terça-feira, 27 de novembro de 2007

O Passeio do Leão Léo - Ficção Animal








O Leão Léo, fugiu do circo e da receita. Cansado desta vida, resolveu a bel prazer, dar uns bordejos pelos arredores do Palácio. Fazia calor, um sol a pino, véspera de feriado; caminhava todo contente, no entanto, parou encafifado diante de um ambulante que vendia mate. Olha o mate! Mate Leão! Mate Leão! Mate Limão! Um pouco surdo, por causa da idade, surpreendeu-se com o vendedor que gritava, esbravejava: Mate! Mate! Mate! Pensou em rugir bem alto, para mostrar com quem ele estava falando. O vendedor teria de parar de gritar Mate Leão! Afinal, ele estava diante do Rei da Selva, é do conhecimento de todos, que lá na selva, eu sou o Rei. Sou o Rei e ponto final.

Aqui, não tenho tanta certeza. Como pensar, morre apenas um burro. Léo pensou e acreditou piamente que ainda continuava a ser o Rei, pois, estava na Selva da Cidade. Uma selva de pedra, como costumava dizer para os amigos ursos. Depois, de muito matutar, filosofar, concluiu que o ambulante, não falava diretamente com ele. E seguiu a sua longa caminhada pela cidade. Animais e pessoas quando encontravam com ele, fingiam que não existia, que era um leão de pelúcia, tamanho GG.
Mais adiante, ao atravessar a quadra, conheceu dois garotos, um chamado Ramom, o outro de nome Ricardo.Escutou Ramom pedir ao avô, para comprar um mate: - Vô, compra um mate Leão ? O avô comprou, pagando dois copos. Léo ficou assustado, mas não ameaçou o garoto. Ramom, inicialmente ficou apavorado ao ver aquela fera a dois palmos do seu nariz. Léo gostou tanto dele que queria dar uma lambida, um abraço no garoto, desistiu, pensando que poderia ficar com medo. A sede de Ramom era tanta, que ao tomar o mate, matou a sede. Léo imitou aquele pinguinho de gente, pediu um natural e o outro de limão. Meu neto pode ficar tranqüilo, senta que o leão é manso. Léo deu duas rugidas, despediu do garoto e foi em frente na sua caminhada. Olhou para o céu e os monumentos, os prédios enormes e gradeados, lembrou do tempo em que ficava enjaulado; estradas esburacadas, viadutos mal conservados. Não deu muita bola para aquele lago diante do palácio, apenas olhou sua imagem no espelho d`água. Ajeitou a juba e foi em frente. Passou por um velho conhecido, leão-de-chácara e cumprimentou efusivamente. Saudações Leoninas!


Andava distraído , quando cruzou em seu caminho uma camaleoa, com uma pele um pouco enrugada, talvez por ficar muito tempo ao sol e de rabo grande. Léo fingiu que não viu, olhou de canto do olho, atravessou a quadra. Disse para si, um bonito rabo. Perto de um poste, ouviu dois homens, um em pé e o outro sentado, sem nenhuma cerimônia, falavam para cercar o leão pelos lados. Ouviu e não gostou, por pouco, não mostrou as garras para eles. Como faz o seu caminho ao caminhar, resolveu dobrar a esquerda. Passou uma grande dificuldade, acho que era a idade, bastava dar uma virada. Maior flexibilidade. O jeito foi mudar de posição, mas o suficiente para ver uma leoa com os filhotes, em uma imensa fila no posto de atendimento médico. Observou em silêncio e prosseguiu a caminhada.

Brincava ao sol com os seus irmãos, um leãozinho. Gosto muito de te ver leãozinho, um filhote de leão no meu caminho. Gosto de te ver ao sol leãozinho. Que juventude, com a sua juba em pé, saltitante, mostrando as garras. O mico leão dourado quando me viu passar, tirou o chapéu e fez grandes elogios, lembrou de minhas atuações no circo, como acrobata. Na verdade, o circo estava cheio de palhaços, muitos me faziam ficar em situação periclitante, trabalhar em dobro sem receber um vintém por isso. Os palhaços sempre tinham dinheiro e todas as facilidades. Eu que fazia a alegria da garotada, vivia na maior pindaíba, sem osso e sem pataca. Por pouco não morria a mingua. Deixei o respeitável público na platéia, que estava lotada, todos animados, gostavam do espetáculo circense, a comunidade de animais, sem muita diversão, precisava de pão e circo. Eu de rua.


