sábado, 26 de janeiro de 2008

As Obras do Coelho.















“Onde está o dinheiro? O gato comeu, o gato comeu. E ninguém viu. O gato fugiu, o gato fugiu. O seu paradeiro está no estrangeiro. Onde está o dinheiro? Eu vou procurar. E hei de encontrar”.

Será que está com os ratos? Olha, lembra como ficou besta aquela ratazana, depois que o rato seu companheiro enriqueceu de patacas, queijos e vitaminas, comentou a arara fofoqueira com a sua vizinha de galho. Sumiram e ninguém mais viu. Um Cavalo Marinho tarimbado repórter policial, depois de incansável busca nos arquivos do jornal, que não deu em nada, achou melhor espalhar que foram para o Paraíso, carregando tudo que ganharam, desde patacas e dólares guardados na cueca aos tostões, fizeram a maior limpa.

Amiga precisa ver como ficou aquele gato de botas, ficou muito endinheirado, com bolsas e sacolas cheias de tostões e patacas. Vivia encostado nos postes, cantando as gatinhas, mostrando as garras para quem passasse, não tinha patacas nem para aparar o bigode. Nem banho tomava. Sempre em companhia de uns gatos pingados, dois deles aposentados, os outros três ainda trabalhavam como gatos das centrais telefônicas. Morava pra lá do Buraco do Boi, em um cantinho cedido de favor pelo Angorá, antigo dirigente da associação de moradores; agora aparece sorrindo em companhia de um gatuno todo engravatado, distribui tostões para os jumentos desempregados, biscates para alguma franguinhas e trabalho temporário para os dromedários. Inaugurou templos para os pastores trabalharem. Fazia de tudo para obter mais votos. Nos becos e esquinas, bem-te-vis e corujas espalhavam que o gato está deste jeito por fazer muita trapaça, assim subiu rápido chegando ao telhado muito depressa. Era o pulo do gato, comentava ciscando na fila duas galinhas ao fazer hora para ir ao dentista.

A Madame Gata, agora com os pelos pintados anda de um lado para o outro, só de charrete de último tipo, conversível e ar condicionado. Na parte da manhã até as 5 horas faz compras em companhia de uma gata selvagem, uma antiga amiga de esquina. Durante a noite por volta das 18 horas assiste em companhia de um gatinho que achou na rua, a novela A Gata Comeu. Disse uma foca que esteve aqui para fofocar, que elas são amigas íntimas do Sapo e da Perereca. Nas sextas-feiras são convidadas para comer caviar no palácio, saem com os beiços lambuzados. .

Coelho um dos representantes do partido do povo animal no parlamento compareceu e comunicou ao líder genial dos povos, que acabara de espinafrar um tucano banguela, cheio de pose que fazia intrigas palacianas na comunidade dos cachorros sem dono. Não podemos permitir esta desordem.

O congresso não é a casa da mãe Joana, e não é mesmo, pois ela mora com a sua filha Joaninha, onde o vento faz a curva e esquina com o raio que o parta, sem número. Desde que Joana foi morar no Morro do Pinto, com Zangão, que está sumida. Um lugar cheio de mato, valas negras, sem água benta, e mineral. Na ultima bica que foi inaugurada pelo Coelho, apenas caia algumas gotas que não dava para encher nem uma bacia, quanto mais um tanque. Vida dura de Joana e sua filha.

Coelho preocupado com a falta de água prometeu se valer do cargo para conseguir desviar litros e mais litros do Córrego Seco que passa algumas léguas de distância da estrada e que não serve para ninguém de tão poluído que está, todo coberto por uma espuma branca, além de muito mau cheiro. Lacraia assessor imediato de Coelho vai fazer o cadastramento de todos interessados em beber água. Distribuirá para seus eleitores e a comunidade, mangueiras, latas e bacias. Construiremos poços e poças que beneficiem a comunidade. A água será encanada diretamente da Lua. Não haverá necessidade de enfrentar fila para pegar água na bica.

Meus eleitores pensam que é difícil de fazer estão enganados, o povo animal desta comunidade saberá reconhecer o esforço, se preciso até ligações clandestinas irei fazer. Vai jorrar água sem parar. Daremos empregos para as lavadeiras, as libélulas militantes sindicalizadas. Diversos tatus-bolas, cobras - de- duas – cabeças, rola-bosta, lagartos serão beneficiados com a criação de um Piscinão de Lama.

Com as obras que tenho feito em beneficio da comunidade, será necessária a minha reeleição, não poderemos deixar as milhares de obras inacabadas e as outras tantas que nem foram iniciadas. Contratarei tatuzões para escavarem os buracos negros desta cidade. Colocarei muito em breve luz no fim do túnel. Depois algum eleitor desavisado quer perguntar onde foi parar o dinheiro. Para estes não responderei, e sim aos meus fiéis eleitores, digo: Que não irei renunciar, salvo se alguém provar que houve desvio de verba. Um jumento sem muito saber do que se tratava relinchava sem controle e batia os cascos sem parar. Parecia ser um solitário eleitor do Coelho, uma vez que era apenas ele, quem ouvia o coelho discursar.

Chichorro: Roberto Chichorro, nasceu em Lourenço Marques em Moçambique no ano de 1941.

Um comentário:

Lia Noronha disse...

Wilton: obrigada pela visita ao meucotidiano...adorei as tais obras do Coelho..mas sinto saudades...do varal no Quitanda.
Bjus de boa noite de Domingo meu querido amigo.