sábado, 12 de janeiro de 2008

Zebedeu, um cachorro vira-lata.

















Zebedeu um cachorro vira-latas, biscateiro e morador de rua, há muito tempo que vivia com uma pulga atrás da orelha, que o deixava impaciente. Coçava aqui e ali, mas não adiantava, a danada da pulga continuava no mesmo lugar, em sua orelha esquerda, parecia que estava grudada. Zebedeu gostava de perambular pelas ruas em torno da praça onde morava, cumprimentava a todos, balançando o rabo e com um largo sorriso. Por pura implicância quando encontrava com Negro Angorá na esquina, além de mostrar os dentes, botava ele para correr. Negro Angorá muito irritado corria para cima do muro e lá miava bem alto, protestando contra a perseguição.

Negro Angorá por ser um líder nato enfrentava mesmo com alguma desvantagem os desmandos de Zebedeu, se não totalmente de frente, pelo menos em cima do muro. Liberdade para os gatos! Era o aviso afixado no alto do poste. Quando Zebedeu pintava no pedaço a turma ficava em polvorosa, os gatos pingados e ao mesmo tempo os ratos, fugiam e se escondiam. Deixavam à poeira baixar e aos poucos voltavam um a um para os seus lugares.

Quando acontecia este encontro era um tremendo bate boca, uma briga de cão e gato, que havia necessidade dos vizinhos separarem, de meterem a colher. Depois deste ligeiro entrevero, cada um tomou o rumo de casa. Negro Angorá preferiu ficar em cima do muro e Zebedeu voltou para a praça, perto de um banco e próximo da paróquia. Cumprimentou o pároco e o sineiro. Ficou um tempo pela calçada e não arrumou nada. Os humanos viviam em um misere danado sem tostões, nem patacas, estavam muitos deles na lona. Na volta conferiu o resultado do jogo no poste, de vez em quando fazia uma fezinha, perdia mais do que ganhava nas apostas.

Era uma vida de cão que levava, com muita pulga para lhe atazanar a vida. Comia um osso duro de roer, aliás, o seu único osso. Sempre de orelha em pé para o movimento ao redor da praça. O preço da liberdade é a eterna vigilância, assim ficava por horas e horas. De onde estava avistou Marquês um pombo muito empombado, que liderava uma tribo de rolinhas, pardais e cambaxirras nos arredores da praça. As rolinhas formavam um trio para cantar na praça e arrumar um troco. Os outros se viravam como podiam. Os seus antigos companheiros de jornadas arrumavam uns trocados. Os pardais arrecadavam mais com as multas, do que outros ganhos. Os demais membros do grupo vendiam bilhetes de loteria e mercadorias nas esquinas que conseguiam em viagens as outras terras.

Marquês morava de favor na torre da igreja, desde que foi expulso do pombal foi viver na rua. Sua antiga companheira, uma pombinha branca e bem infeliz, mãe de seus filhos, achou que o momento era este, com os filhotes crescidos e o companheiro mais na rua do que em casa, decidiu que em uma primeira manifestação de rua pela paz, sairia e não voltaria mais. Voltou atrás quem teria de sair, era o Marquês.

Ora, Pombas! Estou cansada desta vida de abandonada a própria sorte. Voou e pensou e repensou que a vida deste modo seria realizada as duras penas. Não, não posso abandonar os filhotes, mesmo crescidos, afinal, mãe é mãe e pai na verdade existem muitos. Os filhos ficaram abandonados, a mãe que cuidasse e se virasse. Dele não veriam nenhum tostão quanto mais patacas e milhos. Morou sozinha por um bom tempo, até que conheceu em uma balada, um franguinho todo engravatado, que acabou se encantando e passaram a morar juntos em um galinheiro comunitário..

Uma vez Marquês ficou enrabichado por uma galinha d`angola toda vistosa que conheceu em um pagode no alto do Morro do Guariba na Estrada do Patola. Troca de olhares e de bicadas. Fizeram juras de amor. Um amor que para quem visse jurava que seria eterno. Muito apaixonado e empolgado prometeu mundos e fundos para a sua nova companheira. Se fosse preciso ele daria o céu e a terra para ela. Em pouco tempo foram morar juntos próximos da casa dos pais dela, perto do Morro Cara de Cão. Meses depois do casamento Marquês, começou a ficar encalacrado, a despesa aumentou, pois ainda tinha os filhotes do casamento anterior de sua nova companheira. Titi começou a perceber que tudo não passou de uma ilusão. Marques seu novo companheiro não tinha nem onde cair morto. Sem o leite e o milho dos filhotes as brigas e discussões por qualquer coisa, aumentavam tornando a vida do casal insuportável.

No dia, na ocasião do primeiro encontro, contou uma vez para Zebedeu enquanto bebericava no Bar da Tia Coruja; durante a noite uma noite escura como breu, em que chovia muito houve um tremendo tiroteio entre duas facções rivais, pipocavam milhos e balas para tudo que era direção, que acabou atingindo uma cabritinha que tentava subir o morro, ao ir para casa. A maior confusão, havia quebrado as luminárias dos postes e o morro estava sem luz, inclusive no fim do túnel que ligava o morro ao esconderijo dos tatus e fuinhas, soldados de Teteu e Cascudo que nas horas vagam tocavam na bateria da escola de samba.

Na manhã seguinte a imprensa noticiara com maior destaque, em matéria assinada pelo temido repórter Leão Marinho que o grupo de Tetéu e Cascudo dispararam diversas balas e bombons contra o bando de invasores liderados por Pitu e Cabra Cega. O grupo de Tetéu reagiu de modo violento, atirando inicialmente contra o lugar que estava rolando a festa. Latidos de um grupo de cães policiais foram ouvidos. Ficaram assustados! No entanto, o tiroteio foi intensificado. Foi uma noite de terror. Morcegos desesperados não sabiam para que lado voar, estavam totalmente perdidos. Pelo rádio da polícia foi pedido auxilio de joaninhas. Formiguinhas subindo pelas paredes davam o sinal que a coisa ali estava ficando preta.

Zebedeu continuava na praça e com a corda no pescoço, ganhava muito pouco. Sempre de butucas ligadas, começou a estranhar a presença de mais e mais estranhos querendo morar e trabalhar na praça. Conheceu por acasoTizu, um papagaio aposentado que vivia de pires na mão, sem lugar para morar, passava o dia inteiro taramelando: Me dá um vintém, Me dá um vintém, Me dá um vintém. Um porco que acabara de chegar, começou a ficar irritado com o papagaio. Queria a qualquer custo, expulsar o papagaio do banco da praça. Tizu não ligava, continuava pedindo, pois achava que a praça era de todos os animais. Zebedeu de longe, para não perder o hábito começou a latir, se não foi para espantar as pulgas, foi de boas vindas para os novos amigos pedintes. A praça em pouco tempo estava apinhada de animais e humanos. Salve-se quem puder.










Elisha Ongere: Pintor nascido no Quênia.

3 comentários:

Lia Noronha disse...

Wilton:te linkei la no meu Cotidiano..de visual novo meu amigo.
E a Quitanda do Chaves...vc abandonou?!
Saudades daqueles varais lindos...tão poéticos...Bjus mil!!!

Unknown disse...

Wilton: sabe bem o quanto estou torcendo por vc...sucesso ...sempre!
Abraços com carinho

Unknown disse...
Este comentário foi removido pelo autor.