segunda-feira, 31 de março de 2008

Roberto Dinamite : um candidato que decepciona.


Em diversos comentários, apontei que Dinamite não seria o candidato ideal para presidente do nosso querido Vasco da Gama. Um grande jogador, para mim, um craque, um dos grandes artilheiros do nosso futebol e do nosso clube Sempre concordo com qualquer atribuição de melhor jogador, o nosso maior ídolo, para me afastar quando entro na seara de seu papel como candidato de oposição para concorrer com o dirigente. Acho que ele pode aspirar à condição de presidente do clube, a concorrer a qualquer cargo eletivo, no entanto, não me inspira confiança, pois daqui o vejo como um candidato claudicante, logo, de imediato suas atitudes são transformadas em mais uma decepção.

Para nós que desejamos mudanças algumas delas provavelmente radicais; a imagem que projeta para o público, como ausência em uma manifestação, confirma para mim, que não dividiria o mesmo espaço com o dirigente, o que quer evitar, pois estaria sujeito a passar vexame e ser enxotado pelo autoritário dirigente. Atos desta natureza o transformam logo em um sujeito que teme qualquer confronto. Foge da luta para se esconder em alguma desculpa se esfarrapada, não sei. Dinamite quer ficar bem com Deus e com o diabo. Quer preservar a imagem de ídolo. Quer os votos dos vascaínos em uma próxima eleição do legislativo. No fundo sente dificuldades em trajar uma vestimenta de “opositor”, não tem cacoete. É produto gerado nas entranhas do movimento de oposição vascaína. Até a vitória final.

sábado, 29 de março de 2008

O Vasco, um dirigente, uma nova eleição e dois jogadores.


