sábado, 17 de novembro de 2007

O Passeio do Bode Ludovico - Primeira Parte - Ficção animal







Bode Ludovico estava de licença, mas acordou disposto para sair disfarçado de cabra-macho, para butucar quem andava falando mal do Sapo. Na véspera comprou uma peruca ruiva, tingiu a barbicha de vermelho, calçou botas pretas,vestiu uma camisa amarela e saiu por aí. Os óculos escuros importado comprou na banca do jabuti. Imaginava, assim, que ninguém iria reconhecer, mesmo tendo a companhia da inseparável mala preta, grudada ao corpo. Com trânsito livre pelas cercanias do Palácio, continuou sua caminhada, apesar da hora. Atravessou a praça vazia, de um lado ao outro. Viu alguns gatos pingados e vira-latas dormindo nos bancos. Passou pelo compadre Francisco Orelana em conversa com a Graúna e a Onça Glorinha, que acabou por não reparar quem tinha acabado de passar por eles. Ufa! Que alívio, respirou Ludovico. Logo, o meu compadre. Olhou para o céu além das estrelas viu apenas, um solitário condor de mala e cuia indo em direção ao sul, certificou-se, de que não era uma araponga desgarrada. Caso contrário teria de reclamar com seu amigo e irmão camarada que estava sendo vigiado.
Acendeu um cachimbo, pois, bodes, às vezes, gostam de cachimbos. Cumprimentou uma raposa, que acabara de sair da toca. Enxotou um galo que na calçada, pedia alguns milhões para o leite dos pintinhos. Passou em frente da sede do sindicato dos condutores de carroça e viu do lado de fora, seu antigo companheiro Casé, o jacaré que anda em pé, também amigo do Novaes, lendo O Quiabo Comunista. Pelo visto não fazia nada, apenas lia.
Olhou para uma bonita perereca do brejo, que saltitava a sua frente e uma rebolativa gata siamesa, que ao lado de uma coelhinha, chamavam atenção dos passantes. Acabavam de sair de um baile funk, foram em direção ao terminal das carroças. Passaram por dois pangarés que estavam entretido em um conversa sem fim, que nem notaram as beldades passando, nem ligariam, quando conversam não costumam prestar atenção em outros animais.
Do outro lado da calçada, reconheceu o primo de Cândido Urubu, descendo de um Land Rover Defender, atrás dele, um ganso portando um laptop, acompanhava os seus passos; adentraram pela porta dos fundos da entidade de classe, que estava em completa escuridão. Abriram as janelas dos fundos, que dava para a igreja.
Ludovico, neste instante tivera a certeza de não ser reconhecido; o disfarce estava perfeito. Duas ratazanas passaram por ele, foram ex-seguranças de um dos maiores sindicatos da região, lançaram cobras e lagartos no ar, que ele ficou desconfiado ao escutar, o possível envolvimento do chefe da casa, quer dizer do partido. Ficou encafifado. Deixou de lado, tinha tarefas mais importantes para cumprir. Chegou à conclusão de não passar de insinuações pequeno-burguesas, daquele grupo de animais dissidentes, que gostam de ficar livres tomando ar fresco e sol.
Uma repentina tosse tomou conta de Ludovico, tossia sem parar. O espirro do bode, chegou a assustar uma barata tonta que transitava calmamente, em direção ao bar do Juaquim.
De longe, avistou o Sapo Barbudo, segurando um copo, perto de uma roda de samba, levando animado papo com uma cobra, assistente de um parlamentar do partido dos animais da selva. Um pouco mais atrás, embaixo de uma árvore, o famoso pintassilgo, ocupante de um alto cargo no governo do sapo, interrompeu o samba para cantar, pegou o violão: “Se eu quiser falar com” o Sapo, foi logo interrompido por longos e entusiasmados aplausos. Não teve nem condições de prosseguir cantando.
Silenciaram quando perceberam, assim que o dia clareou uma manifestação de grilos falantes, seguiam em passeata, tendo a frente, um elefante aposentado, três micos dourados, cinco camundongos e um veado-campeiro, distribuindo panfletos. Cães policiais estavam a postos, prontos para entrar em ação.
Algumas garças e diversas araras, estavam cantando uma música do Yuka em um carro de som “ a minha alma está armada e apontada a cara pro sossego, pois paz sem voz não é paz, é medo”
Ludovico quando assistiu aquela circense cena, caiu na gargalhada e não notou que Dom Ratón, antigo agente da Ilhota, passou por ele e o reconheceu.
Desde que assumiu o poder ao lado do sapo, que o bode ria à toa, o que muitos achavam que ele estava rico. Um mosquito que voava por lugares distantes, assoprou na orelha da abelha, que soube através de um marreco que namorava uma galinha poedeira que trabalhava na granja, que tinha certeza absoluta de que o irmão do bode, e ele eram os verdadeiros proprietários de uma rede de lanchonetes, localizadas no sertão, especializadas em vender sanduíches de carne de bode, buchada, leite de cabra e outras coisas.
Um dos sócios, que ninguém conhece, parece que foi o ganhador do concurso do cabrito maior. Uma velha raposa, jornalista nas horas vagas da revista Olha, descobriu, mas não tinha certeza, quem era o sócio incógnito, e dono de uma fortuna em dólares.
Balançar a pança, uma de suas características. Por sua longa experiência, Dom Ratón, percebeu que se tratava de um disfarce por demais conhecido. Não havia mais dúvidas, aquele estranho ser de peruca ruiva, pertencia ao mundo dos herbívoros ruminantes.

* O Bode estampado neste espaço, eu recolhi na internet, trata-se de um sósia do Bode Ludovico, personagem de meus contos. Como a "foto" do bode deu o maior bode, que acabei por optar pelo sósia.

Ps: O texto que publiquei foi apenas a primeira parte do conto, a segunda parte será publicada em próxima postagem.

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