sábado, 26 de abril de 2008

Silêncio, os cachorros estão latindo.











Não estamos no mês de agosto, mas com toda a certeza, o cachorrinho da vizinha é louco, late o tempo todo e a qualquer hora do dia. Como tenho escrito ultimamente durante a madrugada para fugir um pouco do barulho de Copacabana, sou testemunha nestas horas da presença dos neuróticos cachorros da vizinhança, que latem sem parar. Há latidos e uivos diversos produzidos por diferentes raças de cachorros, mas com certeza é um animal de pequeno porte. Não tenho conseguido identificar pelos latidos, qual seria a raça do cachorro que acabam com um momento silencioso da noite. Claro que os animais não são os únicos que fazem barulho, há outros sons urbanos, que são irritantes. Aliás, os latidos estão incorporados ao cotidiano da vida urbana, como é o caso do bairro onde moro.

Fomos donos (eu, a companheira e o filho) de um cachorro vira-latas que viveu por dezessete anos, durante toda a sua existência procuramos minimizar bastante os seus latidos, claro que alguns fogem do controle, é instinto do animal se comunicar de algum jeito, daí os latidos que podem significar várias coisas. Cabe ao dono educar o animal. É possível com o passar dos anos o meu grau de neurose tenha aumentado em muito, entendo, que não seria capaz de conviver com um animal latindo o tempo todo ao meu lado, sem passar por uma reação, afinal não estou isolado, vivo em prédio e em uma área urbana.

Gosto de animais, depois que Kim morreu; decidimos, eu e a companheira, não teríamos mais nenhum cachorro, digo cachorro, por ser esta a nossa preferência, em vez de gatos, ou passarinhos.

Fico espantado e muito irritado com a capacidade das pessoas de não se tocarem que o animal que tem sobre os seus cuidados perturba, senão a vizinhança, pelo menos um dos seus vizinhos. Muitas pessoas não entendem que o direito delas termina onde começa o do outro. Acho que estão cegamente convencidos de que os latidos do totó, senão incomoda a elas, aos outros muito menos. Admito que as vizinhas dentro de um modelo individualista de pensar as relações sociais poderiam me recomendar que os incomodados que se mudem.

Entendo que a população canina de Copacabana é numerosa, outro dia, de bobeira na janela, observei que é constante o movimento de cachorros com os seus donos pelas calçadas de ambos os lados. Quando caminho pelo calçadão observo, a presença de caninos. Não há um grande intervalo sem passar algum cachorro, sem ouvir latidos e brigas entre eles. A orla de Copacabana é uma festa para os bichos e seus donos. Em períodos momesco há o surgimento do Blocão, um bloco de carnaval animado para os donos e seus respectivos animais. Há sempre atividades no bairro envolvendo a turma de quatro patas.

Quando tivemos o Kim sempre quando o levávamos para passear, pegávamos o jornal para ser utilizado no momento necessário. Em Botafogo foi o bairro que moramos quando Kim era um filhote, o uso do jornal pelas ruas do bairro gerava elogios dos passantes. Ouvi algumas vezes elogios de pessoas de dentro dos carros. Isto era no final dos anos 70 e começo dos 80. Respeitamos sempre o espaço alheio, principalmente a calçada, pois, conduzíamos um animal; depois vieram campanhas educativas, que contaminou um pouco os donos de animais, passaram a usar sacos e jornais. Vejo que há muitas pessoas que deixam os seus animais fazerem suas necessidades pelas calçadas, nem ligam para o próximo, acham que sempre terá alguém para limpar o que sujou e que a condição social de quem limpará é inferior à deles. Já vi olhares de censura para este tipo de pessoa que estão acima de qualquer mortal, mas que continuam desrespeitando o próximo, não se tocam, são refratários. Nem falo dos que andam sem coleiras e guias, como o caso de pit-bull, rottweiler e fila. Os jovens senhores donos destes cachorros ignoram qualquer regra, qualquer lei, alguns são tão ferozes quanto os seus animais. Sou um dos que desde pequeno não tinha medo de cachorro, mas de uns tempos para cá, fico apreensivo em esbarrar com estes agressivos animais, o noticiário a respeito reforça em mim, uma preocupação que, aliás, ninguém deve perder de vista.

Interrompi a publicação da finalização de um dos meus contos para abordar um dos assuntos que chama a minha atenção enquanto morador de um bairro com grande contingente de moradores produzindo os mais variados ruídos. Fica difícil proclamar qualquer garantia de sossego, fica inviável, usufruir momentos de silêncio.





Domingos Alvarez - Pintor Galego

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