"Não estou indo para o trabalho, mas eles também não estão me pagando". "E a amizade continua..." É o que se pode compreender, ou pelo menos é o que se pode olhar para o cenário de onde foi instalada a crise de relacionamento do jogador Romário com o dirigente cruzmaltino. Claro que muitas coisas não são visíveis, são mais complexas, há algo no ar além dos aviões de carreira. "Foram divergências de opiniões", explica de um lado e assim cada um pode entender como quiser. O mais interessante do meu ponto de vista foi a "rasteira", ou a bola entre as pernas, dadas no dirigente que do alto de seu discurso autoritário afiançava e pregava aos quatro ventos de que o jogador retornaria ao clube e nele encerraria a carreira em grande festividade. Acredito que tenha sido pela intromissão do dirigente no elenco, de modo autoritário, impondo a escalação de um jogador que motivou o nosso craque a ficar ausente e afastado do clube e não pela falta de compromissos do clube na falta de pagamento como declara o jogador na entrevista. Isto além de ter sido uma das minhas indagações, não produziria pelo status econômico do jogador, um efeito tão devastador ao clube. Mesmo que seja por milhares de trocados a receber. Uma amizade como foi desfrutada e propalada entre eles, com encômios de um pro outro, o dinheiro seria de somenos importância.
Lendo a entrevista feita por Marluci Martins, publicada pelo jornal O Dia, observamos em uma das passagens, quando perguntado sobre a possibilidade de algum acordo com o Vasco, afirmou: " Não. Não volto mais para o Vasco." Para mais adiante ser perguntado: "Você está convicto de que parou de jogar?" "Estou", "Não jogo mais"; para na pergunta seguinte, ser indagado "Nem você esperava isso agora, não é?" Com uma resposta bem elucidativa, o jogador declara: "Cada um tem o que merece. De repente, era isso que eu merecia". Parece ter sido o residuo deixado desta relação, que foi encerrada de modo abrupto. Que os dirigentes negam com veemência que existiu, mas não conseguem esconder que ficaram confusos com o comportamento do craque. O contrato do jogador encerra no próximo dia 30 do mês de março, até o momento em que escrevo, não deu as caras.
Como o jogador é extremamente egocentrico, não consegue imaginar o mundo de forma diferente, assim, para cada veículo de informação presta uma declaração, diz uma coisa em um, para negar em outro e assim vai levando a vida. Com declarações deste tipo, provavelmente instalou o desespero no dirigente cruzmaltino, a possibilidade de encerrar a carreira no rival seria o fim do mundo para quem de maneira servil, submissa e obsessiva, alimentou a idéia de que o jogador lhe deve favores e desta forma como compensação, é no clube que encerraria a carreira. Pouco importa com que pensa os outros, jogadores e torcedores, está se lixando para quem quer que seja, sua postura como dirigente que nutre uma idolatria pelo jogador, era e é de afiançar qualquer vontade e estrepulias do jogador, daria pelo mal comportamento como "pai" e não como dirigente, puxões de orelhas e alguns cascudos, dispensaria o uso de palmatórias. Acho que o jogador deve ter os privilégios, fez por merecer, mas não os exageros permitidos que podem gerar desconforto entre o elenco. Um é tratado no colo diante do espelho e sob os cuidados "paternos" , o outro à chibatadas. Dois craques com tratamentos bem diferentes. Um endeusado o outro defenestrado. Tudo pela permanência e eternização no poder.
O dirigente imaginou que a troca de favores se daria desta maneira. Fez vários mimos, até o elegeu como técnico, erigiu uma estátua e tombou a camisa 11, é dele e ninguém tasca. Passou por mim a música que tocava nos tempos de minha juventude, composta por um vascaíno : "Eu te darei o céu meu bem e o meu amor também". Assim de promessa em promessa selou com garantias o compromisso de realizar o último jogo da carreira do jogador, sua despedida dos gramados em um jogo festivo no clube que de algum modo o projetou.
A proposta do Vasco não seduziu de todo o egocêntrico jogador, que quer mais, além dos holofotes. O rival acenou com boas possibilidades para o projeto pessoal do jogador, luzes e palco, mais as regalias de sempre e outras coisas que o Vasco foi incapaz de oferecer. Naquele momento foi tudo o que ele desejava, às portas do rival estavam escancaradas para os seus projetos e realizações profissionais, após o término da carreira de jogador. Com um bom trânsito no rival, além da simpatia como torcedor urubulino e sócio proprietário, produziriam os efeitos de marketing que necessitava e que não encontrava respaldo no clube cruzmaltino. O jogador acenou com grandes possibilidades para realização desta badalada despedida no badalado clube da zona sul da cidade. É o casamento ideal, muitos acreditam que foram feitos um para o outro. Pelas caracteristicas da mídia, o espaço cedido ao evento para o rival; seria imagino bem maior, ganharia força, mais projeção e badalação. Ainda podemos ler ou ouvir declarações: "Não parei. Estou desempregado e esperando receber propostas". O que será que o dirigente cruzmaltino ainda pode acenar com propostas para o jogador, se as oferecidas não lhe agradaram? Não sei responder. Um dos vices do clube comunicou que o jogador "ficou um mês de licença e ainda não nos comunicou sobre o seu futuro".
