quinta-feira, 20 de dezembro de 2007

O Time do Sapo Ficção Animal



Pelos tortuosos labirintos do Palácio, vinha o Sapo suando em bicas e abraçado com Ararajuba, um ex-sindicalista, técnico de pelada nas horas vagas e recém nomeado como conselheiro para assuntos genéricos e palpitantes do Palácio. Ar circunspeto, o Sapo não dava bola pra ninguém, ouvia ao pé do ouvido atento às confidências do velho camarada. Com a barba por fazer, de muletas por causa de uma pisada na bola no final do primeiro tempo, levou um tombo, por pouco não quebra a perna. Foi uma partida muito disputada que rolou com muita garra na Granja Ovo Torto, teve no desenrolar do jogo até um cavalo que deu uma entrada mais forte, derrubando o Sapo. Pangaré apenas recebeu cartão amarelo. O Burro soprador de apito em entrevista tumultuada concedida a Radio Papagaio considerou uma das melhores atuações que participou neste campeonato, graças também a prestimosa ajuda de Asno Louro, bandeirinha que o acompanha por mais de uma década. Houve de tudo na partida, inclusive expulsão de lado a lado. A conversa era interrompida a todo instante para reclamar da derrota e das dores que sentia na cabeça e na perna esquerda.
O adversário, o vitorioso time do Currupaco Papaco, da comunidade de Cinta Encarnada situada na periferia do palácio, famosa na criação de tamancos, desta vez entrou para vencer e pelo placar de três a um, com dois gols de Espoleta, um dos gols marcado do meio da rua o goleiro comeu um frango; o segundo após uma cobrança de falta, a bola resvalou no lateral Cabeça Chata, sobrou para Espoleta que emendou de voleio; o terceiro gol do atacante Baixola foi de bicicleta depois de seguidas pedaladas no adversário, passou a redonda para Bozó Diamante, que em seguida devolveu para ele no alto, matou no peito e com categoria mandou para o fundo da rede.
O veterano time do palácio todos considerados como peixinhos estavam inconformados pela derrota. No vestiário foram ouvidas palavras e palavrões. Pelo time do Palácio o gol foi marcado pelo zagueiro Besta Quadrada em posição duvidosa, segundo Gaguinho que proibido de entrar no estádio transmitia a peleja de cima de um telhado, apontou repetidas vezes gritando que o zagueiro estava mergulhado na banheira. Irado um jacaré de papo amarelo jogou um radinho de pilha em uma avestruz que em cima do lance gritava o nome do artilheiro Espoleta. Por pouco não arruma um quiprocó.
O publico da geral, predominante de torcedores do time da casa revoltados atiraram garrafas e bolinhas de papel no Burro que arbitrava a partida. No encerramento do jogo uma estrondosa vaia foi ouvida à distância. Um bando de ferozes policiais desconfiados que no meio da galera encontrassem diversos tucanos infiltrados na torcida, foram averiguar, farejando quem estivesse na arquibancada e na geral. Geraldinos e arquibaldos puseram a enfrentar a violência canina, com mordidas e pedradas. Ao descer para o vestiário duas hienas soltaram cobras e lagartos contra o técnico reclamaram que não tiveram oportunidade de mostrar as habilidades, se estivessem em campo, o resultado da partida seria outro.
Um macaco de macaquice sentado em um caixote levou os primeiros catiripapos assim que escorregou na banana e foi pisar logo no pé do Cotó, chefe da segurança. Saiu dali para ver o sol quadrado. Fumaça e Trovão, os lideres rebeldes das torcidas durante o jogo trocavam socos e pontapés, com a aproximação dos policiais, botaram sebo nas canelas e fugiram. Um língua de tamanduá entregou os dois, policiais armados foram ao seu encalço. Presos pela gola, acabaram sendo encanados no primeiro distrito da comunidade.
O Sapo dono da bola e do time desta vez custou a entender como um elenco de estrelas escolhido a dedo por ele, apenas composto por craques pernas de paus não conseguiu vencer o adversário, o ultimo colocado da Liga. O Sapo chamou apenas os amigos íntimos; mas sentiu muito, comentou com Maritaca, o famoso porta-voz do Palácio. Sapo Barbudo confidenciou ao amigo que foi com muito pesar barrar uma das lideranças femininas, uma das mais atuantes do movimento sindical, apesar de estar batendo um bolão. Contrariada a sereia teve de assistir de camarote, ao lado da primeira-dama, que assim que viu foi reclamar com o segurança, pois desconfiava que ela não passasse de uma penetra ou que tinha acabado de dar uma carteirada.
O que rolava no gramado do Palácio era de arrepiar. Um camundongo massagista insinuou que o velho Malaquias rondava o gramado, oferecendo uma mala preta repleta de patacas e tostões. Cotó ouviu a conversa atrás da porta e foi a seu encalço. Enquanto no vestiário do time visitante sapos cartolas reunidos coaxavam e contavam a grana arrecadada. O Sapo Gordo andava ávido por uns trocados, o clube andava na maior pindaíba, sem patrocínio, com isto teve uma brilhante idéia. O Sapo Gordo olhou para um lado e para o outro, viu que ninguém olhava, aproveitou, meteu a mão no primeiro bolo de patacas que viu, distribui a maior parte em todos os bolsos da bermuda, deixou alguns poucos trocados para o girino, um terço do terço foi repartido com dois membros do conselho consultivo do clube que são os seus auxiliares para assuntos jurídicos. Com a vitória sua cabeça e os auxiliares imediatos tiveram as geniais idéias de jerico, acharam por bem desfazer de um dos craques do time, nem que tivesse de desagradar a torcida. Aí daquele que reclamar! Esbravejou o dirigente em alto e bom som, dizendo proibir de freqüentar o clube, expulsarei qualquer um, darei um inesquecível chute no traseiro.
O time adversário quase não vencia, com esta sina, acabava no final das partidas nem eram entrevistados, a imprensa ignorava solenemente, mas desta vez o técnico Lambari ia dar uma coletiva para Bola Murcha, durante a entrevista bombástica à Cacatua, o repórter tagarela conseguiu saber que os salários do clube estavam atrasados por mais de dois meses. Sapo Gordo partiu pra cima do repórter querendo saber quem deu com a língua nos dentes, contrariado, determinou que a partir de agora nenhum jogador dará entrevista ou falará qualquer coisa, mesmo que seja apenas bobagens cabeludas.
Com o estádio do Palácio fechado, a maioria dos assessores foram embora, o publico que assistia pulou fora e o Sapo Barbudo, deprimido com a derrota foi fazer uma sauna para relaxar, mais tarde programara um pagode na casa da Vovó Bibi, uma lagartixa, uma ex-comunista que virou proprietária de casas de shows, na Vila dos Tostões ao lado de uma casinha de sapê.

