfim encontrei com você. Minha vontade, meu desejo é de te beijar agora, puxar estes poucos cabelos, te fazer cafuné.
- Qual é parceiro, está me estranhando? Ainda mais vestido deste jeito.
- Fiquei muito feliz de encontrar com você.
- Sumiu por quê? Por que sumiu? Onde você estava que não respondia.Mandei recados, telefonei, mandei e-mails, fui à praia e nada de achar você.
- Você é aquele que estou pensando? Perguntou muito desconfiado
- Pois é, começaram a espalhar que fiquei com um parafuso a menos por afirmar que havia uma torcida que não era deste planeta. Na verdade não estou internado, as mil loucuras que fiz, não são suficientes para ficar internado. Se você é você mesmo, tô na bronca contigo. Vacilou e pronto!Deixou furo comigo. Perdeu! Já era. Vá reclamar com o Bispo Sardinha.
- O que você faz aqui neste lugar, onde só da louco.
- Vim buscar um amigo meu louco por mulher, cismou que quer ir ao show da Garota Melancia. Vamos depois dar um giro pelos bares da vida.
- Vai ser uma loucura, a mulher bate um bolão. Aquilo é demais.
- Não quero saber de show de melancia, de morango, de jaca, de qualquer outra fruta. Você ainda não me falou o motivo de seu desaparecimento. O que fez você mudar de idéia?
- Paizinho, deixa antes dar um beliscão neste nariz de Pinóquio Para você entender, você teria de ser de outro planeta.
- Mas já disse a você que sou de outro planeta, esqueceu? Que sou lunático, fanático por você. Lembra de uma vez que você jurou que era americano, nem acreditei nesta lorota, sei que você morava neste país tropical e bonito por natureza, na época, se não falha a memória tinha uma nega chamada Tereza, andava de fusca do amigo Jorge, pra cima e pra baixo. Foi uma tarde maravilhosa em que recordamos nossas promessas. Só eu e você. Você e eu, sentados à beira do caminho tomando guaraná. Bons tempos.
- Agora você me botou numa furada. Ao dizer que vai, mas não vai. Tá vendo aquela árvore ali atrás, perto do banco. Você está ali. Repito. Você está ali. Seu espírito, seu corpo. Você será eterno.
- Eu não estou lá. Nem vem que não tem. Quer me deixar louco. Estou aqui, bem perto de você, com esta camisa preta e vermelha. Interrompeu a conversa para beijar a camisa. Vamos sair da passagem, estamos atrapalhando as pessoas que querem ir ao banheiro.
- Que se dane os outros.
- Pára! Quero que me olhe, olho no olho, sem pestanejar. Você sabe e o mundo também que eu sou de veneta. Faço sempre o que der na telha. Planejava o meu futuro e sem você, o meu presente, só fica no passado. Olha mais uma vez para aquela árvore, como você está bonito. Agora também com esta camisa, fica um encanto.
- Você é louco de pedra mesmo, para dizer que eu estou lá. Quando cheguei vi um enorme sapo ajoelhado beijando uma árvore, era você? Na verdade aquilo é um pé de quê?
- De Jequitibá. Ali ninguém mexe se mexer vai se ver comigo. Não há louco que se atreva. Tudo que você representa está naquela árvore, quem seria o louco de derrubar uma árvore. Tranquei a árvore, passei uma corrente com um cadeado a sete chaves, como sou louco e não bobo, engoli.
“Ah! Eu to maluco! Ah! Eu to maluco!” Daqui não saio, daqui ninguém me tira.
- Cara! Você é muito louco mesmo. Piradão! A árvore pertence à Colônia, foi plantada segundo uma amiga professora de História desde 1898, passou por alguns lugares e depois foi lá para aquele bairro da zona norte.
- Faço tudo por você! Imito passarinho se quiser. Dou cascudos e chutes no traseiro do primeiro animal que eu encontrar pela frente. Converso com cachorro pit bull, mordo a orelha dele e se duvidar faço dele um cachorro quente. Continuo fantasiado de sapo para brincar com as criancinhas. Chamo urubu de meu louro, mordo minha orelha e o dedão do pé; tiro bala da boca de criancinhas,me transformo em profeta, começo a dizer coisas até que Deus duvida.
- Mas aí parceiro, que roupa mais estranha.
- Pedi emprestado ao Beto Chulipa a fantasia para não ser confundido com um sósia que enche o meu saco toda vez.que me encontra. Como gostei muito daqui, quero comprar estas terras, quero morar aqui com a família.Vou tirar muitas fotos daquela árvore. Olha bem a copa.
- Mas está a venda? Como vai comprar?
- Nem sei, nem quero saber. Quero comprar as terras deste antigo engenho, fazer vários campos, cada um mais moderno que o outro. Fiz contato com varias empresas estrangeiras, todas se mostraram interessadas.

terça-feira, 22 de abril de 2008

O Louco da Colina - Parte Dois









É um homem vestido de sapo, tentou falar o que estava em um caixote segurando uma boneca de pano. Cala boca maluco! È o Louco da Colina. Ouvi por muito tempo falar de sua fama de mau.Tão mal que nem pica-pau. Meu tio que foi garçom no boteco de seu Juaquim contava as maiores loucuras dele, cada uma de arrepiar, todas sinistras. Vamos nos esconder. É perigoso ficar por perto. Já tremendo da cabeça aos pés, foi à sugestão do mais medroso da turma que andava pra cima e pra baixo vestido de Gato de Botas. Calma pessoal, gritava enlouquecido o interno do Pavilhão 9, que ao saltar de cipó por pouco não pisava nos calos de Zé do Boi, que estava ali, por ter acabado com o seu serviço na cozinha. Cuidava da gororoba da turma. O apelido ganhou por conta das histórias incríveis que contava de seu tempo de vaqueiro, em que pegava touro à unha. Todos pediam bis, para contar mais histórias mesmo que ninguém acreditasse, todos riam e aplaudiam.