Um futuro negro com toda certeza não vai ter."Com a diretoria não ficou nenhum problema", "não restaram mágoas". Eles não poderia dizer de outra forma, pois do contrário teriam de confirmar que "você pagou com traição a quem sempre lhe deu a mão" e o dirigente teria de chorar diante de nós, como um sujeito traído e abandonado, pior, ter de reconhecer a existência de um rival cheio de galanteios , de fino trato, disposto a oferecer muito além da imaginação. E foi por esta desagradável situação que o dirigente cruzmaltino ficou diante do rival, passou a ser preterido, sujeito aos ditames do "Baixinho". Agora você é quem manda, reconhessem, assim os dirigentes ficam de prontidão para aguardar as novas ordens para realização do antigo sonho, mas para o momento está mais para pesadelo do que qualquer outra coisa.
O jogador sabe que ao se posicionar favorável com a proposta do rival, e atraído por ela , pode sem sombra de dúvidas ter deixado "espumando", magoado, irritado, decepcionado com o seu parceiro, seu "amigo", seu "filho", grande aliado e gozador dos maiores privilégios dentro do clube. Era uma das poucas coisas "boas" que o dirigente poderia espelhar como símbolo de sua gestão, daria projeção que necessita, mas por transitar na mesma faixa de egocentrismo do jogador, repartiria um pouco das glórias alcançadas pelo jogador, daí a insistência para a realização deste evento. O Vasco até então, tinha Romário como uma arma poderosa para o dirigente enfrentar eventuais inimigos opositores de sua permanência no poder. Os holofotes volta e meia iluminavam o clube.
Na falta da coisa melhor para dizer o dirigente apelou para os poderes proféticos e desandou, entre uma censura e outra no elenco, previsões de acontecimentos, muitos dos vascaínos acham bobagens, fruto do desepero do dirigente; não acho, pode ser que ele esteja fazendo leituras de Nostradamus na calada da noite e não é de nosso conhecimento, assim dou sem saber, credibilidade em suas doutas e proféticas palavras. Se está baseado em alguma coisa, não sei, mas garantiu:"O Vasco perdeu o jogo que podia".
Claro que houve falhas nestas profecias pois não foi capaz de detectar a ausência do jogador abandonando o cargo de técnico, mandando para as cucuias as solenidades previstas pelo dirigente. Até um novo advogado para tratar de assuntos de interesse do jogador foi contratado por Romário, entre uma audiência. e outra reclamou do departamento jurídico do clube, que segundo sua ótica não estava sendo eficaz.
Se é muito azar, não sei, mas houve uma previsão, mais do que isto uma certeza, uma convicção por parte do dirigente. Para quem está do outro lado ansioso por novidades, causa arrepios, ao ouvir pela voz do dirigente: "Não tenho nenhum problema em relação às eleições. Elas podem ser realizadas. E até afirmo mais. Pode realizar novas eleições, e a chapa que eu indicar ganha as eleições também. Não tem nenhum tipo de problema para o Conselho. Tenho que preservar o nome do Vasco. Os recursos têm que ser apresentados em todas as instâncias”, declarou ao repórter Rodrigo Campos, da Manchete Esportiva 1ª Edição, da Rádio Manchete.
O que vem a ser exatamente: "Tenho de preservar o nome do Vasco"? O dirigente sempre se arvorou montado em um discurso moralista como o único e zeloso guardião do clube, disposto a empunhar bandeiras da ordem, de higienização e de profilaxias para afastar intrusos, "estrangeiros" como Dinamite. Por esta via, que é a manutenção, prorrogação de mandato, preparo do herdeiro politico, oriundo da familia do dirigente com o intuito de preservar a hegemonia politca que vigora no clube da Colina. Reveste o discurso, sua retórica com a concepção beligerante com o sentido de dinamitar o jogador e craque Roberto Dinamite, nosso eterno ídolo, o depreciando, desvalorizando feitos realizados pelo jogador. O homem não quer largar o osso com se diz, reconheço que não é burro, é uma velha raposa e muito astucioso. Sempre propalou que nunca encontrou alguém que estivesse a sua altura para substituí-lo, acredita cegamente em ser o único com capacidade para administrar o clube. Lembro que se encontrasse alguém passaria de bom grado a administração do clube. Dentro de parâmetros bem subjetivos o espaço privilegiado com esta singularidade só poderia ser localizada no interior de sua família. Reconheço que o filho pode ser diferente do pai, no entanto, como o dirigente não permite espaços para inovações, a tendência seria de reproduzir em todos os aspectos o modo de exercer a administração feita pela figura paterna. Não haveria rupturas, o clube não correria riscos. Sempre reforça entre os seus pares a idéia de perigo, de caos em contrapartida com o sucesso, a eficácia, os títulos de outrora, o lado bom do Vasco, resultados de sua administração.
Bem, como sou um pouco cético, Dinamite, meu caro, você pode ganhar e não levar, o recado do dirigente foi dado. Abra bem os seus olhos. Olho vivo! Saudações vascaínas, até a vitória final.

quarta-feira, 26 de março de 2008

Manchete Esportiva, um pequeno comentário.