Imagem do Sapo

sábado, 8 de dezembro de 2007

Hoje tem espetáculo: Vai começar a brincadeira. Ficção Animal












Dr. Coelho espalhava que fazia tudo e sempre em prol da comunidade do Rato Malhado tinha um carinho especial por estes moradores da periferia. Certo dia, Coelho pulou da cama bem cedo, beijou muito entusiasmado sua Coelhinha na testa, deu uns beliscões em uma das partes do corpo de sua companheira e saiu plantando bananeiras. Como exercício mental e matinal desviou das cercas e grades instaladas em sua toca; cumprimentou com um chute um cachorro doido que tocava viola encostado a um poste, espantou um morcego assobiando bem alto. Correu atrás de uma velha galinha, achando que ela ainda dava um bom caldo. Chutou baldes e canecas que estavam espalhados em seu caminho, pulou com maestria um despacho, posto na esquina e seguiu célere dando sonoras gargalhadas e socos no ar para alegria dos passantes.

Além da cenoura, comeu muito capim, quando voltou da corrida em volta de si, olhando apenas para o espelho. Treze minutos depois, começou a malhar no ferro e no velocípede. Ingeriu vitaminas e folhas. Alongou as pernas e as orelhas. Como hábito do oficio adquiriu uma mania de cumprimentar todo mundo, este vicio surgiu durante a campanha política que fazia ao disputar o cargo de prefeito. Outro vicio criado em sua trajetória como candidato era ao avistar qualquer filhote, tinha a qualquer custo pegar no colo e tirar fotos para a posteridade. Depois de eleito nem lembrava dos eleitores nem de tais gestos de afago. No entanto, não esquecia, aparecia sempre nos veículos de comunicação, para preservar a sua imagem de um bom prefeito; empolgado mandou imprimir várias fotos coloridas em 3x4, ao lado de um papagaio de pirata e enviou para as rádios mostrarem aos seus ouvintes. Fotos autografadas e com os dizeres: Um coelho louco pela comunidade e sempre ao lado dela.