O estranho visitante, muito confundido pela maioria dos internos com um sapo, continuava com a caminhada, até chegada à sala do Doutor Simão, restavam uns cem metros. Como perdeu a calma por ainda não ter chegado ao local, passou a caminhar de modo apressado e bufando. Um engraçadinho escondido passou a orquestrar as primeiras vaias e xingamentos. Parou e começou a esbravejar contra o desconhecido, soltou cobras e lagartos, para seguir em frente, aliviado. Não sou de engolir sapos, nem gosto de comer pererecas.

Um enfermeiro barbudo, com mais cinco, atrás de uma porta aguardavam o novo paciente, para vestir uma camisa-de-força, tamanho GG tudo feito para que se sentisse confortável dentro da nova vestimenta. Quando viu passar o estranho visitante, reconheceu de imediato, foi o mesmo que ao ser chamado com urgência resistiu bastante ao internamento. Nem com o Sossega Leão, o deixou mais calmo. Vai ser um caos maior neste hospício quando num ataque de loucura, gritar que é Deus. Como é cobra criada, comentou baixinho para não ser ouvido.

Antes de chegar ao gabinete e ao dobrar a esquina viu uma árvore e saiu em desembalada carreira em sua direção, de um bote só, tratou de ficar agarrado ao tronco, que não havia jeito de soltar. Puxaram de um lado pro outro, e nada. Nem jogando água fria resolve. Solta a árvore! Solta! Larga! Do jeito que está, só dinamitando Psiu! Rápido! Fala com o Poeta, o assistente do Dr. Simão para pegar com urgência, lá na Casa Verde, no quartinho dos fundos, na prateleira de cima, um pacote dentro de uma caixa preta. O Doutor Simão vai aguardar mais alguns minutos para conversar, disse a secretária Neide.

Não houve jeito. Ficou tão ligado ao tronco que passou horas alisando de cima para baixo, depois de muito babado passou a beijar de estalar o tronco. Seu olhar hipnotizado ao ver o seu objeto de adoração, foi testemunhado pelos internos e pelos funcionários da Colônia. Coitado! Comentou o funcionário Seixas que soube uma vez por seu amigo, que ele se esforçava para ser um sujeito normal e fazer tudo igual.

Ajoelhado diante da árvore fez juras de amizade e amor eterno. O que tanto conversava ao pé da árvore, era o que queria saber um paciente que estava prestes a receber alta, pois ficaria em casa para tratamento. Precisa muita cara de pau, para se submeter a isto. É ele mesmo? Não conseguiram mesmo controlar a sua maluquez. Um senhor que cansado de tanta confusão, antes de voltar para a cama, comentou com o vizinho, nunca com a idade que tenho, vi com estes olhos que a terra há de comer, um homem ser tão aficionado por um tronco de árvore. É uma vergonha, vi lambendo, cheirando e alisando freneticamente o tronco.

Com o tempo ainda conseguiu da direção permissão para colocar uma grade de proteção, para que ninguém se aproximasse. Contratou um monte de segurança. Seu comportamento, muitos afirmaram que mudou para pior depois que viu o tronco da árvore.

Compadre, falou para o vizinho, que grande escândalo aprontou o homem fantasiado de sapo fez ao encontrar com o gordinho, baixinho e careca, aquele interno da ala 11 que chegou a poucos minutos e bate um bolão em nossas peladas de sábado. Ele não é interno compadre, ele é visitante, como joga muita bola, Tobias, este sim, que é interno da ala 11. Como não consegue ficar longe da bola, convidamos para jogar em nosso time. Ganhamos todas. Com ele, não há quem possa, mesmo com os fios brancos de seu cabelo.

Quem me bateu foi um cara do pavilhão 9, da galeria dos alucinados, um jovem de nome Alex Lunático ou Girafão como muitos gostam de chamar. Sabe quem é? Sei sim, é aquele que vive tropeçando nas próprias pernas ao correr na hora da ginástica. Pois é, disse que estava pendurado na grade, presenciou uma cena inusitada. O homem vestido de sapo ficou enlouquecido quando foi ao banheiro, esbarrou na porta com uma pessoa que parecia ser seu conhecido, trajando uma camisa com as cores em preto e vermelho. Quando encontrei com Girafão no corredor ainda ria muito daquele encontro. Não pude evitar ri também que nem louco, aliás, louco já sou.

Como fazia naquele tempo toda espécie de loucura lá na rua, a minha familia, não aguentando mais, resolveu me deixar aqui, acabaram que se esqueceram de mim. Ninguém me visitava, sai uma vez no Natal, fui encontrar com uma filha. Não tive coragem de falar com ela, nem cumprimentar, coisa que mais queria. Fiquei contente compadre Virgulino, só em ver os meus netos, eram dois meninos. Cada um mais bonito do que o outro. Umas lágrimas escorreram de meus olhos, não tinha lenço, acabei enxugando na camisa. Fiquei parado do outro lado da calçada, peguei um pedaço de papel, era um bilhete, que guardo sempre comigo. Olha como está rasgado e amarelado, dá para ler o nome dos netos. Vê se consegue? Consigo sim, compadre. Diz aqui no bilhete que são dois meninos levados da breca. Escuta compadre o escândalo que o homem vestido de verde, como se fosse um sapo, faz.

