
Os binóculos estavam bastante empoeirados, limpou as lentes com a ponta da camiseta que vestia e pendurou no pescoço. A limpeza ficava sempre aos cuidados da Perereca que dispunha de uma penca de serviçais para todo tipo de serviço doméstico, mas naquele mês, todos entraram de férias coletivas. O jumento que ficou de plantão, pediu dispensa no dia de hoje para visitar a tia que estava acamada e vivia só em um barracão de zinco no alto do Morro do Pinto. Logo hoje e não há nenhum serviçal disponível, reclamou. Deste jeito não posso chamar isto aqui de paraíso, tanto que lutei contra moinhos e ninhos de tucano, contra raposas felpudas e amigos ursos, com cobras e lagartos. Foi para ter vida boa, sombra e água fresca. Agora me aparece um estranho barulho, um agito, tudo para me deixar encucado, de cabelos em pé, de saco cheio.
Como a Perereca dormia a sono solto, que o Sapo desistiu de acordar a companheira, deu a volta por cima e deixou a companheira roncar e sonhar. Quando a Pererequinha estava em sua posição preferida, o Sapo dizia que sonhava com ele. Também não disse em que posição ela ficava.
Olhando por uma fresta, mais para o lado direito, identificou que do outro lado da rua, ficava o Ninho do Urubu e mais a direita o Ninho do Bicudo, pouso obrigatório dos Tucanos. Ali, morava do alto daquela árvore, o perigo. Faltava um quarto de hora para amanhecer, colocou o binóculos e pode à distância enxergar com os olhos que a terra há de comer: dois papagaios, seis periquitinhos verdes. Prostrados em um sofá, lendo jornais, duas raposas, um filhote de urubu, trajando camiseta de um time de futebol, de três a quatro pardais em uma animada roda.
Ao olhar aquela cena, começou a suar frio, a tremer uma das pernas. O desespero tomou conta do Sapo e nestas ocasiões começa a pular, a dar cambalhotas. Só fica mais tranqüilo depois de beijar a Perereca, que assustada com o agito do Sapo, fica ao lado dele. Perereriquinha pegou de imediato o celular e telefonou para o amigo Bode Ludovico. Na primeira tentativa deu ocupado. O Sapo aos gritos mandou chamar Mano Véio, a araponga de confiança do Sapo, deixou uma mensagem dizendo que saiu para fazer uns servicinhos e voltava logo.
A Mula Manca ex-secretária do Partido dos Animais Enjaulados, compareceu logo após um longo sumiço, era acompanhada por Carneiro Manso, antigo líder do bloco da situação. Estavam prontos para combater os inimigos do governo popular e democrático do Sapo. Os inimigos dos Polvos querem derrubar o nosso governo para implantar um regime de Bicudos, de plumagem rica e variada. Cuidado com a imprensa golpista do Cavalo Marinho, alertou a fuinha que acabava de chegar para engrossar a fileira de resitência dentro do Palacete. Aquela turma sempre conspirando, inventando coisas para nos derrubar, disse uma Cabritinha sem berrar. O Polvo não é bobo, continuaremos aqui de novo. Era o que o Sapo queria ouvir, com todos os problemas, o Polvo nas pesquisas estava ao seu lado. Mas afinal de que lado está o Sapo, perguntou uma hiena, logo após soltar longa e gostosa gargalhada.
Joseph Masila - Artista Queniano
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