Na sexta-feira passada e na segunda desta semana, fiquei ligado ao noticiário esportivo das rádios, em particular da Manchete AM 760 KHZ. Pelo horário do programa Manchete Esportiva, passei a ser um ouvinte, sem nenhuma fidelidade ao programa. Sou um ouvinte de rádio am. Quando voltei a ser um ouvinte de futebol e dos programas esportivos. Lembro da emissora dos tempos do grupo Bloch, passou por diversas mãos, dentre elas, a do jornalista Jair Marquesini, o grupo Dial com vários sócios, dentre eles, se não falha a memória, Marlene Mattos. Foi o momento para o meu espanto e acredito para os demais torcedores de nossa cidade, criaram uma equipe esportiva que só cobria o Flamengo, de imediato mudei de estação, acreditei que não iria muito longe. Coisa de louco, como, assim entendo na minha condição de ouvinte, uma rádio pelos comunicadores que contrataram, dar exclusividade apenas a um clube de futebol, mesmo que o clube seja dono de uma das maiores torcidas, para excluir os outros torcedores; não tem cabimento, por se tratar de uma rádio comercial, mesmo que gere um bom faturamento. Se fosse uma rádio segmentada, vá lá, para atingir o universo urubulino, que assim seja, como parece surgir rádios com a feição dos clubes. Bom, mas esta fase já passou, foi no começo de 2002, inclusive a fase em que abrigou o segmento religioso. Agora, passam por outro momento, quem controla é o Grupo Nasseh de Comunicação (Miguel Nasseh) Ganhou vida ultimamente com o slogan "Rádio de Verdade", ou algo como "No meio é melhor". Acho que é implicancia ao escutar o apelo de que "no meio é melhor", mesmo considerando o dial 760. Da equipe esportiva que montaram, conheci de outras emissoras: Carlos Borges, Waldir Luís, Ruy Guilherme, João Guilherme pela tv, o comentarista do "Recado Certo" Ronaldo Castro que foi para a Rádio Bandeirantes. Em matéria de comentaristas acho que são fracos, Waldir Luis a todo momento vacila; Ronaldo Castro muito arrogante, pernóstico, gostava de tirar um sarro dos colegas. Que Deus o conserve na Bandeirantes AM 1360.
Gosto, acho sensato, com boas análises, o comentarista da CBN AM 860, Álvaro Oliveira Filho, acho engraçado e confuso, mas gosto de ouvir o vascaíno Jorge Nunes; muito bom e com altas doses de humor, ironia, o comentarista Washington Rodrigues da Super Rádio Tupi AM 1280, apenas para citar estes.
O que me motivou a escrever este texto, foi ao ouvir o radialista João Guilherme comentar com os colegas que estava saturado de falar sobre o caso Leandro Amaral, por dois dias, foi quando ouvi, engrenou como se tivesse pedindo desculpas aos ouvintes retorrnar ao assunto Leandro Amaral. Cá com os meus botões que "jornalista" é este que quer se livrar o mais rápido possível de uma noticia. Pior que encontrava ressonância no repórter que servia de interlocutor para o "jornalista". João Guilherme entende que falar sobre futebol compreende apenas ao que está restrito ao campo de futebol, a bola e os jogadores, quando muito, aos dirigentes e técnicos. Imagino que o jornalista para enriquecer o programa que apresenta, acha que temos de ouvir apenas: "sempre respeitando os adversários". "procuro me movimentar bastante", "todos os atacantes que estão no clube são bons jogadores" e por aí vai...assim vai levando o programa e os ouvintes com as mesmas perguntas e respostas. Claro que temos jogadores e jornalistas que saem da mesmice, como o jogador Edmundo que nem sempre atende ao modelo tradicional de entrevistado, são capazes de se expressarem de outra maneira. Acho esta postura muito limitada, uma vez que o assunto "Leandro Amaral" ainda vigora e circula em dois clubes de futebol, ou seja: Vasco e Fluminense, sem um desfecho final. O "jornalista" acha que por dever de oficio deve se restringir apenas ao superficial, a base de sua cobertura jornalística. De uma hora para outra por estar saturado do assunto, ele intervém na realidade, recortando e embrulhando o que deve ser ouvido. Claro que por ser o veículo da notícia o rádio, o tratamento deve ser outro, mas desprezar a notícia que tem importância, ainda mais como foram geradas e quem é um dos protagonistas, continua meu caro, mesmo contra a sua vontade sendo Manchete.

Fernando Botero: Artista Colombiano - Nascido em Medellin, em 1932. Referência na interessante página Pô, Meu! de Nelson Correa

sexta-feira, 21 de março de 2008

Chulipa, o Vira-Latas e a Passarinha dos Lindos Olhos.


















Conversas, muitas conversas podem às vezes ser apenas um papo furado, ou para alguns o famoso lero-lero que resulta mesmo em nada, quando muito é para enganar o tolo com conversa fiada, com aquele sabor de encher lingüiça. Era a imagem de Chulipa, o Vira-Latas boa praça que freqüentava as praças das redondezas. Todas não! Menos uma, aliás há muito que não dava o ar de sua graça e malandragem,na pracinha da paróquia,vizinha à comunidade do Rato Malhado.