Filho, você aqui! Procurei você por todos os lugares. Caiu em seguida em um pranto incontrolável, balbuciava: Seu amigo da onça, quer dizer amigo, meu irmão, camarada, fiz tudo para você, ainda faço tudo por você, que ingratidão comigo, nunca, nunquinha, pensaria que fizesse isto com o seu amigo, sou o seu verdadeiro pai, um pai patrão, é verdade, mas acima de tudo um bom pai. Foi uma crocodilagem sem tamanho. Interrompia o diálogo para chorar pelo leite derramado. A que ponto cheguei não posso aceitar que tudo tenha sido feito em vão. Tudo que andam falando é uma mentira deslavada. Uma cascata.Você não disse o que andam falando por aí. Mesmo que repitam por diversas vezes, nunca será verdade.
- Tá louco quem é você?
Não conseguiu responder, soluçava muito.


segunda-feira, 21 de abril de 2008

O Louco da Colina - Primeira Parte









A Colônia recebeu com alegria incontrolável a notícia da chegada de um novo hóspede. Mais um! Mais um! Era o coro ouvido à distância. Foi uma loucura geral. Foi uma correria. Muitos chegaram a bater cabeça com cabeça. Uma pequena briga agitou o ambiente, mas foi logo apartada, era uma disputa pelo melhor lugar, nada que não pudesse ser resolvido com uma conversinha ao pé do ouvido com os donos do pedaço.Todos queriam ver aquele louco com fama de louco.

Eram dez horas da manhã, quando chegou. Assim que abriu a porta do carro, foi logo chutando um abelhudo que tirava fotos para uma revista. Deu um drible em um repórter e uma cusparada.Um velho papagaio de pirata passou a sua frente para pedir vários autógrafos, não deu nenhum, recebeu apenas sopapos e cascudos. Muitos que o conheciam sabiam que estava sempre dominado por violenta emoção, mas fingiam que nada acontecia, e quem era bobo de contrariar, virava logo um inimigo.

As noticias que circulavam antes deste providencial internamento, era que foi visto, berrando bem alto anunciando: Sou o dono do mundo e da bola, tudo isto aqui, é meu e de mais ninguém. Passou em seguida a insultar a todos, cuspir e dar sonoras gargalhadas pendurado no lustre do salão principal. Uma minoria que não era levada a sério, mesmo assim, afirmava que flagraram dando voltas e mais voltas em torno de si, na tentativa de morder uma das orelhas. O boato tomava conta do ambiente. Os pequenos grupos que ficavam do lado de fora na calçada conversando perto de um poste perceberam que um sujeito após vários murros começou a subir pelas paredes de tão enfurecido que estava. Não deu outra, era ele mesmo. Coisa de maluco era o comentário geral.

Tudo começou quando um operário numa bela manhã de agosto encontrou enterrado em um buraco com certa profundidade, coberto por muita grama; lá se vai alguns anos, um enorme objeto, na verdade, era uma caixa feita de madeira de dar em doido que se assemelhava em muito vagamente a uma urna. A noticia da descoberta, mal foi noticiada, para em seguida ser logo desmentida. Nada foi encontrado, assim foi declarado em nota oficial, era um simples osso enterrado por um vira-lata que morava nas redondezas e que foi confundido pelo ignorante trabalhador, com sendo uma urna.

O que se conta é que foi uma piração total, assim que recebeu a noticia do achado, com a boca espumando, olhos arregalados foi logo dizendo que era dele. Avançou sobre o objeto, arrancando dos braços do assustado homem. Tratou logo de dar um sumiço na caixa. Sumiu, ninguém sabe, ninguém viu. De lá pra cá, passava o dia, vendo fantasmas, ouvindo vozes do além e imagens masculinas. Eis que de repente por uma delas, ficou muito fissurado, a ponto de exercer uma idolatria fora do comum. Por aquela, vamos dizer paixão, faria qualquer loucura.

Na hora de ir para casa escutou ao passar pela portaria, um senhor que trabalhava como porteiro comentar sobre a descoberta do colega, levou logo um pontapé no traseiro; a moça do cafezinho, que conversava com o seu Manuel, o porteiro, teve a bandeja derrubada por tapas em suas mãos, apenas por comentar entre eles que o objeto achado era muito bonito e deveria valer muito. Não suportou ouvir os comentários, mandou os dois para o olho da rua. Se tivessem alguma coisa a receber, coisa que duvidava que fossem reclamar pelos direitos na justiça.

Começava assim mais um dia de fúria, que a cada dia era mais freqüente. Ficava fora de si. Até que, não se sabe bem o motivo, apareceu de supetão, naquela velha instituição psiquiátrica da zona oeste.

A desculpa esfarrapada dada aos filhos, é que iria fazer uma visita ao museu;aos amigos que ali estavam internados contou uma lorota ao propor a compra daquelas terras para fazer campos e mais campos para jogar pelada com a família.Comentário geral em uma rodinha, com certeza, só pode ser louco. A família muito preocupada discutia entre si, uns achavam que eram os sonhos e pesadelos que tinha desde a infância. Era na verdade um menino rico e mimado, outros achavam que eram delírios. Era um comportamento estranho e preocupante. Por mais que estivessem feito previsões, deu no que deu. Muitas eram as manifestações egocêntricas, assim, encasquetou que tudo que via pela frente, era dele e ninguém tascava. Tudo e todos giravam em torno dele.

