sábado, 3 de novembro de 2007

A Gargalhada da Hiena: Uma história de ficção












O tigre de bengala estava sempre em grupinhos jogando conversa fora em pé, diante do Café e Bar do Juaquim. O ambiente descontraído do Juaquim era o ponto preferido de encontro dos diversos animais da Bicholândia. Por volta das oito da noite, surgem os primeiros grupos de animais. Dois gambás abraçados sempre bêbados acabavam de chegar. O mais velho naquele momento já trocava as pernas. Sentaram na primeira mesa vazia e começaram a chiar pela demora no atendimento. Um burro com ares de intelectual, desembrulhava um dicionário, distraído procurando palavras ficou encostado ao balcão. Uma mariposa, cansada de guerra, bebericava um drink. A hiena freguesa habitual tinha a sua mesa cativa, a última da esquerda em frente a um aparelho de televisão. Não perdia o telejornal da Floresta de jeito algum, confiava muito no noticiário apresentado pelo casal de avestruzes.

Contaram para a lontra que na sexta-feira, em um final de tarde a hiena por pouco não quebra um pau com um porco-espinho, que insistia em ficar em frente da televisão dançando com um copo na mão, atrapalhando sua visão. Precisou que um João-de-barro que estava de passagem, em companhia de um chupim, apartasse a briga.

João-de-barro e o chupim tinham voltado da delegacia após registrar queixa de uma coruja que invadiu a sua casa. Indignados com aquela invasão não tiveram outra escolha, senão a de fazer queixa da intrusa. Que piava bem alto, pra quem quisesse ouvir: daqui não saio daqui ninguém me tira. Sem nenhuma cerimônia a coruja, que há dias sobrevoava o local corujando, se apossou de uma casa no alto de um poste instalado em uma das vias esburacadas de acesso a Floresta do Reino da Bicholândia. De imediato correu a notícia do acontecido, acabando por chegar aos ouvidos da Fuinha, a vice-presidente do órgão de assistência advocatícia situado nas proximidades do palácio. Uma anta assistente parada atrás da porta ouviu e ficou muito interessada na causa que passou logo por tambor, relatando em detalhes de como uma anta calejada como ela, conhecedora de leis, inclusive das mais absurdas, ofereceria seus prestimosos serviços para entrar na justiça dos animais, com um pedido de reintegração de posse. A proposta não foi adiante, nem alegando que facilitaria o pagamento a perder de vista, em módicas parcelas que caberiam no bolso. Sem nenhuma pataca, João-de-barro não deu muita trela.

Na verdade tratava-se de Caburé, uma figura manjada, velho militante do movimento dos sem ninho (MSN) um conhecido de longa data de Honório, cão policial, delegado de plantão. O meliante tinha diversas passagens por invasão no bairro da Floresta e arredores. Ao entrar em cana houve uma ligeira resistência por parte de Caburé, negando de asas juntas, inocência. Irritado derrubou as lentes do cinegrafista e partiu para bicadas. Não adiantou foi direto pro xilindró, não sem antes de levar tapas em sua orelha e alguns cascudos. Restou ao casal retomar o imóvel.

Serenado os ânimos, o porco-espinho pediu uma porção de lingüiça para viagem e foi embora. Da porta do boteco, resmungando prometeu voltar para acertar as contas. Quando entrou acompanhado pela cutia, uma coelhinha. Silêncio no ambiente. Os que estavam em pé, os que estavam encostados no balcão, os animais das mesas, não resistiram danaram de assobiar. Um gavião fingindo que não viu a tremenda lebre, quer dizer a coelhinha, achou que bastava se aproximar que estaria no papo. Uma araponga martelava em seus ouvidos, que não era assim como o gavião guinchava, afinal estava acompanhada.

A hiena colada com os olhos e ouvidos na tela da televisão pediu silêncio e não foi respeitada em sua solicitação. O telejornal da Floresta estava pra começar. Uma das avestruzes cumprimentou o distinto e respeitável público. A hiena do outro lado respondeu com Boa Noite. Começavam a noticiar o desaparecimento do Bode Ludovico e do Sapo Barbudo. Fontes fidedignas de informação adiantaram para as focas, que por mais de duas horas que o Sapo não aparece na varanda, para fazer a habitual saudação aos animais. Em destaque, um dos apresentadores noticiava que o famoso Bode Ludovico, foi visto em direção a um lugar desconhecido, carregando a mala preta. Depois do intervalo, a noticia de que foram presos no final da tarde, um bando de babuínos moradores da parte sul da Floresta fazendo algazarra, quebrando lixeira, vasos e placas de ruas. Tucanos em festas, sorridentes aparecem na tela da tv. As avestruzes se despedem com tradicional Boa Noite. No bar sem ninguém entender, a hiena gargalhou por horas a fio. Cochichou no ouvido da borboleta: Nada muda neste reino, os mesmos sempre os mesmos. Voltou a gargalhar.

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Alex Vallauri
: (Imagem) Grafiteiro, Artista Plástico, Pintor, Gravador, Desenhista e Cenógrafo. Nasceu em Asmara, Etiópia no ano de 1949, de origem italiana, naturalizado brasileiro e faleceu em São Paulo, em 1987
Fonte de consulta: Itaú Cultural, A Rede

2 comentários:

Anônimo disse...

essa hitória e muito chata

Anônimo disse...

kkk so rindo