terça-feira, 11 de setembro de 2007

Noite

Vejo a noite passar por mim devagar

Aproveito recolho meus sonhos

Prateados esquecidos do lado de fora da janela.

Eram muitos. De vários tamanhos.

Um por um, fui guardando.

Não os coloquei em fileira.

Peguei uma etiqueta azul

Uma caixa preta empoeirada.

Enorme.

Fechei a janela e

Voltei a sonhar

Acordado.

domingo, 9 de setembro de 2007

Na Rua

Ando pelas ruas eternas, atravesso esquinas, dobro quarteirões ,
transito pelas calçadas
Cortadas. Emburacadas
Atravancadas
Cheias de ambulantes.
Silêncio estão trabalhando!
Enquanto,
Pivetes cheiram mergulhados no odor
Da sobrevivência
Cambaleantes
Surrupiam nossos pedaços
São manchetes de jornais
nas bancas de revistas.

Paro em sinais, sigo.
Avanço sem direção na contramão
Rápido passo pelos pedestres,
Desvio
De outros.
Olho seus olhos

Mulheres que encantam as ruas
Algumas quase nuas
Desfilam
Idosas se multiplicam
Pelo tempo.
Os homens envelhecem
Aquecem a vida.

Luzes da cidade
Cintilam como os faróis.
O homem acena
Em cenas urbanas.
Carros e bicicletas
Atropelam

O apito quebra o silêncio
Momentâneo
Gritos barulhos buzinas choros
Sirenes escandalosas berram pelas
Avenidas, travessas e becos
Túneis abandonados escuros
Assustam

Vozes das cidades
Operários nos canteiros
Cimentam emoções
As crianças correm em
Busca da utopia.

Apressados esbarram
Xingam, Protestam
Resmugam
Abaixo o Caos!
Ando na multidão
Ouço em um canto
o canto dos pássaros
Engaiolados como nós.
Fingem que são alegres
Felizes para sempre.

Na porta do café
Conversam, bebem
Os namorados beijam
Esquecidos do tempo
Os mendigos dormem
E pedem
Afugentam
O esgoto purifica o ar
Viciado

O homem mija no coqueiro da praia
Cachorros brincam na areia, sorriem
Uns pros outros
A praça é do povo.

O sol ilumina minha paisagem.
Rasgo em passos céleres meus
Caminhos sinuosos.
Despojados

Dou voltas e sigo
Rumo
Para o meu
Mundo

À noite surge diante de mim
A lua desfaz meu delírio
Fecho os olhos
Acordo adormecido
Ouvi um grito parado
No ar.

terça-feira, 4 de setembro de 2007

Apresentação

Olá!

Há muito tempo que venho amadurecendo a idéia de criar um novo espaço de comunicação, superada a dúvida inicial, acabei hoje de dar corpo e alma ao blog Esquinas do Tempo. Verdade, que hesitei bastante, se não tenho dado conta do antigo, como poderia assumir a confecção de um novo espaço. Pretendo aqui, deixar textos escritos ou reescritos. Alguma coisa que entendo como uma literatura destinada ao meu blog, sem muito compromisso, apenas trabalhando em sua forma de rascunho, sem um público definido ou em busca de um público. Seria um exercício, uma experiência em lidar com novas formas de linguagem. Eu aqui, diante de um "espelho", com intuito de refletir, escrever ou dizer coisas que venha da "telha". Ainda, deixo claro, que lido com certa dificuldade em escrever, uma atitude solitária, é verdade, mas não me habituei. Muitas vezes dá um branco, um lapso, um vazio, que eu gostaria que fosse preenchido. Levanto, tomo água ou café, saio, volto e às vezes, para continuar tudo em brancas nuvens.