A direção o aguardava. Depois de dar os primeiros passos, bastou um interno fazer caretas para logo partir para cima do homem, um senhor com anos de internamento. Daqui, pendurado desta grade me parece que é um enorme sapo e com nariz de Pinóquio que está se aproximando, berrou apavorado o sujeito que levava a fama de biruta que trabalhava na lavanderia. Também vejo um sapo, gritou o que estava em cima da árvore, chupando manga. Vejo um grande sapo, disse o anão encostado ao muro. Um sapo gordo usando cartola e carregando umas tralhas debaixo do braço. Se ficar internado aqui, será um louco de carteirinha. Vai ser doido de pedra. Um louco de curiosidade deu um salto e acabou vendo do que se tratava, mas saiu em louca disparada, rindo que nem louco, sumiu, após dar uma cambalhota, não espalhando o que tinha visto.

Não acredito no que estou vendo! Quando me contaram não acreditei. Belisca, belisca, me belisca que vou dar um troço, disse a secretária Neide, este hospício vai virar um inferno. É o mais louco dos loucos. Pelo amor de Deus, vamos mandar ele de volta. Por qualquer coisa, fica furioso. Tudo tem de ser respondido do jeito que quer ouvir, caso contrário sai distribuindo catiripapos nas pessoas, sobra até para quem estiver passando na hora. Um interno de bigodinho bem aparado, engravatado, segurando “Mein Kampf”, escondido atrás da porta, ficou louco de alegria em saber de quem se tratava. Achou que demorou muito em aparecer. Estava faltando ele, o nosso líder, nosso messias aqui neste hospício. Hei, hei, será o nosso Rei. Heil! Heil! ! Sieg, Heil! Heil! Heil Führer! Führer mein Führer! Anauê! Entoava as velhas saudações dos tempos em que era chamado de galinha verde. Será o nosso profeta. Fez as saudações costumeiras ao homem que passava, que respondeu de imediato esticando os braços e com um largo sorriso de aprovação. Passo depois para lhe dar um beijo, gritou para o homem do bigodinho e seguiu em frente em direção do gabinete do diretor.(Continua)

quinta-feira, 17 de abril de 2008

Vasco da Gama, um dirigente e sua pena.


A noticia que li de manhã sobre o dirigente vascaíno que não conseguiu obter o habeas-corpus, provocou em mim um ataque de riso, dada a obrigação da pena que o dirigente terá de cumprir. Uma delas, é a conversão em serviços comunitários, o lugar não poderia ser mais apropriado. Acredito que tenha sido escolhido de modo aleatório, desconheço os critérios. Ao recair em um hospital psiquiátrico, seja ele, Pinel ou a Colônia Juliano Moreira, acho que vai abrir enormes possibilidades do dirigente conhecer e conviver com aquela dura realidade de internamento de doentes mentais. Vai poder observar os pacientes em projetos de arte que fazem como uma das atividades destes centros de saúde. Vai conhecer muita coisa em sua passagem transitória pela Colônia, que ali, esteve internado o compositor Ernesto Nazareth, até a sua morte em 1934.
Vai lidar através desta prestação de trabalho de interesse comunitário, com um mundo que obviamente não é o seu, o dirigente pode estranhar, resistir, relutar bastante para não ser confundido com um deles. O que poderia perfeitamente acontecer se algum torcedor adversário desavisado achar que só pode ter ficado louco e ter ido para lá se tratar. Mas não é nada disso, cumpre apenas uma pena. Como é um serviço, datado em um período, acredito que não terá dificuldades em se adaptar, pois o que irá fazer será compatível com o seu perfil. Nada mais justo que não se interesse por varrer ou limpar sanitários, não que ele não seja capaz, pois parece ser um homem capaz de fazer coisas até que o diabo duvida. Serviços desta natureza, fazer assepsia em pacientes que necessitam de cuidados, poderiam o deixar louco de raiva, mesmo que alguns digam que de médico e louco, cada um tem um pouco, episódios deste tipo não seria o suficiente para que fosse confundido com um interno.
