quinta-feira, 3 de abril de 2008

Lena e as amigas

















Do outro lado da Lagoa, Maria Luiza aguardava a visita combinada com Lena para passar o dia em sua companhia. As duas estavam solteríssimas, os filhos de Maria Luíza, estavam crescidos e morando fora; os dois de Lena, estavam em sua companhia. Há muito tempo que havia programado esta visita, das outras vezes em que havia combinado, nada dava certo, ora um filho que estava doente, ora um que não havia chegado em casa; nem avisada de quando retornaria à casa, estava há dias pelo mundo, na casa segundo ele, de amigos que ela não conhecia. Preocupada, cancelava todos os compromissos. Lena vivia para os filhos. Lucas, disse que ia comprar leite, um maço de cigarros e não voltou mais, abandonou com os filhos e seguiu os encantos de uma jovem, era o que foi comentado na ocasião. Desta vez, de pés juntos, jurou ao telefone que estaria no dia e hora combinados para ir ao encontro da amiga. Precisava desprairar, sair um pouco, necessitava de outros ares, era só preocupação com os filhos, falta de dinheiro, ex-sogra dando ordens, metendo o nariz onde não era chamada. Reclamações a todo instantes da mãe bem idosa com dores nas juntas, e falar da vizinha que faz barulho; além das próprias dores que sentia, de frio nos pés de seu pai, que também reclamava. Sem dinheiro para comprar, como professora aposentada, o que ganhava estava todo comprometido com as dívidas e a sobrevivência, ao dia a dia, com os remédios dos velhos, que aumentavam sempre. Ficava muito irritada. Gostaria de rever a amiga que sermpre confiou e trocava confidências, uma amizade surgida no ginásio do clube em que treinavam basquete. Dos namoricos e de um casamento que surgiu com a apresentação por parte de Lili Formigona técnica da equipe de basquete, de Lucas, seu primeiro e unico namorado.

Ao se dirigir para o ponto de ônibus, surge diante dela, a mais fofoqueira, das fofoqueiras, Há dias quanto mais se reza, mais sombração aparece. Não é que eu estava ali, arrumei uma desculpa para me livrar da companhia, não adiantou, não foi possível me desvencilhar. Não se tocava, era uma destas grudentas. Fui logo avisando de que não queria saber da vida de seu ex-companheiro, era o que todos sabiam. Lucas andava sumido, nem visitava os filhos. Da ultima vez que teve noticias, embora, negasse que queria saber, foi quando a tagarela da vizinha deu com a lingua nos dentes e contou que viu o seu ex em companhia de uma uma mulher, toda elegante, em uma fila de banco para recebimento de pensão. Lucas também muito bem vestido, enquanto aguardava do lado de fora, dando baforadas em um charuto, e olhando a paisagem urbana. Distraia não só com os movimentos dos carros, mas com quem passava pela calçada. Andava de um lado ao outro um pouco impaciente. Se você quer saber Lena, quando Lucas me viu passar, foi engraçado, chegou a fazer gracinhas, não tirou os olhos, com certeza estavam fixados em alguma parte de meu corpo. Acho que não sabia quem eu era. Amiga, olha! Vocês não estavam mais juntos. Estou falando por falar.
Por ser sua amiga, não dei bola. Em nome da verdade, ele não estava com esta bola toda, como contou aquela vizinha que mora na esquina. Nem acreditei no que contou, considerei com ela, se havia confundido, disse que não, que conhecia muito bem a figura. Eu mesma vi, com pouco cabelo, uma calvíce acentuada, mantinha uma barba bem aparada, diferente dos tempos de juventude. Observei também uma ligeira protuberância em sua barriga. Lembra de uma vez que eu lhe contar uma coisa e acabei não contando. É que foi espalhado na ocasião de que ela, a vizinha faladeira, tinha um caso com Lucas; foi o que jurou a tia de uma amiga da manicure que trabalhava no salão da Madá, aquela conhecida sacoleira que dá em cima de qualquer um.
Não quero ser chata, nem fofoqueira, Lena. Madá ficou com Lucas por uns seis meses. Uma abelhuda, destas amigas e clientes que freqüenta o salão, que por ser muito amiga de Madá, uma das amigas íntimas garantiu que foi ele, quem ajudou a montar o salão. Dizem que ficou encalacrado, nesta situação, ela ainda deu uma rasteira e uma banana para ele. Beth sabia tudo sobre a vida de Lucas. Lena você sabe que tenho apenas a fama, mas como me conhece, sabe que não sou fofoqueira. Lena apenas escutava, de olho no relógio, no fundo não interessava em nada que lhe contava. Vamos tomar um chá? Estou cansada de ficar em pé, disse caminhando para uma casa de lanches. Pediu desculpas, ficaria para a próxima oportunidade, respondeu com pressa.
Foi se o tempo em que seu coração cedeu aos encantos de um companheiro, não queria realmente saber de mais nada, mas volta e meia, aparecia uma destas amigas, para lembrar Vamos sentar naquele canto? Insistiu, Beth. Querida tenho um compromisso com minha comadre e a amiga de longa data. Sempre prometo uma visita e estou sempre adiando. Lena preciso lhe contar, estou saindo com Lucas, você sabe, sou sua amiga, nunca dei em cima dele, pelo contrário, ele quem insistiu muito. Tchau Beth, divirta-se, nem quero saber. Pegou o primeiro ônibus e foi ao encontro de uma verdadeira amiga. Destas que são difíceis de serem encontradas, mas que existem.


Naguib Elias Abdula - Artista Moçambicano




















Um comentário:

Lia Noronha disse...

Linda história...saudades suas..e da Lena..dos nossos bons tempos de blgagem,lembra-se meu querido amigo?
Bjins carinhosos pra ti diretamente do meu Cotidiano.