O que vou contar para vocês, aconteceu, em um certo dia do mês de março, numa tarde ensolarada, depois de jogar conversa fora com o velho e querido amigo gambá Ventania. Chulipa começou a paquerar uma passarinha que freqüentava à praça com um grupo de amigas. Desde que separou de Julieta Cambaxirra por incompatibilidade de gênio, Chulipa estava livre para fazer o que bem entendesse. Sem emprego, foi dispensado como porteiro de um clube de várzea onde jogava como lateral esquerdo, o primo Gavião.O dono do clube e da bola, era o engravatado Sapo Gordo, um cartola que mandava e desmandava no clube.
Ao cair da tarde, em uma sexta-feira, o time treinava sob forte chuva, acertavam cada vez mais uma enormidade de passes errados, o dirigente entusiasmado, também técnico, cismou de escalar o zagueiro Cabeça de Bagre no ataque, convencido de que deste jeito o time alcançaria as vitórias que necessitava para ganhar o campeonato.
Cinco burros uniformizados que assistiam ao treino nas cadeiras sociais, relincharam e aplaudiram a inteligente decisão do dirigente. Chulipa avistou o dirigente, que acabara de matar com um tapa uma mosca que o incomodava, zumbindo em sua volta. Opa, vai ser hoje! Chulipa com ares de quem tomou uma decisão e como quem não quer nada, andando cabisbaixo, com o rabo entre as pernas, partiu em direção do dirigente e foi pedir aumento de salário. O dirigente que fumava uma cigarrilha e que não costumava falar com subalternos, nem ouviu, tão logo se aproximou, deu logo dois chutes no traseiro de Chulipa e o mandou para o olho da rua.
Por uns tempos ficou morando na rua da amargura, sem número.
Chulipa era metido a conquistador e dançador. Freqüentador assíduo de gafieiras, ali em uma dança de salão conheceu Cambaxirra, em uma noite de verão, no dia seguinte foram morar juntos em uma cabeça-de-porco. Tiveram seis filhotes, sobrevivem cinco.
O mais velho ainda menor fugiu de madrugada, abandonando os pais e juntou-se ao bando de Formigão, líder de uma facção, admirado por muitos dos moradores da comunidade. Partiu para ganhar a vida, as manchetes da Voz da Floresta e o mundo. A filhota que Chulipa sempre quando chegava em casa, brincava cantando: "Oh coisinha tão bonitinha do pai", crescida gostava de se fantasiar de mariposa e ficar passeando nas imensas calçadas de pedras portuguesas. Os outros quatros filhotes não conseguiram estudar nem trabalhar. O terceiro foi aquele que tinha mania de enfrentar filas em postos de saúde e de trabalho, não conseguia ser atendido, muito menos uma vaga em um emprego. O quarto não saia do quarto, em silêncio, trancado, gostava de ler e recortar revistas, passava horas e mais horas desenhando vestidos. Não perdia desfiles pela tv, nem novelas, ficou gamado pelo Boi Bandido. Adorava a novela América. Empolgado juntava em um saco, patacas e tostões, para um dia, quem sabe, ir de mala e cuia, na companhia de um boi, morar fora da comunidade. Muito, muito distante daquele lugar. O quinto foi direto para os quintos dos infernos na semana passada, encontrou uma bala perdida em seu corpo, não resistiu e veio a falecer. A sexta, bem a sexta, só gosta de namorar, cachorros sarados, de preferência pit-bulls. Cruza mares, pernas e bares em busca de seu amor, de sua alma gêmea.Consulta horóscopos, búzios, cartomantes e alguns oráculos.
Longe da Cambaxirra e dos filhos. Era um cachorro sem dono, sem companheira, sem filhos. Pensando no mundo cão, a idade chegando, o tempo passando. Chulipa começou a querer conquistar de preferência, as mais novas do que ele. Assim que avistou uma franguinha no pedaço por onde passava, deu logo em cima. Num piscar de olhos, lá estava com a franguinha toda derretida para Chulipa. Entre beijos e beijos de tirar o fôlego.
Já era a quinta volta em menos de dois minutos que passava diante do grupo, ficava rodeando, encantado mesmo com os olhos da jovem passarinha, que chegou a cantar: "Que lindos olhos, que lindos olhos têm você! E ainda hoje, ainda hoje eu reparei! Se eu reparasse há tempo. Eu não amava, Eu não amava quem amei". A passarinha mais do que depressa, desceu do galho, deu dois suspiros, foi embora. Foi um agito no grupo, a pombinha estufou o peito irritada por ter que acompanhar a passarinha. Havia prometido de pés juntos para a mãe da Passarinha, que voltariam juntas para casa; não houve jeito, arrulhou baixinho protestando contra a saída repentina da amiga. Logo hoje! Que havia marcado um encontro com Carcará. Sorte dela por ter Carcará, atrasado ao encontro, senão, teria de ficar. Pombinha Branca vou para casa, não adianta impedir. Quero me livrar deste inconveniente, malandro, metido a conquistador. Cheio de blá blá, de ti ti ti. Não tem nem onde cair morto. Se não tem moto, triciclo, patins ou bicicleta, nem me interessa. Dou preferência para quem tenha uma moto, para sair pelas estradas deste mundo que Deus me deu.Um pobretão! Estou fora! Não quero saber e tenho raiva de quem sabe.
Assim que olhou para a esquina, surgiu para o seu espanto, Pai Coruja muito irritado. Soube pelas fofoqueiras da comunidade que a sua Passarinha, filhota querida, muito aplicada nos estudos e nas aulas de dança flamingo, estava de conversa fiada com um desconhecido no banco da praça. Dona Abelhuda, uma das que garantiu de pés juntos, pelos olhos que a terra há de comer, que viu e não inventou que a Passarinha Sarinha, filha mais nova de Pai Coruja, que vivia com ele e não com a mãe, estava aos beijos e abraços e outras saliências com um desconhecido, ainda por cima, casado.
Onde nós estamos? Perguntou irritado Pai Coruja, Ué!!! Estamos na praça, meu querido pai. Pai tudo mentira! Pode perguntar para a Pombinha Branca. Você acredita mais nas fofoqueiras do que a sua filhinha do coração? Quando o senhor chegou, eu estava com algum cachorro, safado e sem-vergonha querendo me conquistar? Sou e continuo sendo a filhinha do papai. Filhinha, aquele que está encostado a um poste mais adiante, não parece com quem a Dona Abelhuda falou? Não deu tempo nem de responder. Pai Coruja pegou uma peixeira que estava escondida e foi atrás do desconhecido, que saiu em desembalada carreira, assustado. Daquele dia em diante nunca mais voltou a passear na praça e a procurar a linda passarinha dos lindos olhos. Se voltasse seria o alvo preferido do Pai Coruja.
* Svavar Guönason - Pintor expressionista islandês

