terça-feira, 22 de abril de 2008

O Louco da Colina - Parte Dois









É um homem vestido de sapo, tentou falar o que estava em um caixote segurando uma boneca de pano. Cala boca maluco! È o Louco da Colina. Ouvi por muito tempo falar de sua fama de mau.Tão mal que nem pica-pau. Meu tio que foi garçom no boteco de seu Juaquim contava as maiores loucuras dele, cada uma de arrepiar, todas sinistras. Vamos nos esconder. É perigoso ficar por perto. Já tremendo da cabeça aos pés, foi à sugestão do mais medroso da turma que andava pra cima e pra baixo vestido de Gato de Botas. Calma pessoal, gritava enlouquecido o interno do Pavilhão 9, que ao saltar de cipó por pouco não pisava nos calos de Zé do Boi, que estava ali, por ter acabado com o seu serviço na cozinha. Cuidava da gororoba da turma. O apelido ganhou por conta das histórias incríveis que contava de seu tempo de vaqueiro, em que pegava touro à unha. Todos pediam bis, para contar mais histórias mesmo que ninguém acreditasse, todos riam e aplaudiam.

O estranho visitante, muito confundido pela maioria dos internos com um sapo, continuava com a caminhada, até chegada à sala do Doutor Simão, restavam uns cem metros. Como perdeu a calma por ainda não ter chegado ao local, passou a caminhar de modo apressado e bufando. Um engraçadinho escondido passou a orquestrar as primeiras vaias e xingamentos. Parou e começou a esbravejar contra o desconhecido, soltou cobras e lagartos, para seguir em frente, aliviado. Não sou de engolir sapos, nem gosto de comer pererecas.

Um enfermeiro barbudo, com mais cinco, atrás de uma porta aguardavam o novo paciente, para vestir uma camisa-de-força, tamanho GG tudo feito para que se sentisse confortável dentro da nova vestimenta. Quando viu passar o estranho visitante, reconheceu de imediato, foi o mesmo que ao ser chamado com urgência resistiu bastante ao internamento. Nem com o Sossega Leão, o deixou mais calmo. Vai ser um caos maior neste hospício quando num ataque de loucura, gritar que é Deus. Como é cobra criada, comentou baixinho para não ser ouvido.

Antes de chegar ao gabinete e ao dobrar a esquina viu uma árvore e saiu em desembalada carreira em sua direção, de um bote só, tratou de ficar agarrado ao tronco, que não havia jeito de soltar. Puxaram de um lado pro outro, e nada. Nem jogando água fria resolve. Solta a árvore! Solta! Larga! Do jeito que está, só dinamitando Psiu! Rápido! Fala com o Poeta, o assistente do Dr. Simão para pegar com urgência, lá na Casa Verde, no quartinho dos fundos, na prateleira de cima, um pacote dentro de uma caixa preta. O Doutor Simão vai aguardar mais alguns minutos para conversar, disse a secretária Neide.

Não houve jeito. Ficou tão ligado ao tronco que passou horas alisando de cima para baixo, depois de muito babado passou a beijar de estalar o tronco. Seu olhar hipnotizado ao ver o seu objeto de adoração, foi testemunhado pelos internos e pelos funcionários da Colônia. Coitado! Comentou o funcionário Seixas que soube uma vez por seu amigo, que ele se esforçava para ser um sujeito normal e fazer tudo igual.

Ajoelhado diante da árvore fez juras de amizade e amor eterno. O que tanto conversava ao pé da árvore, era o que queria saber um paciente que estava prestes a receber alta, pois ficaria em casa para tratamento. Precisa muita cara de pau, para se submeter a isto. É ele mesmo? Não conseguiram mesmo controlar a sua maluquez. Um senhor que cansado de tanta confusão, antes de voltar para a cama, comentou com o vizinho, nunca com a idade que tenho, vi com estes olhos que a terra há de comer, um homem ser tão aficionado por um tronco de árvore. É uma vergonha, vi lambendo, cheirando e alisando freneticamente o tronco.

Com o tempo ainda conseguiu da direção permissão para colocar uma grade de proteção, para que ninguém se aproximasse. Contratou um monte de segurança. Seu comportamento, muitos afirmaram que mudou para pior depois que viu o tronco da árvore.

Compadre, falou para o vizinho, que grande escândalo aprontou o homem fantasiado de sapo fez ao encontrar com o gordinho, baixinho e careca, aquele interno da ala 11 que chegou a poucos minutos e bate um bolão em nossas peladas de sábado. Ele não é interno compadre, ele é visitante, como joga muita bola, Tobias, este sim, que é interno da ala 11. Como não consegue ficar longe da bola, convidamos para jogar em nosso time. Ganhamos todas. Com ele, não há quem possa, mesmo com os fios brancos de seu cabelo.

Quem me bateu foi um cara do pavilhão 9, da galeria dos alucinados, um jovem de nome Alex Lunático ou Girafão como muitos gostam de chamar. Sabe quem é? Sei sim, é aquele que vive tropeçando nas próprias pernas ao correr na hora da ginástica. Pois é, disse que estava pendurado na grade, presenciou uma cena inusitada. O homem vestido de sapo ficou enlouquecido quando foi ao banheiro, esbarrou na porta com uma pessoa que parecia ser seu conhecido, trajando uma camisa com as cores em preto e vermelho. Quando encontrei com Girafão no corredor ainda ria muito daquele encontro. Não pude evitar ri também que nem louco, aliás, louco já sou.

Como fazia naquele tempo toda espécie de loucura lá na rua, a minha familia, não aguentando mais, resolveu me deixar aqui, acabaram que se esqueceram de mim. Ninguém me visitava, sai uma vez no Natal, fui encontrar com uma filha. Não tive coragem de falar com ela, nem cumprimentar, coisa que mais queria. Fiquei contente compadre Virgulino, só em ver os meus netos, eram dois meninos. Cada um mais bonito do que o outro. Umas lágrimas escorreram de meus olhos, não tinha lenço, acabei enxugando na camisa. Fiquei parado do outro lado da calçada, peguei um pedaço de papel, era um bilhete, que guardo sempre comigo. Olha como está rasgado e amarelado, dá para ler o nome dos netos. Vê se consegue? Consigo sim, compadre. Diz aqui no bilhete que são dois meninos levados da breca. Escuta compadre o escândalo que o homem vestido de verde, como se fosse um sapo, faz.

Filho, você aqui! Procurei você por todos os lugares. Caiu em seguida em um pranto incontrolável, balbuciava: Seu amigo da onça, quer dizer amigo, meu irmão, camarada, fiz tudo para você, ainda faço tudo por você, que ingratidão comigo, nunca, nunquinha, pensaria que fizesse isto com o seu amigo, sou o seu verdadeiro pai, um pai patrão, é verdade, mas acima de tudo um bom pai. Foi uma crocodilagem sem tamanho. Interrompia o diálogo para chorar pelo leite derramado. A que ponto cheguei não posso aceitar que tudo tenha sido feito em vão. Tudo que andam falando é uma mentira deslavada. Uma cascata.Você não disse o que andam falando por aí. Mesmo que repitam por diversas vezes, nunca será verdade.
- Tá louco quem é você?
Não conseguiu responder, soluçava muito.


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