quarta-feira, 9 de abril de 2008

O Sapo vai a uma pelada.

Andava sumido, ninguém achava e as informações sobre o seu paradeiro, eram todas trocadas, ou mudadas ao sabor do vento... Uns diziam que ele estava em um dos aposentos do Palacete, outros mais afoitos espalhavam que foi para o mato caçar borboletas e mariposas. Um cabrito aposentado que estava à toa na vida, sentado no meio fio, apontou berrando: Foi para aquele lado, dobrou a esquina. Um esquilo que se gloriava de saber de tudo na comunidade e da vida do palacete, garantiu que o Sapo estava vendo uma pelada no aterro.
Uma pelada no aterro!
Deus do céu! O Sapo não tem jeito, comentou a Lia Saúva, falando ao celular enquanto caminhava com uma amiga. Minha amiga soube através de Lu Marmota, amiga de muitos anos, que tem um caso de muito tempo com um assessor do alto escalão do governo, confidenciou no meio daquelas horas, sem saber muito bem do que diz, você me entende, falou bem baixinho em seu ouvido que o Sapo sem dar bola pra ninguém foi ver uma pelada. Imagine! Fiquei horrorizada. Um absurdo! Resmungou a Lia Saúva pegando o filho pelo braço, Uma vergonha!
Sapo é casado com a Loura Perereca, de papel passado, deveria se dar ao respeito. Um alto dirigente da comunidade, não deve e não pode ficar exposto deste jeito. Onde se viu? Continuava falando, daqui a pouco, na certa vai ficar envolvido pelos escândalos sexuais, igualzinhos aqueles da nação amiga, onde até uma estagiária fez aquilo, que não ouso dizer o nome, com o mandante daquela nação, que só pode ser de selvagens.
Praticam o sexo selvagem! Que Deus me proteja destas coisas. Vai ser o caos se acontecer em nossa comunidade.
O celular do Sapo estava desligado, tentava pela vigésima vez falar com o companheiro. Desistiu, mas conseguiu falar com Bode Ludovico, fazendo o interromper uma reunião muito importante que estava realizando em volta de uma mesa de botão. Como era para a comadre, atendeu. Pererequinha, não fica preocupada minha linda, você sabe que o nosso companheiro, em determinadas horas, precisa de uma folga. Foi com muita luta que conseguiu uma folga, depois de cancelar vários compromissos internacionais.
A Voz da Floresta ansiosa por notícias continua fazendo das suas contra o nosso mandato, nunca aceitaram que o povo assumisse o poder. Não aceitam que a comunidade esteja crescendo a todo vapor, abrindo mais o comércio com as nações amigas. Pererequinha como você sabe, vendemos tudo, só não vendemos a mãe.
Estamos com falta de transportes, continuou a contar, os feitos do governo, as carroças estão lotadas, devido a tanta encomenda, que chegamos ao ponto de entregar todas de bandeja.
Lindinha, você sabe mais do que ninguém que o nosso Sapo, é um trabalhador, um operário mesmo, muito dedicado ao comando da nação, ao seu povo, aos amigos dos amigos, que querem como você sabe que dispute o terceiro mandato.Não tem pra ninguém.
Vamos deixar o bando de tucanos dando bicadas a torto e a direito, quer dizer sempre bicando com a direita, criando fantasmas de golpe. Sei que você está pensando agora, que os amigos falam uma coisa aqui, outra ali, que acaba irritando o nosso comandante que para dar uma basta nesta situação ameaçou romper com o partido. Vai ter para o nosso desgosto que romper com a massa de animais famintos por mais uma eleição e uma boquinha. Pelo andar dar carruagem, o trajeto pode ser mudado.
Sem muito interesse pelo papo do Bode, pois estava preocupada com o paradeiro do Sapo, seu companheiro. Pediu para a secretária telefonar para os irmãos e nenhum deles sabia, onde estava o Sapo. O mais novo chegou a insinuar que ele foi com urgência fazer uma viagem internacional, visitar a ilhota, desejava saber mais sobre a sucessão, como o irmão do homem do charuto, estava se comportando.
Queria pegar a receita para ficar tantos anos no poder como o Comandante, se tivesse de fumar charuto, fumaria sem nenhum problema.
Horas e mais horas sem dar notícias, no entanto, por volta de dez da noite, toca à campainha, o Sapo havia esquecido a chave. Cumprimenta a rã que lhe abre a porta. Assim que chegou, interrompeu a conversa e desligou o telefone. Sem graça, mas fazendo graça.
Isto são horas? Insistiu na pergunta, por mais duas vezes, sua companheira de muitos anos. Suado muito suado, com o suor escorrendo, beijou a Perereca na testa. Sapo doido para tomar uma sauna, entrou se despindo, ia espalhando as meias, o calção, a cueca, jogando o tênis debaixo da cama, a camiseta em cima do sofá, o boné em uma cadeira, e a Perereca ia atrás recolhendo as roupas e reclamando. Onde você estava que não consegui achar, disse encarando para o companheiro, telefonei para os amigos e os amigos dos seus amigos, seus secretários e nada, ninguém sabia.
Pererequinha, você está tão linda, falou o Sapo de modo carinhoso, colocando a cabeça para o lado de fora do chuveiro. Não me chame de Pererequinha, nem de Tchutchuquinha, quero saber onde estava. Onde estava já disse. Estava lá, assistindo o desenrolar de uma partida. Fingindo de surdo, não respondia as outras perguntas. No fim, depois de um tempo e de uma tosse, contou, um pouco sem graça.
Quer saber, fui ver uma pelada no aterro, que acabei sendo convidado para entrar. A pelada estava rolando, um jogo bem disputado, como houve um acordo de ultima hora para haver prorrogação, acabei para atender os pedidos insistentes do povo que assistia e dos antigos companheiros do sindicato que não tive outra escolha senão aceitar a prorrogação, mas sugeri que poderia haver substituição, bastava olhar para as cadeiras. Sou favorável, está em minha formação democrática a dança das cadeiras. Lembra Pererequinha. quando conversávamos de bobeira, comendo moscas e olhando para a lua, em frente ao sindicato? Não vou responder. Quero saber com quem estava? Estava onde o povo está. Vim do povo e ao povo voltarei de braços dados. O povo na arquibancada, assobiava, gritava delirante, o time saiu com vitória, com o placar de três a zero, os gols foram feitos por mim, mesmo que o ultimo como alegou um tucano engravatado que nem pagou ingresso, sem ser convidado para partida, achou que eu entrava em total impedimento, no final das contas, acontece, fazer o quê?
Com tudo isto, o meu povo, aplaudiu freneticamente, que acabaram por pendurar em uma frondosa árvore uma faixa, em letras garrafais, avisando: em time que está ganhando não se mexe. Enrolou na conversa com a Pererequinha, não contou que a sua amiga estava presente ao jogo.
Em uma cadeira muito especial, como espectadora, a Mula Manca acenou sorridente e mandou beijinhos para o companheiro, aguardou o final da pelada, para comentar com um papagaio que estava ao lado, puxa eles quiseram mesmo a prorrogação.



Boris Vallejo - Nasceu em Lima, em 8 de janeiro de 1941. Muito interessante é a página do artista















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