Vai pegar a oportunidade e dizer ao mundo que até nisto se sujeita, ao cumprir as penalidades impostas pela justiça, tudo com o propósito para preservar e garantir a defesa do clube que tanta ama. Para ele não importa que os outros acham, mesmo que sua postura seja através de tresloucados gestos, que sua aparente loucura dê vazão e seja exercida ao barrar as pretensões de uns insanos que não param de pensar em convocar novas eleições e vasculhar a vida intima de Sâo Januário. Tudo é feito no sentido de blindar o Vasco.
Como é para cumprir uma penalidade em serviços e não uma internação. Pois o contrário, seria uma cena que poderia verdadeiramente macular a imagem do clube. Aliás, graças a justa justiça que estamos longe de ver o dirigente atrás de uma grade, ou internado, logo ele, um guardião da moral e dos bons costumes, iria abalar os alicerces do clube da Colina. Seria o caos para o tão propalado modelo de administração que por suas carcaterísticas singulares implantadas que jamais um vascaíno verá igual
Passada esta minha fase inicial, fiquei acometido de preocupação com o dirigente, por exercer o seu cargo com tanto zelo para o qual foi confiado em missão e que em troca oferece tanta dedicação ao clube. Fiquei muito espantado, pois nem remunerado é, com isto não pudesse arrumar alguns trocados suficientes para pagar a multa.
Amigos meus disseram, que era uma preocupação boba a minha, pelo que liam nos jornais, o dirigente parece ser muito rico. Falaram e nem acreditei que tem um gasto exorbitante com o vicio, mesmo assim ponderei, tudo bem o dinheiro é dele, faz uso como bem entender. O pagamento à justiça pelo que foi estipulado, é um valor irrisório, em nada vai afetar o consumo de charutos, poderá continuar dando baforadas e fazendo previsões dos grandes acontecimentos em que o Vasco vai participar.
Pela lógica o clube dispõe de mais dinheiro do que o dirigente, logo, seria muito legal, se o clube pudesse neste momento como prova de reconhecimento do que anda fazendo e desfazendo no clube, dar uma mãozinha para o dirigente, pois tudo o que fez naquele dia e até hoje, foi para preservar o nome do Vasco; prerrogativa que lhe confere pela missão de ser o único, o mais capaz, de comandar o clube, como demonstra nos anunciados oficiais do clube.
Por estar imanado deste sentimento, desta missão, pode a qualquer momento, visando os interesses maiores do clube, não aceitar que maculem a instituição Vasco da Gama, mesmo que ele seja protagonista da noticia na condição de réu nesta penalidade. Está convencido de que deve continuar em perseguir os interesses em defesa do Vasco, está acima de tudo, é o que propaga.
No Vasco presidido pelo dirigente não cabe contestações, as permitidas e válidas são as proferidas pelo próprio. Negar por pura pirraça, não levar adiante uma solução imediata com o Fluminense na transação com Leandro Amaral, faz parte da expressão de seu comportamento, Intransigente na defesa dos interesses do clube, faz loucuras em seu nome em qualquer esfera, como a que foi feita na ocasião e lhe gerou esta penalidade dentre as tantas incluídas em sua carreira de dirigente.
Hoje mesmo que queira reparar no dano que causou em seu projeto que parece ter visto morrer na praia com a desistência de Romário em não se despedir apenas com a camisa do Vasco. Aliás, não se conforma com a decisão repentina do jogador, em fazer diferente do combinado. Mesmo que alegue que ainda há tempo, não adianta insistir, não vai haver a mesma eficácia se fosse realizada na ocasião própria para a despedida. Muito amigo do jogador, jura que não ficou abalada a longa e fraterna amizade entre eles, mas arrumou uma desculpa esfarrapada para não comparecer a um evento recente. Vamos aguardar os acontecimentos, muita água pode rolar em baixo da ponte.