sexta-feira, 14 de março de 2008

Lino e seu avô - Uma amizade sem fim.

O Ratinho Lino passeava pelos corredores da biblioteca, não tinha nenhuma preferência por autor ou título, mas ficou muito entusiasmado quando passou por uma estante em que tinha na capa de um livro uma imagem de um queijo. Deu uma parada, pegou um banco, a lanterna, com algum sacrifício subiu e deste jeito pode se aproximar do enorme livro colorido. Tentou carregar, quase caiu junto com o livro. A biblioteca estava às escuras, havia faltado luz. A bibliotecária dona Margarida, tirava um cochilo. Não deu conta do ilustre visitante de todos os dias. Lino abriu o livro e viajou para muito longe, na volta disse para o amigo que aprendeu muito. Como viajou Lino? Se não saiu daqui, estava próximo, vi você sentado, naquela sala da biblioteca que poucos visitam. Lino era freqüentador da biblioteca, tinha o hábito de ler desde pequeno, quando morava com a família em um sebo, que era localizado lá do outro lado do Jardim das Borboletas, ali durante à noite, depois que a livraria fechava e os dois gatos para alegria de Lino, iam dormir, começava então a fuçar os livros empoeirados das prateleiras. Lino era um ratinho educado pedia licença para as traças que acabavam de traçar um saboroso livro de culinária e iniciava a sua procura e passeio pelas prateleiras.
Lino tinha muito cuidado ao cheirar os livros, foi a lição que aprendeu após ver ao conviver com o avô. Vovô ia de um lado ao outro, impaciente, quando sentado em uma caixa de livros vazia, notei que a fome de livros que andava, era tanta, que pegou o primeiro livro dentro de uma sacola deixada de lado, junto ao lixo, após três mordidelas em uma dobra de pé de página, dadas pelo avô, viu assustado seu amigo e companheiro cair durinho da silva ao seu lado, envenenado. Tentou chamar o avô, balançou o corpo, fez cócegas, levantou o pé, deu um beliscão e nada do avô responder. Aquele corpo estendido no chão da livraria, sairia dali apenas, quando Civetta, o dono da livraria na manhã seguinte chegasse para abrir a loja. Era um dia de feriado do mês de setembro, de um dia chuvoso e de muito frio.
Que situação! Pensou ele com os seus botões. Vovô! Vovô! gritava bem alto para ele e para quem estivesse distante pudesse ouvir, que chamava pelo avô. Corria de um lado pro outro em busca de uma ajuda. Bati com força na portinhola, mas os ratos do porão estavam trancados, entretidos com a música que ensaiavam, nem me ouviram. Os ratos de praia saíram cedo, levando pranchas, era uma turma que pensavam apenas neles.
As lágrimas, uma por uma, escorreram por minha face, gostava muito dele, ensinava e contava histórias divertidas. Trazia quando saia, enormes pedaços de queijos, barras de chocolates e pacotes de miojo. Eu era um ratinho que gostava de miojo com sabor de queijo, de quatro queijos e de pizza, no fundo no fundo, gostava mesmo era o de galinha. Dizia, ele e vovó que era surpresa. Hoje, tem surpresa? Era uma das minhas indagações. Lino era o primeira neto, o número um. Uma amizade sem fim, tecida e recheada de afeto e alegria por todos os lados. Com as muitas brincadeiras e sonhos, crescia e conhecia o mundo, antes mesmo das palavras.
O primeiro livro que vovô deu de presente de aniversário foi o Gato e o Rato, achei muito legal, fiquei encantado com as ilustrações, agradeci muito ao vô, dei dois beijinhos nele e fui brincar. Brinquei muito, a livraria estava vazia, há muitas horas do dia que não entrava nenhum cliente, ficava sempre entregue às moscas. Os dois gatos angorás, sairam cedo, foram ao veterinário tratar da asma de Januário, o gato mais velho, e o mais surdo deles. Ficava na maioria das vezes sonolento, perdia horas e mais horas se lambendo. No entanto, bastava alguém de minha familia passar para mostrar as garras e sair em desembestada corrida atrás de seu alimento preferido. O mais novo, já idoso, andava espirrando muito, além dos problemas na vista direita e dos pêl
os caindo.Tinha a mania de subir em um balcão de livros, ficar deitado por ali, se espreguiçando. Vez por outra, abria para os poucos clientes da livraria, um largo sorriso de agradecimento pela visita.
Vovô lia muito, em sua estante, vovô tinha uma estante de madeira escura e alta, com um amontoado de livros espalhados, tudo em perfeita desordem entre as prateleiras: Os Três Ratos Cegos e outras histórias, A Ratoeira, A Peste, O Grande Massacre dos Gatos, Os Ratos e O Gato Preto, são os livros que lembro agora. Em um canto com um marcador de papelão, o livro Seminário dos Ratos, um dos últimos que vovô lia antes de dormir; um pouco que escondido, uma grande pilha de revistas de Tom e Jerry, algumas poucas revistas do Mickey, um exemplar de Topo Gigio, um rato italiano, que vovô disse que apareceu na televisão que gostava de rezar, dançar e cantar a música Meu Limão meu limoeiro, havia guardado para mim, tinha achado este exemplar no lixo.
Eu ficava olhando para o meu avô em silêncio. De olho na televisão assistindo Os Backyardigans e nas travessuras do vovô. Vovô Ra Tom, acho que era mais levado do que eu, acho não, tenho certeza.
Um dia, não contei para nenhum dos meus amigos, fiz tanta bagunça, mas tanta que meu avô ficou bastante aborrecido. Bom, não era para menos, neste dia, eu aprontei, vovô falou para mim: Lino, aí não pode brincar! Não liguei, ri dele, e por teimosia, continuei com a brincadeira que me divertia muito. Até de empurrar e beliscar meu irmão, me divertia. Não queria que Riri meu irmão me atrapalhasse. Desafiei meu avô, fazendo careta, gritava: Ninguém me pega, ninguém me pega! Não queria escutar o que o vovô dizia. Vovô saiu dali, foi para um outro local, para o quarto. Vi que vovô estava sério e triste, fui conversar com ele, fui atrás dele. Vô Tom! Vô Tom! Não quis me ouvir, não respondia.
Voltei várias vezes e tudo se repetia, nem olhava para mim, nem respondia. Fiquei agora muito chateado, meu avô, o meu melhor amigo não queria falar comigo. Ofereci pedaços de queijo sem sal, de ricota, de requeijão e vovô sem pena de mim, mandava com as mãos, sem olhar para mim, para que eu voltasse para a cozinha. Não adiantava, estava em instantes perto de meu avô, cutucando a sua barriga, passando a mão em seus pelos da face e nada. Mamãe quando soube deu maior bronca. Lino, vá pedir desculpas ao seu avô! Fingi que não escutava a minha mãe, fiquei calado e nem pedi desculpas. Papai também deu uma bronca, vovó soltava fumaça pelas ventas, ficava ao meu lado, nem sei porque, pois cá prá nós, o meu avô estava certo, fiz muita bagunça e não dava à mínima, deixava tudo espalhado, como faço lá em casa. Ali na livraria era a casa de meus avós
. Sou um rato de livraria, sei que na casa de meus avós tenho uma liberdade maior do que quando estou em minha casa. Os avós são diferentes e muito dos pais da gente. Fazem tudo que eu quero, quer dizer, quase tudo.
Deitei ao seu lado, cheguei a me cobrir com um lençol azul e pedi para contar histórias de antigamente, tipo daquelas que contava na Quitanda e na Esquinas do Tempo, de falar sobre a Clube da Colina, nosso time do coração, vovô continuou calado, sem olhar para mim, se alguma lágrima passeasse em meu rosto, nem saberia. Fiquei muito sentido e passei a entender mais o meu avô, depois de ter passado o silêncio, quando levantou. Na hora de voltar para casa, me pegou no colo, não deixei ninguém entrar no elevador, apenas eu e meu avô. Vovô viu que lágrimas escorriam pela minha face, ali estava as minhas desculpas para ele, entendeu, me deu um forte abraço, me cobriu de beijos e voltou a conversar baixinho comigo, uma conversa, só nossa.
De confissões e segredos, muitas risadas e peraltices.
Fiquei de contar tanta coisa pro meu avô, que estava na escola, que ia aprender a ler e escrever. Que tinha muita vontade de escrever uma carta para ele, contando que conheci uma amiguinha na escola, que me emprestou um livro que não tinha lido. Era O Rato do Campo e o Rato da Cidade, ainda não devolvi o livro, mas assim que terminar vou devolver para Milica.
O tempo passou, às vezes, até de pressa, num piscar de olhos.
Sei vovô que a sua vista estava cansada de tanto ler, mesmo assim, lia para mim. Hoje gosto tanto de livros, que penso quando crescer virar um livreiro, e agora quero mostrar para o senhor que tenho uma surpresa para lhe falar, quero ser escritor, assim deste jeito, traria o senhor de volta.
Um amigo, vovô seja em que tempo for sempre precisamos deles, mesmo distantes, como agora. Vovô Tom mesmo não estando mais aqui, gostaria de dar um abraço bem apertado igual aqueles quando fomos apresentados um ao outro. Muito Prazer, sou o seu neto, o prazer é igual, sou o seu avô, assim em silêncio, acho que pode me ouvir, pois quero lhe agradecer por ter me apresentado o mundo dos livros, em seus diversos formatos e assuntos, um mundo divertido, de mistérios e de amplos conhecimentos, que abriu portas e as janelas para que eu saísse em busca de outros mundos. Se algum dia pensou que o seu neto ia esquecer de você, enganou-se. Vovô, sabe um grande amigo nunca se esquece.




