quarta-feira, 23 de abril de 2008

O Louco do Colina - Parte Três








- Que foi maluco?
- Sou louco por você! Sou louco por você. O que você faz aqui? Até que enfim encontrei com você. Minha vontade, meu desejo é de te beijar agora, puxar estes poucos cabelos, te fazer cafuné.
- Qual é parceiro, está me estranhando? Ainda mais vestido deste jeito.
- Fiquei muito feliz de encontrar com você.
- Sumiu por quê? Por que sumiu? Onde você estava que não respondia.Mandei recados, telefonei, mandei e-mails, fui à praia e nada de achar você.
- Você é aquele que estou pensando? Perguntou muito desconfiado
- Pois é, começaram a espalhar que fiquei com um parafuso a menos por afirmar que havia uma torcida que não era deste planeta. Na verdade não estou internado, as mil loucuras que fiz, não são suficientes para ficar internado. Se você é você mesmo, tô na bronca contigo. Vacilou e pronto!Deixou furo comigo. Perdeu! Já era. Vá reclamar com o Bispo Sardinha.
- O que você faz aqui neste lugar, onde só da louco.
- Vim buscar um amigo meu louco por mulher, cismou que quer ir ao show da Garota Melancia. Vamos depois dar um giro pelos bares da vida.
- Vai ser uma loucura, a mulher bate um bolão. Aquilo é demais.
- Não quero saber de show de melancia, de morango, de jaca, de qualquer outra fruta. Você ainda não me falou o motivo de seu desaparecimento. O que fez você mudar de idéia?
- Paizinho, deixa antes dar um beliscão neste nariz de Pinóquio Para você entender, você teria de ser de outro planeta.
- Mas já disse a você que sou de outro planeta, esqueceu? Que sou lunático, fanático por você. Lembra de uma vez que você jurou que era americano, nem acreditei nesta lorota, sei que você morava neste país tropical e bonito por natureza, na época, se não falha a memória tinha uma nega chamada Tereza, andava de fusca do amigo Jorge, pra cima e pra baixo. Foi uma tarde maravilhosa em que recordamos nossas promessas. Só eu e você. Você e eu, sentados à beira do caminho tomando guaraná. Bons tempos.
- Agora você me botou numa furada. Ao dizer que vai, mas não vai. Tá vendo aquela árvore ali atrás, perto do banco. Você está ali. Repito. Você está ali. Seu espírito, seu corpo. Você será eterno.
- Eu não estou lá. Nem vem que não tem. Quer me deixar louco. Estou aqui, bem perto de você, com esta camisa preta e vermelha. Interrompeu a conversa para beijar a camisa. Vamos sair da passagem, estamos atrapalhando as pessoas que querem ir ao banheiro.
- Que se dane os outros.
- Pára! Quero que me olhe, olho no olho, sem pestanejar. Você sabe e o mundo também que eu sou de veneta. Faço sempre o que der na telha. Planejava o meu futuro e sem você, o meu presente, só fica no passado. Olha mais uma vez para aquela árvore, como você está bonito. Agora também com esta camisa, fica um encanto.
- Você é louco de pedra mesmo, para dizer que eu estou lá. Quando cheguei vi um enorme sapo ajoelhado beijando uma árvore, era você? Na verdade aquilo é um pé de quê?
- De Jequitibá. Ali ninguém mexe se mexer vai se ver comigo. Não há louco que se atreva. Tudo que você representa está naquela árvore, quem seria o louco de derrubar uma árvore. Tranquei a árvore, passei uma corrente com um cadeado a sete chaves, como sou louco e não bobo, engoli.
“Ah! Eu to maluco! Ah! Eu to maluco!” Daqui não saio, daqui ninguém me tira.
- Cara! Você é muito louco mesmo. Piradão! A árvore pertence à Colônia, foi plantada segundo uma amiga professora de História desde 1898, passou por alguns lugares e depois foi lá para aquele bairro da zona norte.
- Faço tudo por você! Imito passarinho se quiser. Dou cascudos e chutes no traseiro do primeiro animal que eu encontrar pela frente. Converso com cachorro pit bull, mordo a orelha dele e se duvidar faço dele um cachorro quente. Continuo fantasiado de sapo para brincar com as criancinhas. Chamo urubu de meu louro, mordo minha orelha e o dedão do pé; tiro bala da boca de criancinhas,me transformo em profeta, começo a dizer coisas até que Deus duvida.
- Mas aí parceiro, que roupa mais estranha.
- Pedi emprestado ao Beto Chulipa a fantasia para não ser confundido com um sósia que enche o meu saco toda vez.que me encontra. Como gostei muito daqui, quero comprar estas terras, quero morar aqui com a família.Vou tirar muitas fotos daquela árvore. Olha bem a copa.
- Mas está a venda? Como vai comprar?
- Nem sei, nem quero saber. Quero comprar as terras deste antigo engenho, fazer vários campos, cada um mais moderno que o outro. Fiz contato com varias empresas estrangeiras, todas se mostraram interessadas.

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