quarta-feira, 24 de outubro de 2007

Reino da Bicholândia : A Volta do Bode Ludovico














Ludovico ficou impaciente ao aguardar no sinal, para atravessar a pista. Ameaçou duas vezes e desistiu. Os carros, velocípedes em velocidade e os humanos, o deixavam muito assustado. Enfim, quando atravessou, quase que tropeçou nas próprias pernas ao andar mais rápido. O reino da Bicholândia parecia um paraíso. Um reino encantado.

De longe, avistou o Sapo Barbudo, enquanto aguardava a vez, tagarelava sobre etanol com uma charmosa avestruz militante, encostados em um palanque; pelo sorriso estampado do Sapo, percebeu que estava muito feliz com este encontro. Três hienas sem dentes e sorridentes em pé no muro, aplaudiam entusiasmadas. Passaram a gritar alucinadamente no megafone: o Chefe é bom companheiro, o chefe é um bom companheiro, o Sapo é um bom companheiro, ninguém pode negar! Pastores e lobos arreganharam os dentes com a aproximação do ilustre visitante.

Do outro lado da calçada do Palácio, tapadas por enormes biombos, burros desempregados, patos enfermos e gansos vindos de afogamentos, enfrentavam filas e mais filas em busca de seguros-desemprego. Um cavalo fardado de segurança do posto deu alguns coices em um irado camundongo que esbravejava sem razão que tinham furado a fila. Estava ali desde cedo, sem comer nem um pedaço de queijo, acordara por volta de quatro da matina e agora via um jumento passar a sua frente. Estes animais sempre reclamam de barriga cheia, estão viciados, zurrava em bom som um jerico uniformizado, ao lado de dois vigilantes gorilas.

O arqueiro Zen chegava a galope em seu velho pangaré, todo esbaforido, com noticias do Planalto. Acabara de receber um envelope pelo pombo-correio. A Rádio Papagaio, mais do que de pressa, em nota oficial esclarecia, pela anta de plantão que a Águia mandara evacuar o recinto repleto de autoridades, pois suspeitava de algum membro da comissão de frente, estava ali infiltrado, sob as vestes de um famoso terrorista candango, segundo informações sigilosas, havia uma observação neste sentido no relatório improvisado, avisando, que um suposto agente com aparência de um animal peludo e chifrudo, teria explodido uma bomba de chocolate no chão da quadra da escola de samba. Perseguido em vão, o desconhecido acabou por embrenhar-se no mato. Soltaram os cachorros, mesmo assim acabaram dando com os burros n água. O animal peludo e chifrudo nunca mais foi visto nas redondezas. Uma besta jurou ter visto o terrorista despido soltando fogo pelas ventas.

Ludovico entre uma baforada e outra, assistiu aquela circense cena, caiu na gargalhada e não percebeu que Dom Ratón, antigo agente da Ilha, passou por ele e o reconheceu. Por sua longa experiência, Dom Ratón, percebeu que se tratava de um disfarce que o companheiro de longas jornadas noites adentro, estava correndo perigo. Aproximou-se do antigo companheiro e pediu para acender o charuto. Dom Juan Ratón, desenvolvia projetos para o turismo. Espalhou agencias em vários pontos do país. Havia acabado de inaugurar uma agencia de encontros para a prática de sexo selvagem, com as melhores gatas e galinhas do pedaço.

Continua.





Rossini Quinta Perez : Nasceu em 1932, na cidade de Macaíba, Rio Grande Norte . Gravador, Pintor e Fotógrafo. Foi aluno de Fayga Ostrower. Trabalhou como assistente da gravadora Edith Behring. Na Europa foi bolsista da Unesco em um curso de litografia na Rijksakademie van Beeldende Kunst de Amsterdan; residiu em Paris até 1972. Retorna ao Brasil nos anos 70 e passa a residir em Brasilia. Participou de diversas Bienais, de exposições individuais e coletivas. Desenvolveu trabalhos com Farnese de Andrade Ganhador de diversos prêmios Sua obra faz parte de importantes acervos particulares como: Gilberto Chateaubriand e Kiri Te Kanawa. Documentou as transformações através da fotografia da paisagem urbana de nossa cidade , entre as décadas de 70 a 90. As imagens podem ser vistas em coleções do Instituto Moreira Salles (IMS).Vive no Rio de Janeiro.
Fontes de consulta: Itaú Cultural, Tribuna da Imprensa Museu Castro Maya , Universidade Estácio de Sá MNBA

Um comentário:

J.KWALKANT disse...

GE-NI-AL!!!
Esopo redivivo!!!
E como diria o "seu" Manoel:
"Biba o Basco!!!"

J.Kwalkant.