segunda-feira, 26 de novembro de 2007

O Desfile da Perereca - Ficção Animal

Um amigo da onça espalhou que a companheira de muitos anos do líder genial dos povos da floresta, faria um desfile, para angariar donativos para um dos fundos perdidos do partido. A imprensa escrita, falada e mal falada, estavam eufóricas dando tudo para a melhor cobertura, o melhor ângulo em busca de novos anunciantes e leitores. Cartazes e retratos da perereca foram espalhados pelos postes e viadutos nas imediações do palácio. Todos os passantes paravam para apreciar a perereca, admirar sua beleza e o último vestido de grife, comprado na principal galeria da cidade das luzes, seus sapatos feitos em couro de jacaré, assim como a sua bolsa, tudo da melhor qualidade e vindos do exterior foram utilizados para as fotos.

Na roda dos apreciadores da beleza e simpatia da perereca houve uma pequena discussão para saber se o couro da bolsa e do sapato era de jacaré ou crocodilo. As opiniões estavam divididas, uma gata entendida em modas, dona da Maison Couro de Gato instalada no lado norte da Avenida do Palácio, freqüentado por animais endinheirados miou para quem quisesse ouvir, era realmente um genuíno Alligatoridae; um alce dono da butique Alce Sempre Feliz, localizada na distante periferia, muito freqüentado por todas as espécies de animais enriquecidos com vitaminas ou não, garantiu de pés juntos, era uma verdadeira Crocodylidae, uma fêmea, habitante do sudoeste das margens dos rios da República dos Animais. O alce era o idealizador da estética da periferia. O clima esquentou que por pouco não chegam às vias de fato.

A festa anunciada em nota oficial foi realizada nos Jardins do Palácio, todo ornamentado, para agradar a gregos e troianos, em um sábado. Um dos maiores colunistas da Voz da Floresta, em uma notinha, destacava que a perereca da vizinha que estava presa na gaiola conseguiu fugir para assistir ao desfile da comadre. Um pavão misterioso apareceu no evento promovido pela perereca, ninguém sabia quem era, mas conseguiu entrar sem muita dificuldade. Uma tribo de girinos foi dar a maior força para a tia na passarela. Um pequeno grupo de passarinhas magrinhas do movimento socialista da baixada, de maria-chiquinhas no cabelo, corriam atrás dos canarinhos cantores, eram fãs do vocalista.

Um esperto abelhudo que sobrevoava a festa, para saber das novidades espalhou aos quatro ventos, insinuando que o Pavão, era um alto representante da classe dirigente de uma república vizinha, que apontou o Sapo, como um verdadeiro magnata. O cardeal não pode comparecer mandou uma rolinha como seu representante, as potrancas negras vieram com um grupo de turistas. O tucano Nando apareceu com o filho. Um enorme grupo de caramujos africanos vindos da zona oeste compareceu ao evento para prestigiar a dona Perereca; um casal de porquinhos da Índia; duas tartarugas que chegavam animadas, vestidas de ninjas, ficaram embaixo da passarela. Porcos skatistas insistiam em descer a passarela e a rampa do Palácio. Um gavião olhava atento o ambiente.

Era início da festa, na passarela armada, uma piranha engraçou-se com o bode, chegou a puxar a sua barbicha quando caminhava ao se deslocar para o salão nobre em companhia da cabrita, conduzindo uma sacola para recolher os donativos. Entardecia, o dinheiro rolava nas sacolas, o Sapo era informado do montante. Toda vez que aumentava os donativos, o Sapo pulava e espirrava ao mesmo tempo em que uma coceira inoportuna na sola dos pés o deixava muito inquieto.

Leões de chácara estavam a postos, vigilantes pediam credenciais para quem chegasse perto do portão. Leão Marinho e Lobo Guará os mestres de cerimônias esquentavam a garganta tomando um goró, para dar início à transmissão do evento. Um bando de alucinados pernilongos beliscavam as orelhas dos peles grossas, o hipopótamo abocanhou pelo menos uma dezena de muriçocas e outros insetos Uma delegação de tigres asiáticos com intento de fazer negócios, baixou na área reservada.

Pontualmente às quinze horas e dois minutos, é anunciada a presença da perereca, muito risonha. Inicia o desfile num megapalco. Antes de entrar milhares de fãs, adoradores de perereca, começam uma salva de palmas. Agradecia e acenava para a multidão de animais que circulavam naquele espaço.

Perereca Maravilhosa, Linda! Divina!

Perereca Gostosa!

Perereca Cheirosa! Linda!

Que lábios, miou uma gatinha dengosa, um show com este batom vermelho berrante, comentou com a porquinha e uma cabritinha sentadas em um tronco de árvore. Para esta apresentação a perereca gastou toda a merreca que o Sapo lhe dava a cada quinze dias, com uma lipoaspiração, depilação, natação, malhação e saltos em corrimão.

Uma nova perereca estava surgindo diante dos olhos dos animais. Seu rosto tinha recebido uma aplicação de colágeno, na medida em que desfilava saltitando, as vacas babavam próximas à passarela com a nova silhueta da perereca. A perereca nunca teve medo de ser feliz, comentou a vaca louca, que nutria maior babação pelos anfíbios. O buchicho rolava solto. A primeira dama desfilava exibindo um corte de cabelo assimétrico, mas um espírito de porco notou que os quadris estavam marcadíssimos e era sem duvida uma das atrações do desfile.

No lugar reservado para as autoridades do governo, não mediram esforços, foram distribuídos: chá verde, chá de cogumelo, farelo de trigo, capim limão, florais, biscoitinhos e pizza. Um camelo fotografou as bolsas e o vestido para mostrar aos amigos, que comercializam novidades nas bancas dos ambulantes do bairro central do Palácio. O jabuti maior controlador de bancas de importados da praça da República sempre com exclusividade, gosta de receber em primeira mão. O bode estava ao lado, recolhendo mais patacas, disse para alguém que havia espaço bastante em sua cueca para continuar recebendo donativos.Não parem! Não parem de recolher.

Um lince em companhia com uma onça pintada, percebeu que a meia que a Perereca usava, uma meia furada, mas não comprometia a coleção de verão, poderia continuar desfilando. Um gato preto com coleiras douradas assoviou quando a perereca passou por ele. Trajando um casaqunho verde menta, um amarelo suco de laranja, uma calçola muito justa com destaque para o verde da mata. Atrás da perereca, vinha a forte presença de macaquinhos, aliás, aplaudidíssimos, e o grupo da moda Coruja Folk.

Final do dia houve por bem contabilizar os altos ganhos, em patacas. Chamado o Sapo, preferiu arrumar uma desculpa, dizendo que tinha dado uma saída para catar algumas moscas e voltava mais tarde. O macaco chinês pendurado em um galho, disse que quebrava no momento outros galhos para o partido. A zebra, secretaria e militante sindical pelos princípios do centralismo democrático decidiu que a tarefa de contabilizar a grana, era dela na ausência de dois ou três companheiros da direção partidária.

Ninguém duvidava do sucesso, com lucro alcançado vendendo inclusive rifas e bingos. De uma hora para outra o tempo fechou, uma nuvem negra estacionou no espaço presidencial, as folhas das árvores balançaram, uma torrencial chuva inundou parte do gramado da residência oficial do Sapo. A multidão presente dispersa tomou o rumo de casa.

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