segunda-feira, 21 de abril de 2008

O Louco da Colina - Primeira Parte









A Colônia recebeu com alegria incontrolável a notícia da chegada de um novo hóspede. Mais um! Mais um! Era o coro ouvido à distância. Foi uma loucura geral. Foi uma correria. Muitos chegaram a bater cabeça com cabeça. Uma pequena briga agitou o ambiente, mas foi logo apartada, era uma disputa pelo melhor lugar, nada que não pudesse ser resolvido com uma conversinha ao pé do ouvido com os donos do pedaço.Todos queriam ver aquele louco com fama de louco.

Eram dez horas da manhã, quando chegou. Assim que abriu a porta do carro, foi logo chutando um abelhudo que tirava fotos para uma revista. Deu um drible em um repórter e uma cusparada.Um velho papagaio de pirata passou a sua frente para pedir vários autógrafos, não deu nenhum, recebeu apenas sopapos e cascudos. Muitos que o conheciam sabiam que estava sempre dominado por violenta emoção, mas fingiam que nada acontecia, e quem era bobo de contrariar, virava logo um inimigo.

As noticias que circulavam antes deste providencial internamento, era que foi visto, berrando bem alto anunciando: Sou o dono do mundo e da bola, tudo isto aqui, é meu e de mais ninguém. Passou em seguida a insultar a todos, cuspir e dar sonoras gargalhadas pendurado no lustre do salão principal. Uma minoria que não era levada a sério, mesmo assim, afirmava que flagraram dando voltas e mais voltas em torno de si, na tentativa de morder uma das orelhas. O boato tomava conta do ambiente. Os pequenos grupos que ficavam do lado de fora na calçada conversando perto de um poste perceberam que um sujeito após vários murros começou a subir pelas paredes de tão enfurecido que estava. Não deu outra, era ele mesmo. Coisa de maluco era o comentário geral.

Tudo começou quando um operário numa bela manhã de agosto encontrou enterrado em um buraco com certa profundidade, coberto por muita grama; lá se vai alguns anos, um enorme objeto, na verdade, era uma caixa feita de madeira de dar em doido que se assemelhava em muito vagamente a uma urna. A noticia da descoberta, mal foi noticiada, para em seguida ser logo desmentida. Nada foi encontrado, assim foi declarado em nota oficial, era um simples osso enterrado por um vira-lata que morava nas redondezas e que foi confundido pelo ignorante trabalhador, com sendo uma urna.

O que se conta é que foi uma piração total, assim que recebeu a noticia do achado, com a boca espumando, olhos arregalados foi logo dizendo que era dele. Avançou sobre o objeto, arrancando dos braços do assustado homem. Tratou logo de dar um sumiço na caixa. Sumiu, ninguém sabe, ninguém viu. De lá pra cá, passava o dia, vendo fantasmas, ouvindo vozes do além e imagens masculinas. Eis que de repente por uma delas, ficou muito fissurado, a ponto de exercer uma idolatria fora do comum. Por aquela, vamos dizer paixão, faria qualquer loucura.

Na hora de ir para casa escutou ao passar pela portaria, um senhor que trabalhava como porteiro comentar sobre a descoberta do colega, levou logo um pontapé no traseiro; a moça do cafezinho, que conversava com o seu Manuel, o porteiro, teve a bandeja derrubada por tapas em suas mãos, apenas por comentar entre eles que o objeto achado era muito bonito e deveria valer muito. Não suportou ouvir os comentários, mandou os dois para o olho da rua. Se tivessem alguma coisa a receber, coisa que duvidava que fossem reclamar pelos direitos na justiça.

Começava assim mais um dia de fúria, que a cada dia era mais freqüente. Ficava fora de si. Até que, não se sabe bem o motivo, apareceu de supetão, naquela velha instituição psiquiátrica da zona oeste.

A desculpa esfarrapada dada aos filhos, é que iria fazer uma visita ao museu;aos amigos que ali estavam internados contou uma lorota ao propor a compra daquelas terras para fazer campos e mais campos para jogar pelada com a família.Comentário geral em uma rodinha, com certeza, só pode ser louco. A família muito preocupada discutia entre si, uns achavam que eram os sonhos e pesadelos que tinha desde a infância. Era na verdade um menino rico e mimado, outros achavam que eram delírios. Era um comportamento estranho e preocupante. Por mais que estivessem feito previsões, deu no que deu. Muitas eram as manifestações egocêntricas, assim, encasquetou que tudo que via pela frente, era dele e ninguém tascava. Tudo e todos giravam em torno dele.

A direção o aguardava. Depois de dar os primeiros passos, bastou um interno fazer caretas para logo partir para cima do homem, um senhor com anos de internamento. Daqui, pendurado desta grade me parece que é um enorme sapo e com nariz de Pinóquio que está se aproximando, berrou apavorado o sujeito que levava a fama de biruta que trabalhava na lavanderia. Também vejo um sapo, gritou o que estava em cima da árvore, chupando manga. Vejo um grande sapo, disse o anão encostado ao muro. Um sapo gordo usando cartola e carregando umas tralhas debaixo do braço. Se ficar internado aqui, será um louco de carteirinha. Vai ser doido de pedra. Um louco de curiosidade deu um salto e acabou vendo do que se tratava, mas saiu em louca disparada, rindo que nem louco, sumiu, após dar uma cambalhota, não espalhando o que tinha visto.

Não acredito no que estou vendo! Quando me contaram não acreditei. Belisca, belisca, me belisca que vou dar um troço, disse a secretária Neide, este hospício vai virar um inferno. É o mais louco dos loucos. Pelo amor de Deus, vamos mandar ele de volta. Por qualquer coisa, fica furioso. Tudo tem de ser respondido do jeito que quer ouvir, caso contrário sai distribuindo catiripapos nas pessoas, sobra até para quem estiver passando na hora. Um interno de bigodinho bem aparado, engravatado, segurando “Mein Kampf”, escondido atrás da porta, ficou louco de alegria em saber de quem se tratava. Achou que demorou muito em aparecer. Estava faltando ele, o nosso líder, nosso messias aqui neste hospício. Hei, hei, será o nosso Rei. Heil! Heil! ! Sieg, Heil! Heil! Heil Führer! Führer mein Führer! Anauê! Entoava as velhas saudações dos tempos em que era chamado de galinha verde. Será o nosso profeta. Fez as saudações costumeiras ao homem que passava, que respondeu de imediato esticando os braços e com um largo sorriso de aprovação. Passo depois para lhe dar um beijo, gritou para o homem do bigodinho e seguiu em frente em direção do gabinete do diretor.(Continua)

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