sexta-feira, 4 de abril de 2008

O Sapo e as eleições.















A reunião foi marcada para às 5 horas da matina.Foram convocados em caráter de emergência os melhores amigos do Sapo: dois asnos brincalhões, cinco camelos sonolentos, três antas que acabavam de chegar da farra, duas bestas militantes e graduadas em ciências politicas, um jumento recém promovido, dois porcos, um cavalo na condição de ouvinte e representante do sindicato; uma foca fã do Sapo, que fofocava e bebericava nos bares da vida antes de fazerem piquetes na porta da Besouro e da Corcel. Seis camundongos sindicalistas que lideravam as greves nos bancos das praças. A Mula Manca, que gozava de certa intimidade com Sapo, quatro jumentos observadores, duas rãs e três pererecas para secretariar a reunião. Um grupo de pulguinhas vestidas em trajes de palhaças para alegrar o ambiente, dançando freneticamente. Todos marcharam rumo ao local do encontro, a velha sede do partido.
Antes do grande lider dos povos da terra começar a falar, toca o celular, era a Pererequinha Loura da Silva reclamando que ele não deu nenhum beijinho. Aí Nhonhoco já estou com saudades daqueles beijinhos que você dava em mim, da cabeça aos pés. Que é isso? Não é de hora de initimidades. Pára minha queridaTchuquinha estou para começar uma reunião do partido, para decidir muitos assuntos pendentes. Psiu! Pára, vamos parar! Não é hora de pensar em outras coisas, além das próximas eleições. Querida prometo que quando voltar vou cobrir de beijos e flores, disse olhando de esguelha para uma rebolativa lebre que servia café. Não estou pra ningúem, nem para o Bucho, mesmo que ele diga que quer falar com Deus. Para o camarada Huguinho diga para mandar um e-mail.
Companheiros, é chegada a horam disse estendendo a mão para um e para outro dirigente do partido e distribuindo tapinhas que não dói nas costas nos demais correlegionários. Nosso governo vai de vento em popa, mostrando a manchete da Voz da Floresta. A nação progride aos olhos vistos. Tá na cara! Só não ver quem não quer ou quem já morreu. Gostaria de lembrar que é mentira desta oposição de que beneficiamos os engravatados, os colarinhos brancos, a elite econômica e financista. Destes que gostam de ficar olhando pro céu sentados nos bancos das praças de nossa comunidade. Nosso governo é popular e democrático, voltado para os interesses das classes D, E, F,G, Combatemos a corrupção e os mosquitos.
Aqui em nossa comunidade não tem mosquito.Todos foram dizimados com o nosso programa de saneamento. Em terra de Sapo, mosquito não dá rasante, foi a lição que aprendi de meu avô. Comigo não tem mosquito! Fizemos um grande acordo para espantar um grupo minoritário radical de muriçocas, mutucas e aedes, que queriam bagunçar o meu coreto. Com medo se mandaram para o outro lado do Rio. Cheguei ameaçar que se voltassem iríamos protestar de boca fechada em uma grande passeata. Farei uso de minhas prerrogativas e usarei de um megafone para avisar em alto e bom som, caso teimam em ficar por estas bandas, usaremos sem pestanejar bombas e mais bombas de flit. Não será por falta de aviso. As arapongas me contaram que não ficou um mosquito, uma mosca para contar história. Um governo enérgico como o nosso, que não brinca em serviço. A culpa está do outro lado da margem do Rio, que sem outra coisa para fazer, nada faz.
O alcaide fica em seu trono celite por horas e horas enviando e-mails para os eleitores. Todos que recebem as mensagens, não levam a sério o que o Doutor Coelho escreve por linhas tortas. Milhões de mensagem vão direto para as lixeiras dos eleitores. No final do dia, de tanto trabalhar em prol da população, depois de olhar por horas o teto, o Dr Coelho, chama a sua amiga Ursa para brincar de roda e jogar amarelinha. Assim, passa o dia, muito feliz, achando mesmo que a sua gestão é a melhor do que qualquer uma. Nega a três por dois que não há epidemia de dengoso na comunidade, que era a mais pura invencionice de quem nada faz pelo povo sofrido e trabalhador.
O relógio batia 11 horas. A rã lembrou ao Sapo que deveria tratar do assunto sucessão que foi o motivo desta reunião de emergência. Enquanto, queimava a mufa, pensava no que falar, se sobre a rodovia ou se a ponte que caiu,na dúvida, chamou o próximo orador, o veterano sindicalista que o substituiu. Assim que cantou o seu nome, recebeu vaia do começo ao fim, pois era identificado com uma das correntes ligadas a um famoso carreirista e militante da Chapa Quente.
Como gozava da mais alta estima e consideração que chamou o Sapo pelo apelido de infância; após segurar o microfone, muito emocionado,lembrando dos tempos em que não voltam mais, agradeceu ao companheiro e advertiu de imediato no calor da hora: "Oposição pode tirar o cavalinho da chuva", repetiu mais de uma vez em cima de um palanque improvisado por caixotes e caixas de papelão, diante dos diversos animais presentes. Com uma piscadela para a Mula Manca, deu por encerrada a falação. Os gansos que faziam a segurança do Sapo se posicionaram vigilantes contra a aproximação de estranhos.
Um, dois, três queremos o Sapo outra vez, era o que se lia em várias faixas penduradas nas árvores. As sisudas abelhas operárias panfletavam o ambiente. Continuaremos a governar esta comunidade, pois não tem pra ninguém. Tucanos, Crocodilos, Bezerros, Girafas, Lacraias e Raposas, continuarão a fazer oposição e a brincar de faz de conta.





Manuel Mendive : Artista Cubano

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