quarta-feira, 16 de abril de 2008

O Caminho

















Pode ser este o caminho.
Só é este o caminho, para o encontro
marcado.
Levo
Na bagagem sonhos desfeitos, rabiscos
com manchas de ilusão, retirados de
um retrato em preto e branco desbotado
colado nas bordas com a poeira do tempo.

Em meus bolsos vazios carrego
o silêncio das horas.
A quietude solene do momento.

A chuva passeia por minha face
são apenas encontros.

Calado converso comigo.
Procuro me distrair
com as folhas e flores caidas
no chão.

Ando no compasso
da espera infinita
e
cansativa.

Deixo as
esperanças abandonadas
ao relento
nas paisagens
mortas da estrada.

Não! Não esqueci o sorriso, aliás,
nem trouxe.
Sigo por curvas sinuosas
a caminhada
que me distancia da vida
de Heloísa.

Resolvi depois de muito hesitar, já com os olhos marejados, deixar a casa de Heloísa. Sem me despedir dela, me despedia de um tempo. Em sua cama, deitada, esbanjava a natural beleza de sua idade. Heloísa continua sendo a mulher bonita que conheci em uma das caminhadas de uma manhã de setembro que fazia no calçadão. Uma troca de olhares, o inicio da conversa, no começo, era uma infindável conversa. Telefonemas durante o dia e a noite. Um jantar regado ao vinho tinto em uma cantina no bairro de Ipanema, não dos melhores vinhos, mas o nosso vinho. Não partilhávamos da idéia de quanto mais caro melhor, escolhíamos por qualquer outra razão. Não lembro como nos apresentamos, sei e lembro, que acreditei que era com uma deusa com quem eu conversava. Passou o encantamento. Sim, era a musa de minhas inspirações poéticas. Fui um vate apaixonado. Poesias muitas foram feitas ao sabor da paixão, nos embalos dos desenhos de nossos corpos agitados.
Uma troca de cumplicidades, de desejos, de vontades, da companhia, de uma amizade. Naquele dia, resolvemos ficar juntos. Ficamos morando em Copacabana, lá para o final do Posto 6, no apartamento que ganhou do pai. Filhos, pelo menos um, foi planejado e que apareceu em mês de maio, era um garoto, tão bonito quanto a mãe. Havia alguns traços que muitos dos amigos, diziam ser meu. O filho foi trabalhar em São Paulo.
Do nosso tempo, resta apenas os que ficaram guardados na memória, costurados pelas lembranças. Ontem para mim , continuava sendo o hoje e o amanhã. Heloísa, despida, deitada, com o suave aroma exalando e tomando conta do ambiente. O tempo não foi cruel com Heloísa, o tempo registrava em seu corpo o passar das horas. Por minutos parei diante de Heloísa, com os olhos busquei o passado, meu presente. Estou só, em minha companhia. A nossa animada conversa, desapareceu com a passagem do tempo, criando uma paisagem silenciosa, com intervalos para os olhares fixos. Mudos, não conseguimos mais dizer um ao outro. O silencio dizia mais coisas do que mil palavras cruzadas entre nós.
O pequeno apartamento me deixava sufocado, sem voz. Claro que sabia que não era o apartamento, um conjugado, era a nossa relação que demonstrava o momento de esgotamento. No primeiro domingo daquele mês, procurei conversar com Heloisa, no primeiro momento, recusava a conversa, o assunto, não lhe interessava. Do quarto onde estávamos caminhou para a sala, postou-se no sofá diante da televisão, aumentou o som, mais do que o normal. Heloisa encontrava com a vida, com a novela, chegava a falar sozinha ao comentar o noticiário. Vivia assim, com os prazeres do cotidiano. Lia um livro. O último que lia, vi quando deixou em cima do sofá, era Meus Queridos Estranhos, de Lívia Garcia-Roza. Dava telefonemas, para a mãe ou as primas. A conversa com a mãe, sermpre era a mesma, não variava. Era um tom monossilábico, repetivo com poucos minutos, que uma ou outra tomava a iniciativa de desligar o telefone. Esta rotina estava incorporada aos seus afazeres.
Voltei para o quarto apaguei a luz e deitei. Quando levantei para ir ao banheiro, percebi que a luz da sala estava acesa. Perguntei se não vinha dormir, não respondeu. A fala que se ouvia era do filme que assistia. Não lembro quando foi a nossa última conversa, nem sei se eu perguntasse, ela lembraria.