Leu em uma banca de jornal, em destaque, que o Leão ia atacar os seus próximos adversários: um urubu, uma macaca, um porco, um peixe e traçar um suculento bacalhau. Antes o Leão, de peito estufado, tinha dito que papou um gavião e um jacaré. Na verdade, nunca experimentei este variado farnel. Leão mais esquisito, para mim, basta aquele meu primo lá do norte. Por falar em parentes, lembro de um bem distante, que fez bastante sucesso nas telas de cinema. Coitado, desde 1928, que pegou um trabalho extra na MGM; entrava em cena, para dar uns rugidos e nada mais, adornado por um circulo, com as palavras esquisitas: Ars Gratia Artis, que segundo me falaram, quer dizer: Arte pela Arte.


A Republica dos Bichos mudou muito, uma confusão de posição, na hora do rush, você, nem sabe se vai pela esquerda ou se encontra mais adiante uma via pela direita, ou dá uma parada pelo centro. São tantas setas, que confundem. Saí daquele circo, estava saturado de tanto palhaço chegando sem parar, todos enriquecidos com sais minerais. Cada um, mais engraçado do que o outro. Anões malabaristas circulam pelo circo, candidatos ao picadeiro. O espetáculo não podia parar.

Respeitável público! Queremos informar que todo dia, é dia de show, para aqueles que desejarem saborear uma suntuosa pizza, favor entrar na fila. Calma Excelência! Quero também o meu pedaço.


Outro dia, antes de entrar no picadeiro, falei para o amigo urso, o meu ex-domador, um careca chato, barrigudo, diga-se de passagem, falava com o Mágico de Oz, sobre o dvd Born Free, o filme narra à vida de Elsa, uma leoa órfã, trazida da selva africana. Lembrei do filme exibido nos anos 60 e da canção premiada do filme. Gostei tanto, que cheguei a ficar apaixonado por Elsa. Só em lembrar as lágrimas percorrem a minha cara. Uma linda música. Das poucas vezes que fui ao cinema, outro filme que assisti, com dificuldades e dobrando a língua para falar que era “The Lion King” do leão Mufasa e do filhote Simba. Cheguei a dançar ao tocar a trilha, enquanto assistia ao filme. No escurinho do cinema, eu paquerava uma tigresa que comia pipocas, estava em companhia de um senhor leopardo, tava na cara que era um turista. A tigresa tinha um corpinho de uma gata selvagem, unhas negras e íris cor de mel.

Estava ficando tarde, tinha de retornar para casa, antes de Léa, virar uma onça. Andei muito pela cidade, fiquei com alguns calos, escutei boatos, barulhos e até tiros eu ouvi. Bati em retirada, muito apressado. Até com os amigos da onça, cheguei a conversar, bebericamos garrafas de jurubeba no boteco da Tia Coruja. A cidade está um caos, um circo cheio de palhaços, que cada vez, aumenta mais. As luzes das cidades continuam acesas. Vejo, ao passar diante de um prédio, um embrulho no lixo embrulhado por um jornal da semana passada, com a seguinte manchete: Está desaparecido, destino ignorado, quem souber o paradeiro, favor avisar:

Bode Ludovico, figura proeminente da Republica dos Bichos, sumiu, ninguém sabe, ninguém viu. Logo ele, aquele Bode, que vivia no maior bode, com todas as mordomias. Líder do partido dos animais trabalhadores Estranho, muito estranho. Coloquei a minha juba de molho, a coisa aqui tá preta.Vou voltar para a Floresta.



Neste texto, foram inseridas passagens de duas músicas de Caetano Veloso: Leãozinho e Tigresa.

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