quarta-feira, 17 de outubro de 2007

Rascunhos dispersos

Não tenho muita facilidade para escrever, demoro um pouco, as idéias surgem e desaparecem com a mesma rapidez, por exemplo, de um raio a iluminar o céu. Penso e repenso, escrevo rabiscos para logo em seguida, deletar tudo. Apago muitas vezes sem deixar vestígios. Persigo idéias e também ao contrário elas insistem em me perseguir, mas todas por incrível que pareça acabam por escapar, me abandonam sem nenhuma hesitação. Estão sempre prontas, preparadas para que aconteça qualquer relaxamento de minha parte, para saírem em busca de idéias e companhias mais interessantes, fora deste espaço.

Não tenho o menor cacoete que sinalize que sou um escritor, ou um blogueiro, faço um enorme esforço para ser um deles. Às vezes quando sou um, deixo de ser o outro. Sem muita intimidade com a gramática e com a arte de escrever, vou como melhor entendo, escrevendo sob a forma de rascunho. Aos trancos e barrancos. Catando palavras aqui e ali, vou juntando, colecionando, mas não as deixo aprisionadas, são livres e soberanas para fazer o que quiserem. Coloco-as em um espaço sem limites.

Escrever é uma atividade solitária restrita basicamente para quem constrói um texto escrito, que se pressupõe de imediato a figura de um leitor. Para evitar surpresas tenho sido leitor primeiro de meus rascunhos. Mesmo com esta condição não me isenta de uma avaliação imparcial.

Trabalhei em editora, fui editor e timidamente editei alguns títulos, alguns lograram êxito, mas não tive fôlego para dar continuidade com a edição de livros. Arquivei meu projeto bem guardado, cimentei qualquer possibilidade de retorno.Fui enquanto pude distribuidor de livros.

Sempre que tenho um texto diante de mim, penso, ou melhor, vivencio o mesmo momento, que tempos atrás eu lia um texto que me chegava às mãos. Li e relia originais mais de uma vez, duas ou três, sei lá e passava adiante para outra pessoa ler.

Aqui o que produzo para este espaço peço para minha adorável companheira Marilene por mais de 30 anos assuma a condição de leitora daquilo que escrevo, mesmo que seja sem eira nem beira. Sua capacidade crítica e de discernimento permitem que faça um julgamento criterioso, sem se contaminar pela relação de companheirismo.

Confio muito em sua avaliação.Para o meu texto evoco um número maior de leituras e releituras, vou deixando fluir sem nenhum cerceamento as minhas idéias, mesmo desarrumadas, ou fora do lugar, para configurar algo que me possibilite dar prosseguimento ao ato de escrever.

Sou leitor de mim mesmo, como se eu estivesse diante do espelho. Tenho vontade de escrever, desde garoto, assim que foram emitidos os primeiros sinais de que eu tinha vontade de escrever, de ser jornalista e escritor. Não fui uma coisa nem outra.

Tive um desvio de percurso na adolescência vivida na Tijuca ao ficar empolgado e lidar com formas diferentes de pensamento, das leituras que eu vinha fazendo, foi à motivação maior para fazer ciências sociais. Comecei a subverter o meu mundo, passei a ter uma visão mais contestadora da realidade, percebia com clareza as discrepâncias sociais, as diferenças de classes e gostos.

Comecei a juntar livros, palavras e idéias. Produzi escritos restritos a concepções românticas e poéticas de minhas leituras do mundo, das coisas em minha volta. Meu poetar tinha influências dos poetas editados pela Civilização Brasileira, da poesia social e dos romances. As idéias soltas e com o pensamento receptivo as novas idéias, acabei por me transformar em um militante com as idéias e ideais em um partido. A sociologia passa a fazer parte de minha vida.

Continua

Ps:Oswaldo Goeldi
Artista nascido no Rio de Janeiro, em 31 de outubro e falecido na mesma cidade, em 16 de fevereiro de 1961. Filho do diretor do Museu Paraense Emilio Goeldi. Ilustrador de livros, revistas e periódicos. Foi também gravador, professor e desenhista. Desde de 1923 se dedicou a Xilogravura. A obra do Mestre Goeldi é muito rica, bonita e deve ser consultada, inicialmente em sua página. Há imagens e referências ao artista em diversas páginas da internet. A imagem exposta foi retirada como reprodução deste site A curadoria de obra está sob os cuidados de Ricardo Barradas e a sobrinha do artista, Lani Goeldi.

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