O motivador maior de meu blog, na verdade foi o outro neto, o segundo, de nome Ricardo. Como o primeiro blog foi estimulado pelo nascimento do meu primeiro neto Ramom, fiquei assim em débito com o segundo, que pouco mencionei em meus escritos. Hoje os dois transformaram referência para o meu cotidiano. As coisas do meu dia a dia, sempre passam pelos cuidados com eles. Os dias da semana que ficam conosco (Eu, Marilene e Adélia, mãe de Marilene) servem de preenchimento com satisfação e alegria da convivência desde das primeiras horas do dia. Somos de alguma forma coadjuvantes deste momento em que eles passam a protagonizar as cenas. A rotina naturalmente é quebrada, ou melhor, alterada. Mas vale a pena, ter netos é viver um momento de encantamento e surpresas.

Achei o texto que postei em minha gaveta, ali em silêncio, pedindo par vir a luz, o resultado depois da prévia leitura, resolvi publicar. A sorte está lançada!

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Estou a ponto de fazer uma loucura, disse em voz alta e irritada ao telefone, Maria para sua mãe. Em seguida desligou com um gesto brusco o telefone, batendo com violência. Continuou desta vez, falando sozinha, para as paredes como gostava de dizer. Olhou para o relógio, ao avistar a hora ficou mais irritada; também percebeu Júlia em seu quarto de dormir, pelo barulho que fazia a mãe na sala. Que saco! Reclamou Júlia. Nem foi ouvida.

Júlia levantou, abriu uma das janelas, o sol de Copacabana acabava de invadir o seu quarto. Em outro quarto, Marcelo não se dava conta do que ocorria a sua volta, continuava a dormir um sono solto. Nada o incomodava, tinha chegado tarde e deixado um aviso pendurado na porta da geladeira, com letras garrafais, que estavam proibidas de acordá-lo antes das 10 horas. Maria costumava ignorar estes avisos quando tinha necessidade de falar com o filho. Era um dos poucos horários em que havia um encontro, embora, não fosse o ideal, ele dormindo, ela acordada. Sacudidelas em Marcelo e a voz alta era a senha para que ele levantasse e escutasse o que a mãe queria.

Júlia caminhou se arrastando do quarto para a cozinha. Esquentou o leite e ficou também irritada ao notar que a mãe não tinha feito o café. Queria pão com mortadela. Viu que estava em falta, nem pão, nem mortadela. Resmungou em seguida, para apanhar o pacote de biscoito salgado no armário. Ninguém faz nada nesta casa, o recado, o único, era para quem ouvisse. Ouvir música era o que mais gostava.

O telefone toca, Júlia corre para atender, era a avó querendo falar com a mãe. Recomeçam com a conversa anterior.

- Mãe sabe que horas são? Pois é, Gérson ainda não chegou.

- Calma minha filha.

- Há muito tempo que ele está assim Tenho reclamado. Juras e promessas de mudanças são encenadas.

- Ele continua reclamando de mim de que estou gorda. Disse e repetiu. São coisas que machucam, me deixam pra baixo. Que eu casei e relaxei.

- Não adianta reclamar, a grana é curta e não me dá direito ao luxo, de freqüentar uma academia de ginástica e ter outros gastos para ter um corpo sarado. Mãe está ouvindo? - - Não tenho saco de ficar malhando, ele não entende e nem você. Vou deixando a vida me levar.

A caminhada que eu dava era em shopping, odeio caminhada pela orla, desde a última em que eu pedalava uma bicicleta novinha, comprada no crediário, em suaves prestações. Veio um pivete e me tomou. Assustada, deixei a bicicleta, quando olhei para trás, lá ia o moleque disparado.

- Desliga o som, Júlia! Tornou a repetir, desta vez aos gritos.

O barulho da porta se fez ouvir. – Mãe, ele está chegando, beijos.

Deu alguns passos e caminhou em direção à Maria, para dar um beijo em sua face. Maria desviou. Ficou alterada com a sua presença aquela hora, sem nenhum comunicado, nenhum telefonema. Tá pensando o quê? Precisamos conversar. Trancou à porta do quarto.

O resto transformou em silencio, mas em seguida berros foram ouvidos.