terça-feira, 20 de novembro de 2007

A Revolta dos Porcos - Ficção animal












Muitos porcos ficaram revoltados interromperam o trânsito nas cercanias do Palácio do Sapo Barbudo. Liderados por um porco gordo, sindicalista portando um megafone que ia a frente da manifestação grunhindo irritado com a situação dos velhos chiqueiros localizados ao norte do Palácio e ao oeste da Terra de Santa Cruz da Bicholândia. Cinco focas presentes registravam em seus blocos o tamanho da porcalhada. Uma foca distraída avaliou a presença de muitos porcos, além disto foi testemunha ocular de que viu alguns deles com asas, estimava, segundo suas anotações em meia dúzia, que ela caracterizou como uns selvagens. São porcos mesmos, pela imundice que espalham pela avenida, registrou em seu bloco de papelão. Uma foca recém admitida no jornal avaliou que milhares de porcos tomam de assalto às avenidas, vielas e becos da proximidade do palácio. Fuçam tudo que vêem pela frente. Não liga não disse um leitão as focas são sempre imprecisas nas estatísticas, argumentava com uma porquinha durante a caminhada em prol das melhorias de vida dos porcos moradores na periferia do palácio. Era a primeira vez que participava de passeatas, estava muito empolgada. Fora com as mordomias! Bacorejou com estardalhaço.

O porco gordo militante pelo sindicato dos trabalhadores em lavagem, conseguiu trazer outros porcos para a manifestação pacifica e ordeira. Cansados de reclamar da inoperância do administrador do bairro, que o povo da cidade espalhava ser um gato gatuno, dono de imensa fortuna e experiente felino na arte de administrar a prefeitura. Um grupelho de gatos pingados miava dizendo, que ele rouba, mas faz. Isto é um serviço de porco, só pode ser um deles, miou uma gataça que passava pelo calçadão, sob os olhares dos passantes.

Queixavam os moradores, porcos ou não que cães policiais treinados em morder de modo raivoso, perseguiam os porcos trabalhadores; em vez de gatos e ratos que roubam nossa gente, nos assaltam em pleno dia. Estamos abandonados, entregues a própria sorte, jogados em nossos chiqueiros. Somos filhos de Deus, queremos que a limpeza pública faça o serviço, levando as tralhas que impedem as águas nos córregos e rios de chegar até as nossas bicas. Que apareça mais abelhas e formigas para a limpeza. Somos carentes em serviços de transporte público, a vez é das kombis e carroças luxuosas. Queremos carroças, triciclos, velocípedes a nossa disposição durante a noite. Abaixo com as lanchonetes que usam e abusam de nossas lingüiças sem pagar uma pataca sequer. Não queremos morrer a mingua. Não podemos viver na maior pindaíba. Queremos comprar comida para os nossos familiares. Não queremos mistura de farelos em nosso leite que comprometa com a saúde de nossos leitões. Está ouvindo sapo? A gente não quer só comida, nós porcos queremos comida, diversão e arte.

Onde está este Sapo que não vê o que acontece com o nosso povo? Deve estar viajando! Grunhiu um pequeno suíno carregando mochila e alguns livros. Um outro que roncava na beira da calçada, despertou e saiu em disparada carreira, muito assustado com o que estava vendo. Um dos lideres, primo do famoso Rabicó, tomou emprestado o microfone e clamou por novas melhorias. Abaixo esta porcaria de governo! Que nada faz para os porcos. Oferece para nós apenas pérolas. Acorda Sapo! Levanta, sacode a poeira e chegue-se aos bons! Onde está o seu passado de antigo líder operário do brejo? Que vá morar na Bahia de los Cochinos! Sapo enganador! Recomendava do alto de uma carroça do sindicato, dona porca e os seus três porquinhos! Um deles usando ainda uma chupeta. Queremos latas e mais latas de leite em pó!

A imprensa reclama que não gostamos de tomar banho, como tomar se não há água oxigenada em nossos chiqueiros e nas ruas de acesso. Água mineral é muito rara, pinga em algumas bicas, apenas em chiqueiros com ar condicionado. Nós que moramos no Morro Alto somos espoliados em nosso direito de tomar banho. Queremos vala limpa! Queremos vala limpa! Que levem a sujeira daqui! Queremos trabalhos para os suínos! Precisamos de hospitais limpos e não com esta sujeira, com os detritos espalhados pelos corredores. Abaixo com as mordomias que nos emporcalham. Fora com a bandidagem e com os gatunos. Onde está você Sapo que não responde aos nossos anseios. Onde está o nosso líder, senão escondido grudado na perereca com medo de nós, os porcos. Comentava o velho porco aposentado. Queremos salários e não migalhas ou pérolas que não valem nada. Cadeia para os fraudadores! Queremos torcer para o Verdão sem brigar com galos, raposas e urubus. Cadeia para os arruaceiros!

Que porcos não enfrentem filas para pegar senhas para ir ao veterinário. Melhor atendimento para os porcos idosos. Nossa lama é a nossa lama, nosso banho. Não queremos que ela se espalhe pelo Palácio e arredores do poder. Faça a reforma já! Porcos unidos, jamais serão vencidos! O chiqueiro é nosso! Queremos nossos leitões sem medo de atravessar as avenidas sem levar tiros no lombo. E ficar para lombinho ou bacon.

Depois de horas protestando, atrapalhando o trânsito os porcos tomaram o caminho de volta, cada um para o seu chiqueiro, cada um para a sua vala. Três porquinhos mais espertos do alto de um viaduto inacabado, cheio de infiltrações, perceberam que o sapo continuava grudado em sua perereca, mas com todas as luzes do palácio acesas.


* Gerardo de Sousa:
















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