quinta-feira, 15 de novembro de 2007

Um Morador da Tijuca - sócio do América (Memórias)








Li ontem no Globoesporte.com que poderá no dia 22 deste mês, ser a decisão do América Futebol Clube para vender a sua sede, localizada à Rua Campos Sales, 118, na Tijuca, bairro da zona norte do Rio de Janeiro. A decisão é motivada pelo acúmulo de dividas contraídas pelo clube, a proposta é para transformá-lo em shopping. É pela segunda vez que o segmento de construção de shoppings fica atraído pelos espaços do clube.
O primeiro foi o seu antigo estádio, cujo nome, era uma homenagem ao antigo presidente do clube, Wolney Braune e posteriormente vendido tempos atrás para a construção do Shopping Iguatemi, em Vila Isabel, bairro também da zona norte de nossa cidade. Quando li a noticia de que a sede do clube teria possibilidade de ser vendida; bateu em mim, de imediato o tempo em que eu freqüentava o América Futebol Clube.
O América, cuja sede foi totalmente descaracterizada ao dividir o seu espaço com um conjunto de prédios residenciais, na parte onde ficava a antiga piscina. A piscina, ou melhor, o parque aquático ocupou o espaço onde era o gramado do estádio.
Não tenho envolvimento com o América enquanto torcedor, pois sou vascaíno, talvez possa com boa vontade ser incluído naquela suposta torcida de que o clube, é o segundo no coração da torcida carioca, deste modo, revelo minha simpatia pelo clube da Tijuca.
Não poderia ser diferente para o clube que eu freqüentava desde garoto, primeiro por morar em frente ao América, na Rua Campos Sales, 81. Fui sócio do clube pouco tempo depois que mudei para esta rua, no final do ano de 59, com 10 anos; mudei da Tijuca no inicio dos anos 70 e fui para a zona sul. Ainda como morador fui ver a queda de um vão do elevado Paulo de Frontin. Vivi muito dentro do América, ora reunido ao redor da piscina, do novo parque aquático, da recordação de um amigo que por brincadeira, ficou preso no ralo da piscina, afetou parte do braço e ombro, não esqueci que ele tinha o apelido de Touro. No campo de futebol, na arquibancada assistindo alguns jogos, assistindo arco e flecha. Brincando ou jogando nas quadras cobertas do ginásio do clube, na escolhinha de futebol de salão e de basquete. Do lanche oferecido aos “atletas”, ganhávamos um vale para ser consumido no bar do clube. Eu curtia beber Grapette, mas alternava com Caçulinha ou Crush.
O jogo de vôlei feminino era apreciado e muito comentado principalmente os saques e o desempenho das moças na quadra. Minha memória parece ser boa que lembro da cantora Doris Monteiro freqüentando a quadra do clube para assistir as atividades esportivas, acho que basquete. Do desfile da Portela que gravou definitivamente minha preferência pela escola de samba. Eu recusava escolher a Mangueira, que era preferida por alguns amigos. O América tinha várias quadras, também um salão social em que rolava os bailes e shows. Lembro de Barbosa, um senhor que chefiava a portaria do clube, quebrava nosso galho e deixava passar pela roleta, quando havia um ligeiro atraso na mensalidade do clube.
Também lembro de José Trajano, na época já era jornalista, pertencia ao nosso grupo e nos reuníamos na Praça Afonso Pena. Trajano grande torcedor do América e morava na Mariz e Barros, no edifico da Confeitaria Regina, esquina de Campos Sales, com Ibituruna. Eu transitava pelos diversos grupos de esquinas. Lembro de Pedro Paulo de Senna Madureira e seu irmão Nelson, Pedro Paulo não freqüentava muito o grupo e sim o irmão que me emprestava os livros da Editorial Vitória.
Haviam grupos politizados era com este grupo que eu mais identificava; grupo alienado, um grupo que se interessava por carros, havia de tudo. Por volta de 66/67 deixei de freqüentar o clube, passei a entender a minha realidade de outra maneira. Minhas leituras foram modificadas e passei a ser leitor também da editora Civilização Brasileira que publicava os livros que me interessava, das minhas visitas às feiras do livro, principalmente as que foram realizadas na Saens Peña, passava pela livraria Eldorado Tijuca, na galeria da Conde de Bonfim, 422 e depois na Entrelivos, localizada na Carlos de Vasconcelos, era a minha rotina no bairro. Lembro dos bonde, os seus números e de alguns ônibus.
Não comemorei, mas fiquei contente quando o clube sagrou-se campeão carioca em 1960. Lembro de alguns jogadores, principalmente do meio-campo Amaro que passou a morar com a família no mesmo prédio em que eu morava. Via os jogadores indo para a concentração em uma casa na Gonçalves Crespo, vizinha ao clube. Lembro da figura do presidente do clube, Wolney Braune. Lembro também do símbolo do Quarto Centenário da Cidade gravado na parte lateral do clube, aliás, havia uma boa extensão a área do clube, ocupava todo um quarteirão, que compreendia as ruas Campos Sales, Gonçalves Crespo e Martins Pena.
Eu estava sempre ali, conheci os amigos e amigas, freqüentei os bailes, as orquestras, conjuntos, desfile de fantasias. Não me interessava por praia. O clube tinha intensa atividade social. Pra mim o América respirava vida, alegria e prazer. De minhas tentativas em jogar boliche assim que foi montado no andar de cima da entrada social, fiquei convencido que o mais certo seria desistir de jogar e foi o que eu fiz. Criamos blocos e a cada ano escolhíamos uma fantasia para sair; reuníamos muita gente em nosso grupo, como Zezé Polessa e as irmãs; não lembro bem se José Gomes Temporão participava deste grupo carnavalesco. Assisti muito nos finais de semana ensaios do Bloco Bafo da Onça, com o cantor Oswaldo Nunes. Lembro das músicas que finalizavam os bailes de carnaval, cantávamos o hino da cidade e do América.
Nesta época havia algumas briguinhas em finais de bailes ou eram por disputas entre colégios, como alguém do Colégio Militar ou Pedro II ou de ruas, o pessoal da Rua Professor Gabiso, , com o da Campos Sales, ou Afonso Pena, algumas delas envolvidas por namoradas. Nesta minha fase de Tijuca, o América, o Instituto de Educação, o Orsina da Fonseca, o Instituto Lafayette, o curso Diplomados e a Praça Afonso Pena, marcaram e registraram muito minha passagem como tijucano.





































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