Assim foi levando na conversa vários animais. Para obter votos fazia o possível e o impossível. Até nadar de costas em um rio cheio de jacarés e piranhas. Dr. Coelho de posse de uma prancha se exibia, fazendo estripulias, conseguiu sem muito esforço uma enxurrada de votos e foi eleito. Era comum ouvir declarações de votos: Tô com o Coelho e não abro! Coelho lá e eu aqui! Uma borboletinha, muito bonitinha, toda arrumadinha cantarolava para alegria de sua mãe e da multidão ensandecida: ”Coelhinho, se eu fosse como tu, tirava a mão do bolso e enfiava a mão no... “

Um grupo de animais endinheirados, filhotes dos proprietários das melhores e maiores estrebarias, inventaram uma brincadeira muito divertida, que consistia em acertar a cabeça oca do prefeito com ovos podres, toda vez que passeava pelo calçadão; aquele que acertava era considerado por muitos da tribo como um verdadeiro craque. Dois exímios jumentos foram os ganhadores da competição, cada um deles acertou com cinqüenta ovos a orelha e a cabeça oca do prefeito.

Assim que chegou por volta das dez horas em seu gabinete, bastante cansado, aproveitou para descansar e ficar olhando para o teto. Só então começou a enrolar o mais que pode os fios de ovos e de arames espalhados em sua mesa; jogou os diversos papéis na caçamba, montou um castelo de cartas, só então percebeu que uma bala dulcora espatifou na vidraça de seu gabinete. Gritou pelo segurança, que não respondia, estava ausente; uma zebra que passava na hora, lembrou que o doberman, funcionário exemplar entrara de férias e a secretária abelhuda estava providenciando um substituto.

Deu bom dia ao cavalo, que foi indicado para substituir o doberman. Consultou sua agenda e passou a convocar o seu secretariado para uma reunião em seu gabinete com seus auxiliares diretos e indiretos, dentre eles uma anta, dois camundongos, uma coelhinha assistente em assuntos genéricos, um papagaio, duas capivaras, cinco arapongas e um porco. Pensaram e repensaram em fazer uma homenagem aos torcedores fanáticos da comunidade.

Dois dias depois sob a calada da noite e de modo sigiloso, resolveram elaborar um minucioso plano e fazer uma surpresa aos torcedores abutres, anunciando sem mais nem menos, que doravante, esta fiel torcida de abutres, será tombada como bem cultural da Terra de Santa Cruz da Bicholândia. O esperto Coelho Cri Cri, ao lado do urubu malandro, convocou a imprensa para uma coletiva. Com os holofotes acessos, com as atenções voltadas para ele, aproveitou o momento, entrou no picadeiro, subiu em um engradado de cervejas e iniciou o seu discurso oficial embaixo de uma lona remendada: Senhoras e Senhores! Respeitável Público! Vamos dar inicio a mais um grandioso espetáculo do crescimento da comunidade. Nossa administração municipal tem muito a ver com o circo. É inegável nossa semelhança. O que seria de nós se não houvesse palhaçadas. Somos palhaços das perdidas ilusões. Pisamos neste chão de estrelas, em que a estrela maior, sem dúvida são vocês, meus queridos eleitores. A partir de hoje daremos pão e circo. Pérolas aos porcos e milhos para os galináceos. Os animais que quiserem poderão viver na corda bamba. Quero ver o circo pegar fogo, gritou um gambá prá lá de bêbado interrompendo o evento. A guarda municipal pegou o gambá pelo cangote, deu duas pancadas no lombo, uma rasteira e pôs para correr com o bicho para fora do recinto. O espetáculo mal tinha iniciado e apareceu logo um gambá para fazer graça.

* Imagem extraída deste interessante blog. Sala da Mãe Joana.

quinta-feira, 6 de dezembro de 2007

Durma com um barulho destes.