*Manuel Figueira : Natural da Ilha de São Vicente, em Cabo Verde. Imagem (Cauteleiro de Lisboa) (Vendedor ambulante de cautelas = bilhetes de loteria)
























sábado, 8 de março de 2008

O Sapo na Comunidade

Sapo acordou disposto, deu dois beijinhos em sua Perereca, que pelo horário ainda dormia um sono pesado, sem se incomodar com o barulho que o Sapo faz ao acordar. Quem já ouviu fica espantado, como foi o caso de uma rã que prestava serviço de limpeza no quarto do casal. Dizem que quando acorda, sem medo de estar feliz, corre para diante do espelho e fazer a pergunta que não quer calar: Espelho, espelho meu, neste momento sempre engasga, mas insiste com a pergunta: Se há no reino alguém do povo mais feliz do que eu? Aguarda por dois minutos e fica sempre sem a resposta do espelho, contrariado, mas feliz, dá inicio em seguida, uma série de longos espirros, vários saltos, esfrega seguidas vezes as mãos e passa a cantarolar: "O Sapo não lava o pé, não lava por que não quer" depois de tanto cantar e assobiar, é acompanhado pelo segurança para uma ligeira corrida em volta do jardim do Palacete. Telefona do celular para Mula Manca, pergunta sobre o Ministério, ela responde: Está tudo nos conformes, só então, em voz baixa, para não se ouvido, pergunta se ela ainda está com aquela energia toda, sem graça como sempre, diz sussurrando que ela está sempre elétrica. Sapo muito contente pela resposta que chega a dar um salto e pisar no pé do moleque franzino, filho de um dos seus irmãos batráquios, que vieram passar o fim de semana no Palacete e tomar banho no lago. Toda a familia unida em torno do lago, permanece feliz, que nem pinto no lixo..
O Sapo dispensou o café, atravessou o jardim pelo Ninho dos Pardais, uma passagem secreta. Ao caminhar encontra com o Bode Ludovico que lhe faz uma pergunta: Quanto é a metade de dois mais dois? Faz outra pergunta Bode, esta tá muito fácil que nem vou responder, Ludovico coça a barba, pigarreia e lança a pergunta seguinte. Sapo querido, você é meu irmão, só não responde se não quiser. "O rato roeu a roupa do rei de Roma e o rei de raiva roeu o rato". Quantos R têm nisto?
Querido bode, disse afagando a barbicha do Bode, nem vou lhe responder, tenho mais o que fazer estou com a agenda cheia, estão programados diversos encontros e desencontros para o dia de hoje. Vou inaugurar várias bicas no Morro dos Cabritos. Quero estar onde o povo está. Continuarei a expandir os buracos negros e valas. Para os animais idosos, cansados de guerra, oferecerei vagas e mais vagas cativas para trabalharem. Todos terão oportunidades em meu governo popular. Lembro muito bem de meus tempos de jovem sindicalista, onde na porta do Boteco do Vavá, em mesa farta, dito depois de várias goladas pelos camaradas dinossauros: "façam amor e não a guerra" que agora repito para os demais moradores desta comunidade que foram contempladas com o melhor plano de governo de todos os tempos. O tráfico na comunidade está liberado, o acesso as modernas carroças farão parte do nosso plano, qualquer morador poderá transitar pela comunidade sem medo de pagar mico, ou pedágio. Tudo será gratuito. Uma carroça da imprensa, estacionou junto ao meio-fio, na frente o Leão Marinho vinha acompanhado de dezenas de focas, prontas para fofocas, começaram a fotografar o evento. Olha o passarinho! Olha o passarinho!
Comigo, não tem mosquito, eles sabem que em governo de Sapo não dão rasantes. As abelhas operárias, ofereceremos pétalas de rosa, terão sem sombra de dúvidas um doce lar, perfumado sem o odor de esgoto estagnado que toma os ares das comunidades. De hoje em diante, quero avisar a quem estiver interessado e aos navegantes, de que todas as balas perdidas serão achadas e distribuídas para divertimento dos menores, que muitas vezes, nem bala para comer tem. Avisem ao formigueiro que vem aí tamanduá. Vamos acabar com esta trilha de animais que sobem a ladeira noite e dia em busca de farinha branca.
O caminho em que o Sapo ia passear e passar, não passaria boi, nem a boiada. Tudo foi interditado há mais de uma semana, em nome da segurança do Sapo, logo sendo o maior representante do povo da Floresta, todos animais se sentiriam com segurança para dar e vender. A pomba da paz permanecerá em seu pombal a serviço da comunidade, serão eternas vigilantes. O Sapo por instantes interrompe o discurso para olhar pelo buraco do muro, o que estava acontecendo do outro lado.
Do alto do morro, descendo a ladeira preso pela gola, Pituca, o gato de botas, meliante perigoso que estava em local desconhecido. Procurado por toda a cachorrada. Localizado após denúncia anônima. Pituca, antigo líder comunitário que deixou-se influenciar pela má companhia dos ratos e urubus, que de uns tempos para cá, passou a roubar ricos e pobres. Batalhador desde cedo, quando mal freqüentava a creche da comunidade para trabalhar e sustentar a grande familia de gatos famintos que moravam ao relento. Sem sardinha e leite, o desespero de Pituca era cada vez maior. Depois de crescido e pelas companhias, ao conhecer uma gataça em uma balada, sua vida mudou para melhor. Sua história foi contada para o Sapo por um desconhecido, muito sensibilizado, com lágrimas a percorrer a face, sua pele calejada e enrrugada desde os tempos em que foi sindicalista. Num coaxar só, abafado pelos cascos dos cavalos na platéia, do alto de um caixote, aos quatro ventos, após ouvir um poema recitado pela Borboletinha, acabou por terminar a visita, prometendo fazer mais pela comunidade, quando olhou para o alto, além do Ninho de Urubu, avistou um Ninho de Tucanos, do bico grande e boca aberta, doidos para tirarem proveito da solenidade. No entanto, do alto do lado esquerdo, em cima de uma laje, uma hiena ria muito da cena, chegava a dar cambalhotas.

