terça-feira, 19 de fevereiro de 2008

Os Bordejos do Sapo.

Andava algum tempo sumido e as informações sobre o seu paradeiro, eram as mais desencontradas, ou quando muito iam ao sabor do vento. Só os mais íntimos, desconfiavam onde o Sapo poderia estar. O certo é que ninguém sabe, ninguém viu. Para a companheira Perereca, ainda sonolenta, cochichou ao pé do ouvido esquerdo, de que iria apenas dar uns bordejos pelas cercanias do Palacete e sob efeito de múltiplos disfarces iria escutar a voz rouca dos animais da comunidade. Na verdade queria por que queria saber como ia o seu ibope, se ainda estava prestigiado no coração selvagem dos animais. Tinha de preparar o terreno, visando o seu futuro, em mais um mandato popular, poderia contar pensou com os seus botões com a prestimosa ajuda do amigo Polvo e seus camaradas para afastar algum tucano que pintasse na área com a intenção de disputar as eleições. Um dos tucanos, o Príncipe dos tucanos, diante de uma bola de cristal, anunciou para o mundo, que um deles pode voltar. Desta venceremos de goleada. O Sapo irritado, muito irritado com que ouviu, mandou um recado por e-mail para o tal Príncipe que poderia sem favor algum tirar o cavalinho da chuva e voar em outra freguesia. Agora que cheguei ao paraíso com os cartões de crédito, não há de ser um aventureiro qualquer que vai me tirar daqui, e daqui não saio e ninguém me tira. Se algum pato abrisse o bico, poderia quebrar o galho dele e oferecer um cargo de fiscal da natureza. Esta eleição está no papo.
Em cada esquina que passava, escutava os melhores comentários sobre o seu governo popular e democrático. Apenas um, um único coro de gansos descontentes e nada se via além disso, um grupelho de desordeiros, protestando contra as mamatas do governo, contra o uso abusivo de cartões de crédito. Quando passou por eles, parou por instantes, balançou a pança de tanto rir, eram velhos conhecidos que gostavam de tomar sol no lago, de papo pro ar. Eu que ainda pensava em afogar o ganso, mas como democrata e popular tenho de afugentar estas idéias, o meu governo vai de vento em proa.
As focas desesperadas ficaram concentradas diante do portão principal do Palacete em busca de fofocas para o programa da tarde na televisão, enquanto aguardavam, travavam uma luta na disputa do melhor lugar e da noticia recém saída do forno, quentinha que o porta-voz costumava passar para os amigos e os amigos dos amigos. Queriam saber por onde andava o Sapo.
Geléia era a foca com mais tempo de serviço jornalistico. Estava para se aposentar, cheia de malandragem, conhecedora dos meandros do Palacete, obteve com o seu amigo as informações necessárias. Foram colegas no jornal e namorados na juventude, militantes do movimento secundarista. Ficaram juntos na mesma cela, na ocasião em que foram presos por atividades de protesto e xingamentos no meio da praça principal da comunidade. Um língua de tamanduá deu com a língua nos dentes e entregou os animais organizados. Vários entraram em cana, levaram bordoadas e chicotadas, além das mordidas no calcanhar. Uma imensa nuvem negra ficou instalada na comunidade do Rato Malhado e adjacências, de total escuridão. Os animais sumiam sem deixar rastros.
O Sapo continuava o seu passeio, agora diário, misturando-se as grandes manadas para escutar melhor as diversas opiniões sobre o seu governo. Amanhã estaria de volta as ruas, de novo para ouvir a voz do povo da floresta. Os animais sorriam de gargalhar, todos em festa, mas sem direito ao uso dos cartões.



Imagem. Chéri Samba- Pintor Congolês. Nasceu em 1956 no Baixo Zaire.

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