quarta-feira, 2 de janeiro de 2008

O Dia de Folga de Batoré, o Jacaré















Batoré, o Jacaré, aproveitou o fim de semana que estava de folga do batente para visitar os amigos que moram à beira da Lagoa das Garças. Quase não aproveitava o dia de folga, há muito tempo não desfrutava os momentos de lazer, pois sempre a sua companheira arrumava uns servicinhos para fazer em casa, mudar ou remendar uma cerca, varrer o quintal, pegar na enxada ou trocar uma lâmpada. No entanto jogar conversa fora, era mesmo o que mais gostava. Levava papos e mais papos, no final do dia, de tanto conversar ficava de papo amarelo de tão cansado. Dormia pregado na rede, com os olhos abertos.

Dos numerosos filhotes – havia no momento cinco, dois machos e três fêmeas que ficavam sob os cuidados de Bela, a sua última companheira – que bagunçavam a casa, espalhando brinquedos, moluscos e farelos. O dia inteiro varrendo e educando os filhotes. Um trabalho dobrado. Pior que nenhum deles, obedecia. É falar por um ouvido e sair pelo outro. Pingo o mais levado, adorava mergulhar no rio cheio de piranhas, nadar de costas e surfar. Depois ia tomar banho de sol. Mindinho o mais novo engatinhava mexendo em tudo de sua casa e das casas dos vizinhos.

Batoré neste dia levantou cedo, mal clareou o dia arrumou o farnel em uma marmita, a prancha, colocou os óculos escuros. Morava no distante lugarejo de Caminhos do Brejal. Há dez quadras dali, morava o amigo Coatá, antigo sindicalista, habitante de um tronco abandonado à beira da Estrada do Patola. Haviam combinado, se a folga coincidisse, os dois reencontrariam com os antigos companheiros de aventura e de labuta. Chegou então este dia. Coatá estava muito ligado e entusiasmado com esta folga. Levantou muito cedo, pegou o radinho de pilha, pencas de banana e óleo de bronzear, colocou tudo dentro de uma mochila. Deu beijos na macaca sua mãe e nos filhos, bateu a porta, estava em cima da hora. Batoré e Coatá marcaram um encontro no boteco do Javali, na verdade uma birosca bem na curva da estrada da Cascavel, dali depois de dar uns goles em uma birita, partiram cantando rumo ao ponto final da carroça.

A carroça passava de 40 em 40 minutos, quando aparecia no ponto, era uma enorme confusão, muitos queriam furar a fila que estava do tamanho de um bonde. Uma pisada de elefante tirou do sério uma tanajura, que no momento estava aos beijos e abraços com o coelho. O coelho pegou a cartola no bolso viu que a coisa poderia pintar alguma sujeira, aproveitou um momento de distração que a tanajura chorava de dor, sumiu. Que aos gritos de dor e de xingamento recheadas de impropérios eram dirigidas ao enorme e obeso paquiderme. Do alto olhou com desdém. Fechou uma tromba. - Vai te catar! Vá procurar a sua turma! Vá ver se estou lá na esquina. O elefante muito suado, continuou na fila, desta vez, trombando com um veadinho que aguardava o momento de subir na carroça. O veadinho irritado com aquela situação chamou aos gritos pelo vigilante Lobo, para colocar ordem na fila. - Olha aí amizade! Uivou o Lobo bem alto. Vê se manera! Entra logo na fila. Largou maior bronca para cima de uma mosca, que zumbia enlouquecida na fila. Não bagunça o coreto, se bobear meto logo o cacete. Vou apelar para a ingnorança! Mandou logo aos empurrões um furão para o final da fila. Enfiou a mão em uma cobra que ficava se enroscando na fila, sem andar. Tudo nos conformes só então foi liberada a carroça completamente lotada para seguir viagem.

As reclamações eram muitas, havia algumas vezes, superlotação. O carroceiro não era o mesmo, desta vez veio uma besta. Por ser nova no oficio não sabia direito o trajeto. Em vez de seguir o trajeto habitual, achou que ao entrar pelo atalho, chegaria mais rápido, estava muito atrasada, mas deu com os burros n´água, foi dar em um beco sem saída. Algum espírito de porco trocou as setas que sinalizava os lugares. Assim que adentrou a comunidade, bandos de ratos saíram do porão e pularam dentro da carroça tomando tudo de todos; levaram pranchas, rádios, tudo que estava no interior da carroça. A tanajura abriu o maior berreiro, desta vez, levaram os anéis que um besouro, seu último namorado deu de presente. O veadinho que estava cochilando em um canto da carroça, foi encostado um trabuco perto do seu coração e teve de entregar tudo que iria levar para a praia. Arruinado começou também a chorar.

O líder do bando tomou as jóias de uma coroa sentada em um banco lateral, da mosca levaram os doces que trazia escondido no fundo da bolsa. De duas mariposas levaram os últimos trocados conseguidos com muito suor e sacrifício em seu trabalho noturno. São ratos escrotos, um deles teve a cara de pau de passar a mão em minhas asas. Vai ter volta, comentou entre elas, assim que eu encontrar com o amigo da onça, vou mandar o recado para Raposão. Vamos acertar as contas.

Surrupiaram a bolsa da besta, com o movimento do dia, cheia de patacas e tostões. Três ratos menores que viviam nos esgotos, tiraram o couro e a marmita de Batoré; de Coatá carregaram a mochila. Dos dois restou apenas a amizade para voltarem para casa. O maior mico que relaxava sentado ao chão, na maior lona ao lado de uma bela perua, carregou a roupa de circo e da perua uma coleção de perucas, de pinga e uma caixa de costuras. Depois que fizeram a grande limpa, se mandaram. Dom Ratón o líder da facção dos Amigos dos Amigos do Mouse da Zona Leste da Baixada, percebeu a presença da puliçada e deu no pé, avisando aos demais companheiros. Um gato e dois porcos malocados à distância davam cobertura para o grupo de ratos

Todos foram parar na delegacia para prestar queixa. Doutor Big Queixada delegado titular da Delegacia de Achados e Perdidos não queria uma muvuca em seu ambiente de trabalho, mandou logo as favas aquela turma, vão se queixar para o bispo; bateu com a porta na cara do abelhudo que acabara de entrar, que muito zangado queria prestar queixas sobre a sua mulher, dona Abelha que levou os filhos e sumiu da colméia.

Shikhani :












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