O barulho que sinto aqui em casa parece ser infernal, muito irritante dada propagação de sons das mais variadas emissões e distâncias. Tenho impressão que vivo cercado de sons por todos os lados em qualquer hora e dia da semana. Latidos e buzinas são alguns dos participantes ativos desta louca orquestração. No meio deste caos, o canto de um pássaro se faz presente. Um sabiá, um Bem-Te-Vi ou mesmo o chiado de um pardal, é um alivio temporário para os nossos ouvidos.

Os sons invasivos, ruídos que ficam incorporados ao meu dia a dia, elevando minha irritação. Vivemos no gozo de uma alta poluição sonora. Há um permanente barulho de obras nos condomínios e como fazem obras. O agradável som das britadeiras está presente em meu cotidiano. Alguém pode gritar para mim e dizer que isto é o som do progresso das cidades, dos bairros, das ruas. Com desordem e barulho vamos progredindo e modificando a paisagem urbana. A cidade está em movimento e o barulho é a prova contundente de que há transformação do cenário urbano. Aos poucos não sei se vamos habituando com os barulhos que são incorporados nos espaços da cidade.

Uma das que colabora seriamente para este estado de coisas é o barulho que faz a vizinha do andar superior, ao andar, ao descer as escadas, arrastar móveis em qualquer horário do dia, latidos de seu cachorro, portas batendo, tudo que faça barulho de modo estridente, como a limpeza de louças e talheres ou mesmo as batidas dadas nas carnes no preparo de sua comida, ela sabe fazer e faz bem alto. Para atender ao telefone sempre corre de um lugar a outro, mas outro dia, gerou uma dúvida em mim, se ela trotava ou corria como ela não pertence ao mundo dos animais, fiquei convencido de que ela realmente corria.

Copacabana é um bairro por excelência muito barulhento, seja na rua, nos bares ou nas residências. Na parte da noite, durante a coleta de lixo, é o momento de se configurar a impaciência, a intolerância com a obstrução temporária da rua pelo caminhão quando é abastecido dos lixos residenciais. Há dias em que as buzinas e os xingamentos são as armas preferidas para serem lançadas contra os trabalhadores da limpeza urbana. É bom registrar que o barulho produzido pelo caminhão ao processar o lixo, é de endoidecer, parece que a manutenção é precária, daí os ruídos. Estes motoristas só pensam neles, não se importam se há moradores em suas casas ou pessoas transitando pelas ruas, querem é buzinar de modo insistente para demonstrar o quanto são importantes e estão sendo incomodados pelo caminhão da limpeza. Não suportam a presença grupo de trabalhadores, ainda mais estão em seus ofícios hierarquizados socialmente de modo depreciativo. Não reconhecem a importância da coleta de lixo. Muitos motoristas impacientes exteriorizam verbalmente este distanciamento social.

São tão boçais estes motoristas em seus carros que demonstram verdadeiramente uma violência contra o que está atrapalhando a passagem destes educados motoristas. São incapazes de perceber a necessidade da coleta de lixo e o melhor horário teria de ser noturno; quando havia recolhimento do lixo na parte da manhã ou tarde era o mesmo tipo de resposta, buzinas e xingamentos. Alguns mais exaltados partem para cima dos trabalhadores, desafiando-os.

Em alguns lugares do bairro podemos escutar barulhos de intensos tiroteios nos morros da cidade, ou melhor, como preferem atualmente chamar de modo eufônico de comunidades. Trocas de tiros regem um dos sons da cidade. Pior que atinge uma platéia que não está disposta a participar destes eventos belicosos. Somos alvos preferenciais das balas perdidas.

Tudo contribui para o nosso ensurdecimento, o barulho do transito caótico, as eternas obras destas concessionárias, o apito do guarda, nem sei quantos decibéis são produzidos e permitidos. Mesmo se eu soubesse de nada adiantaria o barulho não ia deixar de existir pelo simples fato de ter ciência dele. Um dos sérios contribuintes para perturbar o sono, é o zumbido dos pernilongos e outros insetos. Sinais de garagem são incomodativos. Já tive cachorro e sei que incomoda.

Um dos sons que ouço com prazer quer dizer o barulho é da alegria contagiante que fazem meus netos, é nitroglicerina pura de felicidade. Ricardo tem se mostrado mais vibrante, grita com mais estardalhaço do que o irmão, quando aparecem em nossa casa.