Florence Béal-Nénakwé - Pintora Camaronesa

quarta-feira, 9 de abril de 2008

O Sapo vai a uma pelada.

Andava sumido, ninguém achava e as informações sobre o seu paradeiro, eram todas trocadas, ou mudadas ao sabor do vento... Uns diziam que ele estava em um dos aposentos do Palacete, outros mais afoitos espalhavam que foi para o mato caçar borboletas e mariposas. Um cabrito aposentado que estava à toa na vida, sentado no meio fio, apontou berrando: Foi para aquele lado, dobrou a esquina. Um esquilo que se gloriava de saber de tudo na comunidade e da vida do palacete, garantiu que o Sapo estava vendo uma pelada no aterro.
Uma pelada no aterro!
Deus do céu! O Sapo não tem jeito, comentou a Lia Saúva, falando ao celular enquanto caminhava com uma amiga. Minha amiga soube através de Lu Marmota, amiga de muitos anos, que tem um caso de muito tempo com um assessor do alto escalão do governo, confidenciou no meio daquelas horas, sem saber muito bem do que diz, você me entende, falou bem baixinho em seu ouvido que o Sapo sem dar bola pra ninguém foi ver uma pelada. Imagine! Fiquei horrorizada. Um absurdo! Resmungou a Lia Saúva pegando o filho pelo braço, Uma vergonha!
Sapo é casado com a Loura Perereca, de papel passado, deveria se dar ao respeito. Um alto dirigente da comunidade, não deve e não pode ficar exposto deste jeito. Onde se viu? Continuava falando, daqui a pouco, na certa vai ficar envolvido pelos escândalos sexuais, igualzinhos aqueles da nação amiga, onde até uma estagiária fez aquilo, que não ouso dizer o nome, com o mandante daquela nação, que só pode ser de selvagens.
Praticam o sexo selvagem! Que Deus me proteja destas coisas. Vai ser o caos se acontecer em nossa comunidade.
O celular do Sapo estava desligado, tentava pela vigésima vez falar com o companheiro. Desistiu, mas conseguiu falar com Bode Ludovico, fazendo o interromper uma reunião muito importante que estava realizando em volta de uma mesa de botão. Como era para a comadre, atendeu. Pererequinha, não fica preocupada minha linda, você sabe que o nosso companheiro, em determinadas horas, precisa de uma folga. Foi com muita luta que conseguiu uma folga, depois de cancelar vários compromissos internacionais.
A Voz da Floresta ansiosa por notícias continua fazendo das suas contra o nosso mandato, nunca aceitaram que o povo assumisse o poder. Não aceitam que a comunidade esteja crescendo a todo vapor, abrindo mais o comércio com as nações amigas. Pererequinha como você sabe, vendemos tudo, só não vendemos a mãe.
Estamos com falta de transportes, continuou a contar, os feitos do governo, as carroças estão lotadas, devido a tanta encomenda, que chegamos ao ponto de entregar todas de bandeja.
Lindinha, você sabe mais do que ninguém que o nosso Sapo, é um trabalhador, um operário mesmo, muito dedicado ao comando da nação, ao seu povo, aos amigos dos amigos, que querem como você sabe que dispute o terceiro mandato.Não tem pra ninguém.
Vamos deixar o bando de tucanos dando bicadas a torto e a direito, quer dizer sempre bicando com a direita, criando fantasmas de golpe. Sei que você está pensando agora, que os amigos falam uma coisa aqui, outra ali, que acaba irritando o nosso comandante que para dar uma basta nesta situação ameaçou romper com o partido. Vai ter para o nosso desgosto que romper com a massa de animais famintos por mais uma eleição e uma boquinha. Pelo andar dar carruagem, o trajeto pode ser mudado.
Sem muito interesse pelo papo do Bode, pois estava preocupada com o paradeiro do Sapo, seu companheiro. Pediu para a secretária telefonar para os irmãos e nenhum deles sabia, onde estava o Sapo. O mais novo chegou a insinuar que ele foi com urgência fazer uma viagem internacional, visitar a ilhota, desejava saber mais sobre a sucessão, como o irmão do homem do charuto, estava se comportando.
Queria pegar a receita para ficar tantos anos no poder como o Comandante, se tivesse de fumar charuto, fumaria sem nenhum problema.
Horas e mais horas sem dar notícias, no entanto, por volta de dez da noite, toca à campainha, o Sapo havia esquecido a chave. Cumprimenta a rã que lhe abre a porta. Assim que chegou, interrompeu a conversa e desligou o telefone. Sem graça, mas fazendo graça.
Isto são horas? Insistiu na pergunta, por mais duas vezes, sua companheira de muitos anos. Suado muito suado, com o suor escorrendo, beijou a Perereca na testa. Sapo doido para tomar uma sauna, entrou se despindo, ia espalhando as meias, o calção, a cueca, jogando o tênis debaixo da cama, a camiseta em cima do sofá, o boné em uma cadeira, e a Perereca ia atrás recolhendo as roupas e reclamando. Onde você estava que não consegui achar, disse encarando para o companheiro, telefonei para os amigos e os amigos dos seus amigos, seus secretários e nada, ninguém sabia.
Pererequinha, você está tão linda, falou o Sapo de modo carinhoso, colocando a cabeça para o lado de fora do chuveiro. Não me chame de Pererequinha, nem de Tchutchuquinha, quero saber onde estava. Onde estava já disse. Estava lá, assistindo o desenrolar de uma partida. Fingindo de surdo, não respondia as outras perguntas. No fim, depois de um tempo e de uma tosse, contou, um pouco sem graça.
Quer saber, fui ver uma pelada no aterro, que acabei sendo convidado para entrar. A pelada estava rolando, um jogo bem disputado, como houve um acordo de ultima hora para haver prorrogação, acabei para atender os pedidos insistentes do povo que assistia e dos antigos companheiros do sindicato que não tive outra escolha senão aceitar a prorrogação, mas sugeri que poderia haver substituição, bastava olhar para as cadeiras. Sou favorável, está em minha formação democrática a dança das cadeiras. Lembra Pererequinha. quando conversávamos de bobeira, comendo moscas e olhando para a lua, em frente ao sindicato? Não vou responder. Quero saber com quem estava? Estava onde o povo está. Vim do povo e ao povo voltarei de braços dados. O povo na arquibancada, assobiava, gritava delirante, o time saiu com vitória, com o placar de três a zero, os gols foram feitos por mim, mesmo que o ultimo como alegou um tucano engravatado que nem pagou ingresso, sem ser convidado para partida, achou que eu entrava em total impedimento, no final das contas, acontece, fazer o quê?
Com tudo isto, o meu povo, aplaudiu freneticamente, que acabaram por pendurar em uma frondosa árvore uma faixa, em letras garrafais, avisando: em time que está ganhando não se mexe. Enrolou na conversa com a Pererequinha, não contou que a sua amiga estava presente ao jogo.
Em uma cadeira muito especial, como espectadora, a Mula Manca acenou sorridente e mandou beijinhos para o companheiro, aguardou o final da pelada, para comentar com um papagaio que estava ao lado, puxa eles quiseram mesmo a prorrogação.



