quarta-feira, 21 de novembro de 2007

O Deus Brasileiro do Sapo: ficção animal


No final de semana o líder genial dos animais dos povos da floresta foi ao cinema. Ali, no escurinho do cinema, agarrado em sua perereca para assistir Deus é brasileiro. Muito atento ao filme o Sapo, deu apenas um beijinho carinhoso em sua perereca. Quis mostrar para os tucanos, que ele prestigiava a cultura nacional, assistia aos filmes, às diversas peças de teatro, aos shows; o que era verdadeiro, embora, algumas vezes negada, não gostava nenhum pouco de ler. Os poucos livros de sua biblioteca, eram os álbuns de figurinhas de artistas e jogadores. As figurinhas guardadas em uma caixinha, era as que ele jogava bafo-bafo, antes de ser eleito, na porta do sindicato com os amigos. Achava os livros muito chatos, enfadonhos, além disto, tinham muitas letras, muitas páginas e com a vista cansada, aí que não lia.

Estava ansioso para assistir aquele filme, pediu silencio a platéia. Durante a exibição do filme ficou convencido da existência dele, chegou por duas vezes, levantar da poltrona para de modo entusiasmado aplaudir freneticamente as cenas em que aparecia Deus. A perereca, companheira para todas as horas, solidária, dava o maior apoio para o parceiro, sorrindo e acenando para o público. Um pirilampo pendurado em um lustre fotografou a cena.

Sapo deu uma assobiada para chamar o seu auxiliar imediato, para cochichar ao pé de sua orelha, bem baixo para o bode Ludovico, que de imediato coçou a barbicha de tanta alegria. Confidenciou ao amigo que realmente tinha acabado de ver Deus. É verdade que tinha algumas dúvidas, mas foram dissipadas, depois de ter assistido ao filme, disse caminhando abraçado ao bode, dentro do gabinete.

Um dos farejadores que montava a segurança do palácio; descobriu através de complicadas investigações que um misterioso ser com aspectos de uma espécie de bicho e descrito por vários animais, veio realmente morar na Terra de Santa Cruz da Bicholândia, em um hotel de luxo à beira da estrada menos esburacada que liga por tortuosos caminhos a via principal de acesso ao palácio.

Na parte da tarde chegou esbaforido em seu gabinete para traçar alguns planos e projetos para receber o ilustre visitante. Temos de enfeitar com bandeirolas verde-amarelas, as avenidas, parques, vielas e pinguelas. Foi por uma questão de ordem, a ordem do dia. Decretaria feriado prolongado. Enviaria convites para os cientistas de terras distantes e próximas; para registrar o acontecimento de tal grandeza. Liberou geral para a mídia.

Finalmente tinha provado por A + B + C e D e por elaborados e confusos cálculos aritméticos, com auxilio da verdadeira prova dos nove fora, provas periciais e testemunhais, além do envio por e-mail foi confirmada a presença dele entre nós.

O Sapo a partir daí, ficou eufórico, muito feliz, mais que os muitos animais presentes no palácio, mais feliz do que pinto no lixo. A residência oficial do sapo estava em festa, muito iluminada.

No dia seguinte o palco estava armado, os holofotes posicionados para o brilho dos presentes, microfones testados, bancos e escadas arrumadas; caixotes envernizados, tudo pronto para a cerimônia de entrega do Medalhão de Cidadão das Terras de Santa Cruz da Bicholândia, uma honraria concedida aos amigos do palácio, realizada anualmente. Um grilo falante se posicionou para dar inicio a cerimônia.

O tumulto àquela hora era imenso. As focas frilas queriam furar o cordão de puxa-sacos que atrapalhavam os seus trabalhos, impedindo a imprensa ter livre trânsito nas dependências do palácio, para conseguir uma entrevista com o Sapo.Um coral de cobras, regido por uma cigarra, ensaiavam os últimos acordes do hino oficial.

O Sapo subiu com um pouco de dificuldade o palanque por estar com um pé enfaixado, devido a uma pancada que recebeu em jogo realizado na granja. Foi muito aplaudido ao aproximar-se dos microfones. Peço a atenção de todas as comunidades e um minuto precioso do tempo de vocês, para ficarem em pé em posição de sentido e em silêncio.

Atenção! Atenção! Aqui o povo animal é muito feliz! Graças ao bom Deus, posso afirmar:

- Ao Povo animal que votou em mim e os que não votaram também, tenho a honra e o orgulho de anunciar a confirmação da existência de Deus! Deus existe e está morando entre nós. Cada povo deste planeta diz que Deus pertence a eles. É uma deslavada mentira. Deus é nosso e ninguém tasca! É interrompido por uma salva de palmas e um foguetório.

Deus está aqui! Vi com estes olhos que a terra há de comer! Deus é Dez!

Deus é brasileiro e com ele não há quem possa.

Viva, Deus! Viva! Viva!

Deus é brasileiro! Ninguém pode negar!

Deus é brasileiro, deste modo, repetido ao som do hino, inúmeras vezes.

Deus é brasileiro! Meninos sapecas, eu vi! Meninas sapecas, eu vi! Delirava o sapo, com a boca espumando, desmaiado conduzido por uma junta médica.

Macacos do lado de fora davam uma banana para o Sapo, ainda vaiavam o líder popular, acredite quem quiser.

A noticia espalhada, informava que sapo acabou internado com um grave distúrbio nervoso e por alguns dias ficará de licença médica. Um louva-deus acabava de pousar na janela do quarto do Sapo. Moradores e visitantes do palácio, ainda ouviram o ultimo coaxar. Deus! É ele! Deus é brasileiro! Está ali do lado de fora.

Ps: A imagem do sapo em exposição no blog foi encontrada aqui

Um comentário:

Lia Noronha disse...

Wilton: o bom humor...faz da sua histórias algo sempre dinâmico.
Bjus mil!!!!