*Imagem. E. Kimombo

segunda-feira, 3 de março de 2008

Vida de Sapo

Lula Lelé, um ex-sindicalista amigo do Sapo dos tempos em que brincavam muito de pular carniça, mais o filho caçula de Vavá, o Urubu, velho inspetor do grupo escolar localizado lá na periferia dos Jardins das Borboletas. Lula Lelé amigo do Sapo, gostava de contar para os coleguinhas que a primeira escola foi um Jardim de Infância em uma pequena casa localizada no alto do morro toda engraçada de cor amarela, feita com pedaços de madeira sem muita mesa ou cadeira, quadros-negros despencando, faltava sempre giz e luz. Os banheiros entupidos, bebedouros sem água mineral e cantina sem bala puxa-puxa, pipocas e algodão doce. Doces de bananas nanicas era o preferido de uma grande parte da galera, mas estavam reservadas para os filhotes dos Guaribas, moradores sem teto, que viviam em galhos na parte sul do Jardim das Borboletas e que passavam grande parte do dia sem nenhum alimento. Iam para a escola para comer e não para estudar.

Viviam felizes, o Sapo, Lula Lelé e Bicudo, o trio bagunceiro da escola. O sapo gostava de dar susto nos coleguinhas, escondendo-se atrás das portas e pulando no pescoço do primeiro que passasse pela porta da sala. Lula Lelé sempre arrumava um jeito para colocar um dos pés na frente das franguinhas para levarem um tombo; Bicudo gostava de jogar bolinha de papel na cabeça da tia Cotia do primeiro turno e no segundo, na Abelhinha, a tia que trabalhava na biblioteca. Bicudo ria de tremer o bico, desta maneira dava para ver os primeiros dentes de leite do filho caçula de Vavá.O mais levado deles, o que sempre levava advertências da Tia Mutuca e cascudos da mãe, durante a semana.

O Sapo sempre matava aula, quando a professora fazia a chamada, uma rã imitando a voz do Sapo, dava a presença para ele. Presente, fessora! Disfarçava a rã, que era na verdade a sua primeira namorada. Fazia tudo por ele.

Quando acontecia isto, a professora sabia que Sapo havia pulado a cerca e estaria jogando bola, vestido com a camisa listrada em preto e branco. Morria de amores pelo gavião, chegava a ser fiel. Ele organizava o time, dono da bola e atacante caneleiro, um dos artilheiros do campeonato ao lado do Animal, o artilheiro da Colina. Sapo jogava muita bola, era o jogador que qualquer time gostaria de ter no elenco. Sua presença em campo chamava a atenção de olheiros e dos técnicos adversários, inclusive pela voz rouca em que dizia: “Um por todos, todos por um”.

Dali do florido campinho do Jardim, deu um salto para os campos de várzea. Ganhou fama e estátua em homenagem prestada pelo Sapo Gordo. Batia um bolão Só esteve uma vez no banco de reservas, quando o técnico Leão, para impor disciplina no elenco, devido a grande agitação liderada pelo Sapo e seus cupinchas que reclamavam dos salários em atraso. Nesta ocasião morava em Brejo Seco e estava de olho na Perereca. Aos sábados e domingos ia namorar no portão da casa da Perereca, de tão apaixonado pela Perereca que chegava a babar e fazer serenata para a namorada antes de tocar o sino da igreja para anunciar que eram dez horas da noite. Dona Rã Silva, ranzinza como era e Sapão Silva do alto de sua autoridade paterna, apenas permitiam o namoro na porta de casa e até às dez horas da noite. De longe os pais da noiva ficavam corujando o casal. Quando um dos dois exageravam nas carícias os pais davam de espirrar e tossir.

Leão Marinho velho escriba que naquela época era correspondente em Brejo Seco, através de seu jornalismo investigativo, apurou que o Sapo ficou fulo da vida, que ameaçou a abandonar a carreira de jogador para ingressar no mundo da militância sindical. Houve desmentidos. Foi um bate boca muito grande. Dizem que um dia, de um mês qualquer depois de terminar a peleja, correriam direto para o Pé de Jaca para beber suco e muito caldo de cana, mais caldo do que suco. Em conversa de mesa de bar com Lula Lelé fez uma aposta com o parceiro cismou que queria ser presidente da comunidade.

Lula Lelé na verdade, gostava mais de ler do que o Sapo, que apenas juntava álbuns e figurinhas para jogar bafo-bafo. Na hora do recreio, que hora bem feliz, o mais velho da turma gostava de jogar amarelinha. Quando não via o inspetor, ou quando este estava cochilando, aproveitava para junto com Bicudo, pichar paredes e muros.

O tempo foi passando, décadas e o namoro com a Perereca começou a ficar sério demais, que houve até casamento. Uma festa de arromba realizada assim, que o Sapo tomou posse no Sindicato dos Trabalhadores, como presidente da entidade. Anos depois, eleito presidente da comunidade. Rato Malhado, duas horas da tarde, a partir de hoje estarei junto ao Polvo, a Lula Lelé, Ostras e Baleias. Um insistente tucano de bico grande e torto de tanto usar cachimbo, sobrevoava no céu em altos vôos em direção à rampa, era seguido por urubus, gaviões de penacho, mutucas iradas. Uma marcha de pingüins seguia pela avenida principal da Comunidade do Rato Malhado levando cartazes em apoio ao Sapo.

* Imagem em exposição: Edward Saidi Tingatinga -Artista Tanzaniano.Fundador da Escola de Arte Folclórica da Tanzânia. Morreu aos 35 anos. (1937-1972)