Boris Vallejo - Nasceu em Lima, em 8 de janeiro de 1941. Muito interessante é a página do artista















segunda-feira, 7 de abril de 2008

O Jantar

Domingo, hora do jantar. Neste dia, foi mais tarde do que de costume. Às nove horas. Pensava em almoço, mas os filhos, davam preferência pela parte da noite, foi o que falaram ao telefone com a mãe. Um ia sair com os filhos e a mulher, o outro, ia almoçar com uma colega de trabalho. O namorado ainda não havia telefonado para combinar o jantar. Na semana passada, ao me dar um presentinho, disse que viria, mas telefonaria antes, até agora, nada de telefonema. Márcia inquieta olha para o relógio vê as mesmas horas por seguidas vezes. Parecia que os ponteiros deixaram de funcionar, estavam com defeito, assim pensou, que chegou a trocar as pilhas, por mais novas. Ficou convencida, não adiantou muito, as horas e os minutos, marcavam em seu ritmo, a hora certa. Havia combinado com os filhos este jantar, não tinha nada de especial, em vez de galinha assada, que estava acostumada a comer aos domingos com a familia, desta vez foi feito um peixe assado, era um Dourado, colocado em uma travessa nova que comprou na sexta-feira.
A única que tinha, Ermelinda, havia quebrado no dia anterior. Afoita ao tocar o celular, esbarrou na travessa antiga, que se espatifou ao chão, fazendo barulho e assustando Márcia, que no sofá assisitia ao noticiáro da manhã. Era a segunda faxina que fazia na casa. Da primeira vez, Márcia por ter de sair para levar uma irmã ao médico, deixou a chave com o porteiro João, avisando que a faxineira, chegaria a tal hora e pegaria a chave com ele.
A presença de Márcia na cozinha assustou Ermelinda que falava ao telefone, gélida pela situação desligou às pressas, não sem antes mandar beijinhos. Ciao! Ti voglio tanto bene, sei la mia vita! Baci, amore mio. Ti auguro un giorno felice. Está namorando algum italiano, Ermelinda? perguntou espantada, Márcia, nem sabia que Ermelinda falava italiano e que tinha um namorado estrangeiro. Ermelinda era filha da faxineira de sua mãe que mora na Tijuca. Márcia ouvira falar de Ermelinda, não conhecia pessoalmente, da vez que foi apanhar Dona Maria em casa, em um bairro de Caxias, neste dia chovia muito. Pensou enquanto dirigia que poderia conhecer a filha que Dona Maria falava e elogiava tanto. Mantinha uma curiosidade, gostaria de saber como era a filha de Dona Maria. Ao dobrar à esquerda na esquina do bar, mais cinco casas, à direita, morava Maria, com um neto, filho do primeiro casamento do filho, e a filha Ermelinda.
Dona Maria aguardava a visita na janela. Abriu à porta, recebeu com beijos e abraços a filha de Dona Dulce, sua patroa. Mal chegou disse que ia passar um café e servir, bolo de milho e biscoitinhos de nata, que fazia melhor do que ninguém, deste modo fez as apresentações do que de melhor fazia. Muitos acham que é a faxina, mas não é, disse orgulhosa arrumando os biscoitos. Estes biscoitinhos Dona Márcia, faço apenas aqui em casa, o neto gosta muito. Ermelinda, diz a torto e a direito que adora. Lino, é uma criança dificil de comer, dona Márcia, gosta dos biscoitos e não come a comida, só quer miojo. Lá vou eu pro fogão fazer o tal de miojo, pior que é apenas de um sabor. Come, mas não come tudo, sempre deixa um resto. Tá na escola este ano, olha como está crescido, disse a avó passando a mão na cabeça do neto.Ermelinda, é uma menina estudiosa, precisa ver dona Márcia, mostrando o retrato em uma moldura, nunca repetiu nenhuma série, este ano vai terminar o segundo grau. Uma bela morena comentou Márcia, fixando o olhar na foto, para ganhar de Dona Maria um sorriso encabulado de agradecimento. Ermelinda não estava em casa, tinha ido em Barão de Pilar, na casa de um primo, que passava por uma crise no casamento.
Vamos Maria, estamos atrasadas, preciso chegar antes das dez horas, vamos comendo biscoitos e conversando, foi o que fizeram, para estar dez minutos antes das dez na casa da mãe.
Passado o final do ano, atendendo a um pedido de Dona Maria que estava passando por dificuldades pois o dinheiro da pensão e o da faxina que recebia, não dava para muita coisa, Márcia, arrumou para Ermelinda faxina em sua casa. Dona Maria agradeceu, pois estava preocupada com a filha se conseguiria dinheiro para pagar a conta do celular. Que tanto fala Ermelinda, olho prum lado e pro outro, tá Ermelinda, grudada no celular falando baixinho, com quem, não sei. Não me conta nada, acha que não tenho direito de saber com quem fala ou namora. Ao levar o neto para a escola na parte da tarde, ao voltar, viu que havia correspondência. Pegou o envelope endereçado à Ermelinda, depressa guardou no meio do sutiã, escondido, era a garantia de que a filha não perceberia. Quando fosse tomar banho, abriria e saberia o que tinha de saber. Olhou, olhou, mas não entendeu nada. Vou acordar cedo e vou para casa de dona Márcia, pedir para me explicar,o motivo da conta de Ermelinda está tão alta. Dona Márcia conhece tudo, é uma professora, lê bastante, vai me ajudar. Não entendo, nem tenho celular. Não gosto, não consigo andar e falar ao mesmo tempo, coisa, bem deixa prá lá.
Toca à campainha bem cedo, na segunda-feira, Márcia atende, era Dona Maria, um pouco apreensiva querendo mostrar a conta de celular da filha. Tremia, pediu desculpas para Márcia, que não era certo o que estava fazendo, mas como mãe, preocupada com a filha, trouxe sem ela saber, a conta que mais uma vez, demonstrava um valor alto. Aí, como estou nervosa, dona Márcia, tirando da bolsa um envelope aberto, para entregar. Márcia passou os olhos e viu a repetição por várias vezes de um número de um celular bem conhecido.
Não quero ver, disse Márcia para Maria, que espantada recebeu sem entender. O que foi dona Márcia? A senhora está pálida. Nada Maria, quer dizer, achei o número de telefone de Hamilton. Tenho certeza que é o dele. Não pode ser dona Márcia, a minha menina nem conhece o seu Hamilton. Nem ele conhece Ermelinda. A senhora viu errado. Era o italiano, bem que naquele dia, ficou sem graça, com a cara assustada. Que intimidade! Dona Maria vou dispensar Ermelinda da faxina, ter uma conversa séria com os dois.
Os filhos estavam atrasados, não telefonaram, o telefone de Hamilton, estava fora de área, Insisti mais duas vezes e nada. A janta, o peixe tinha sido jogado no lixo, os filhos não apareceram, o namorado, nem telefonou. Ermelinda, queria conhecer a casa do namorado, o mesmo namorado de dona Márcia. Sabia quem era ele, descobriu. Queria ver a reação dele ao ver ali, na casa, fazendo faxina, ao lado da antiga namorada, mas não foi possível das duas vezes em que foi fazer faxina, Hamilton, não havia chegado. Um dia Márcia soube por alguém, que Hamilton e Ermelinda estavam morando juntos, em um pequeno apartamento na rua do Catete, Ela era bem mais jovem do que ele, empolgado, muito empolgado começou a ficar com uma mulher mais jovem, uma bela morena.

Eleuterio Sanches - Eleuterio Rodrigues de Sá e Sanches. Pintor, nascido em Luanda (Angola), mantém uma interessante página na internet.