sexta-feira, 16 de novembro de 2007

A Folga do Sapo Barbudo - Ficção animal

















De madrugada o galo cantou, a galinha cacarejou, o pinto piou na Granja do Palácio. O sol começou a tomar conta do palácio. O sapo recolhido em seus aposentos despertou logo, abriu um olho, esfregou o nariz, esticou pernas e braços. O relógio cuco da suíte presidencial sinalizou quatro horas da manhã. Agora com os dois abertos, estampou um sorriso que há muito tempo não fazia. Deu dois tapas na perereca que dormia a sono solto ao seu lado, e a empurrou para fora da cama. Estatelada ao chão em uma posição desconfortável ficou sem entender a tamanha alegria do Sapo, que pulava e fazia acrobacias com se jovem fosse.

Dali fez um convite para a pererequinha, sua companheira, para abrir as pernas e fazer exercícios de alongamentos. Ande, levante! Um, dois, três, quatro comida no prato, cantava a perereca empolgada, seguindo o sapo em seus exercícios. Cansados de tanto exercícios de malhação, ficaram muito exaustos caindo um pra cada lado.

De um pulo só, o sapo mandou a perereca se lavar, queria hoje aproveitar o momento de lazer, de folga. Avisou aos filhos, aos numerosos irmãos e outros agregados, que havia um recado para ser lido no quadro negro que recomendava passear no bosque, enquanto o lobo bobo não aparecia.

Foi saltitante em direção da piscina, deu mergulhos, boiou e nadou. Deixou a perereca tomando sol e foi passear nos jardins do palácio com o seu auxiliar direto, o bode Ludovico, que exalava um odor não muito agradável, pois também malhou muito nos morros em torno do palácio e não deu tempo de tomar banho. Para atender ao pedido do amigo, foi deste jeito, suando bastante, nem o cavanhaque pode aparar.

O sapo foi logo avisando que não queria saber de nada, pois nada queria fazer. Fez um convite para o bode, se queria jogar bola de gude, no que foi recusado de imediato, alegou que estava com tendinite. De cabra-cega foi outra proposta, mais uma recusada. Pensou em outra, que tal de barquinho a beira da lagoa, perguntou entusiasmado. Podemos pular corda, seria muito bom, lembraria do tempo em que fui militante do sindicato. Putz! Sapo esquece esta vida de sindicalista, agora e espero para sempre ficarmos no bem bom, deixando a vida nos levar.

Pelo que entendi o companheiro bode está se deliciando com a vida, vamos dizer assim e que ninguém nos ouça, uma vida burguesa. O bode sorriu maroto. Verdade que chegamos bode, enfim ao paraíso. Não é mais uma ficção daquele italiano, Elio Petri que dirigiu aquele filme que assistimos uma vez no salão do sindicato, lembra que a mula do Didi levou para passar no sindicato. Acho que o personagem tinha o nome de Lula ou Lulu, não lembro bem, era um metalúrgico igual ao meu primo por parte de pai, que perdeu um dedo em um acidente de trabalho. Esquece sapo, o passado serve apenas para museu e colecionador. Meu carrinho de rolimã feito por mim ainda garoto, acabei de emprestar a vizinha lagartixa.

Que tal uma disputa de cara ou coroa? Quem ganhar pode correr em volta do gramado, ficar aquecendo para uma partida de futebol. Vai nessa? Uma boa idéia, embora não seja uma 51. Estou pensando em fazer uma viagem na próxima semana, destas inesquecíveis, a perereca vai adorar. Vou liberar meu cartão e os milhões da conta para atender minha adorável perereca em suas despesas, com o vestuário intimo. Desta vez espero que compre uma coleção de sapatos, das maiores grifes européias e latino-americanas. Afinal como bem disse o outro líder, sou um magnata e não fica bem minha perereca andar maltrapilha, esculachada.

Montarei com sua ajuda uma grande comitiva. Comprarei um novo avião, dispensarei pela urgência e da extrema necessidade qualquer licitação, não suporto estes tramites burocráticos deixarei de viajar nas asas da Borboleta Air, ultrapassada, sem autonomia de vôo. Trocarei por um Airbus LILS Espacial. Agora sim vão dizer que vivo no mundo da lua.

Aqueles que estiverem interessados em viajar, que façam filas, pois terão que comer em minhas mãos limpas. As avestruzes como exercem cargos de confiança, poderão obter o maior numero de convites. Papagaios, periquitos e maritacas estão garantidos em suas cotas. Há espaços reservados para as renas, os alces e veadinhos catingueiros e seus respectivos acompanhantes. Macacos pregos, micos, chimpanzés podem ficar espalhados no interior da aeronave. Carneiros, ovelhas, cabritos estão convidados. Corujas e gaivotas sindicalizadas e representantes de suas respectivas categorias, ganharam passe livre para viajar. Os cães farejadores montarão a segurança. Porcos, urubus e ratos foram contemplados nesta viagem. Os amigos da onça fiquem a vontade. As últimas poltronas estão disponibilizadas para os tucanos. O bode Ludovico puxou o sapo pelo braço, escuta sapo, onde estão os burros nesta comitiva, afinal eles são importantes, fazem parte do povo. Então bode, mande avisar este povo burro, para aguardar o retorno da minha viajem ao redor do mundo em oitenta dias.




*Amadeu de Sousa Cardoso - Artista português, nascido em Amarante, em 14 de novembro de 1887 e faleceu em Espinho, aos 38 anos, vitima de pneumonia. em 25 de outubro de 1918. Precursor da arte moderna em seu país. Recusava qualquer rótulo para indentificá-lo como impressionista, cubista, futurista ou mesmo expressionista. De familia rica, desistiu de estudar Direito para iniciar os estudos em um curso de Arquitetura na Academia de Belas Artes de Lisboa.

2 comentários:

Anônimo disse...

Hã, só agora sei deste blog...
mas tudo bem. :)
vc deve screver sim, mais e mais, sabe escrever, tem histórias para contar, e muitas.
Bjs Elianne

Anônimo disse...

Sim, provavelmente por isso e