Na minha rua aparecem estranhas figuras transitando pelas calçadas, um deles é um que está convencido de que é um cantor e abre o bico bem alto, cantando música de cantores populares. Seu maior hit é a música de Leonardo “Pense em mim”. Esta exibição acontece pelas manhãs.

Enfim, durma-se com um barulho destes.

* Imagem: Mário Cesariny - Pintor e Poeta, considerado por muitos como o maior representante do surrealismo português. Nasceu em Lisboa em 9 de agosto de 1923 e faleceu em Lisboa em 26 de novembro de 2006.

quarta-feira, 5 de dezembro de 2007

A Galinha Dondoca e sua amiga Zuzu




A galinha Dondoca vestida sempre de branco, estava tomando conta de um dos filhos de sua amiga de longa data, que teve de sair de madrugada com urgência em busca de emprego. Estava ficando difícil para a sua amiga, ainda mais que tinha separado recentemente. Seu companheiro abandonou o lar, a merreca que conseguia, era lavando as charretes, depois levava para gastar no bar da Tia Coruja. Todo dia chegava bêbado e cada vez mais quando se aproximava o final do mês piorava em muito a vida dentro de casa, com uma briga atrás da outra.

Uma noite de lua cheia, chegou tarde, espoletado, mais bêbado do que seu amigo gambá, que acabara de deixar o velho amigo na porta de casa. Dudu mal conseguia acender a luz, tropeçou em um brinquedo e por pouco não caiu. Com raiva achou que a culpa era de Zuzu que não cuidava da casa, deixava tudo espalhado. Deu um chute na porta trancada, pegou uma peixeira que estava escondida e foi em direção da companheira e dos filhotes, foi uma confusão total, penas para todos os lados; chegaram os vizinhos acompanhados por dois pastores policiais e um sargento cavalo, que estavam de plantão nas cabines, que por sorte patrulhavam o local. Solícitos partiram correndo atrás do velho peru, conhecido biscateiro da comunidade do Rato Malhado, vizinha do Buraco do Boi de um lado e do outro com o Morro do Pinto e o Caminho da Lacraia. Passou uns dias em cana, assim que saiu, ninguém sabe, ninguém viu. Um mês depois aparece em casa todo serelepe, como se nada tivesse acontecido.

Assim deste jeito o amor foi acabando, as crias crescendo e a distância entre eles aumentando. Não se cumprimentavam mais, os pintos quando o viam chegar; assustados corriam para debaixo das caixas de papelão. De manhã para não ver Zuzu, ele cismava de olhar para o chão, ignorando a presença de sua companheira, a galinha Zuzu. A vida naquele galinheiro estava chegando ao fim, cada um para o seu lado. Um belo dia saiu para comprar cigarros e não voltou mais. Deixou os filhotes e despesas para a sua companheira, que sem tostão e sem pataca, acabou por pedir emprestado aos amigos.

A boa vida que a sua amiga Dondoca levava, não leva mais, agora como aposentada, perdeu várias regalias, mas tinha um coração sempre aberto para ajudar as amigas necessitadas. Zuzu uma galinha caipira era uma de suas melhores amigas de infância. Sua vida era de sacrifícios, cheia de pés de galinha, sem alguns dentes, sem nenhum cuidado. Houve um dia, lembra Dondoca que ao sair em busca mais uma vez de emprego, acabou conhecendo um gavião, todo emplumado, todo prosa, acabaram se juntando e foram morar na roça, lá pelos lados do Matão. Dois galos que cantavam em praça pública, avistaram Zuzu na companhia de dois pintinhos, toda elegante, desfilando e nem parecia aquela que morou na comunidade do Rato Malhado. Toda diferente com as penas douradas e sapatos bico fino prateado.

Zuzu deixara os filhotes, na casa das amigas, nunca mais voltara para saber deles ou fazer uma visita as suas amigas. Zuzu vivia uma nova vida ao lado do gavião, político militante do partido do Sapo, dono de bancas de jogo do bicho. Mandava no pedaço, contratou até uma raposa, para ser segurança de Zuzu; meses depois de viver desfrutando do bem bom, uma nova vida; em uma nebulosa manhã, não resistiu ao sofrer vários golpes na cabeça, ser depenada com truculência, seu corpo foi abandonado em um hospital abandonado distante da comunidade do Rato Malhado. Suspeitas de tamanha violência pode ser uma raposa que foi contratada para sua proteção e encontra-se foragida.